Um delegado da Polícia Civil que trabalhava em Muquém do São Francisco, cidade de 11 mil habitantes no Oeste da Bahia, acabou transferido para outro município depois de prender policiais militares que ele investigava e sofrer ameaças de morte.

Segundo a Polícia Civil, os PMs são suspeitos de homicídio num caso registrado como auto de resistência que resultou na morte de um suposto traficante em agosto de 2018.

O delegado Geraldo Sérgio Silva de Almeida iniciou as investigações e realizou reconstituições e reproduções simuladas do suposto crime, quando percebeu que os PMs estariam interferindo nas apurações e pediu a prisão dos mesmos, o que ocorreu no último dia 6 de fevereiro.

Os policiais presos são Erivelton Silva Pereira de Queiroz e Claudio Silva – este último, preso em Juazeiro, Norte baiano, para onde foi transferido pouco tempo depois do fato investigado pela Polícia Civil.

O policial Erivelton, por sua vez, foi preso em Ibotirama. Ambos estão detidos preventivamente nos batalhões da PM das respectivas cidades de atuação. A reportagem não localizou a defesa do policial Claudio Silva.

A advogada Ericarla Silva de Queiroz, que defende o PM Erivelton, disse que não tinha autorização do cliente para comentar sobre o assunto e ficou de se manifestar em outro momento. De acordo com a Polícia Civil, os policiais alegam legítima defesa no caso.

Ameaças
Depois da prisão, ainda de acordo com a Polícia Civil, o delegado relatou ter recebido ameaças anônimas de morte por meio das redes sociais e em seu telefone pessoal e, no dia 9 de fevereiro, foi transferido para a delegacia de Bom Jesus da Lapa.

A prisão dos policiais, ainda segundo a Polícia Civil, foi concedida pelo juiz da Vara Crime de Ibotirama Fábio Marx Saramago Pinheiro depois de parecer do Ministério Público da Bahia (MP-BA) analisando o pedido do delegado Geraldo.

Procurado, o MP-BA informou que “não se pronunciará, pois aguarda a conclusão do inquérito policial”, mas a Polícia Civil informou que a investigação já foi concluída e encaminhada para a Justiça.

O Correio tentou contato com o delegado Geraldo Sérgio Silva de Almeida, mas ele não atendeu as chamadas ao celular. Almeida era lotado na delegacia de Ibotirama, onde atuava desde 2017 e fazia plantões em Muquém do São Francisco.

O delegado Jackson Neves, coordenador da 24ª Coordenadoria de Polícia do Interior, sediada em Bom Jesus da Lapa, confirmou os relatos de ameaça do delegado, “mas ainda não tem nada oficial”.

Sobre a transferência para outra unidade policial, Neves disse que o delegado Almeida já tinha feito o pedido antes de sofrer as ameaças, em 4 de janeiro de 2018. “Tenho um ofício dele que mostra isso”, afirmou o delegado.

“[O delegado] teve o entendimento de que os policiais em liberdade estavam atrapalhando as investigações, solicitou a prisão, o MP deu parecer favorável, o poder judiciário decretou. O inquérito já foi remetido à Justiça. Agora é com o MP e a Justiça, a polícia já fez a parte dela”, declarou o delegado Jackson Neves, coordenador da 24ª Coopin.

Sem respostas
Questionada sobre o assunto, a Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) não se manifestou, bem como a Polícia Militar da Bahia, segundo a qual as perguntas enviadas pelo CORREIO seriam respondias quando houvesse retorno da Corregedoria da PM.

Comandante da PM em Ibotirama, o capitão Josinaldo dos Santos Silva disse que os policiais presos têm condutas exemplares na corporação, mas não questionou a prisão em si. “Decisão judicial é para se cumprir, isso não se discute”, declarou.

“O problema foi como ocorreu a prisão do policial Erivelton, que foi detido e algemado pelo delegado, sendo que pelas prerrogativas do policial ele deveria ser preso pela PM, acompanhado da Civil, como ocorreu com a prisão de Claudio Silva em Juazeiro”, disse.

Segundo o capitão, havia um acordo com a Polícia Civil para que a prisão fosse realizada em conjunto entre as duas polícias. “Esse acordo foi descumprido, o delegado levou 12 policiais civis para prender um PM”, afirmou.

Com relação às ameaças de morte relatadas pelo delegado, o capitão Silva disse que para ele “isso é novidade”. “O delegado tem de apontar de onde saíram essas ameaças e denunciar quem as fez”, comentou.

“Quero destacar que a relação entre as polícias aqui na região sempre foi muito boa e queremos que fique assim sempre. Contudo, essa prisão do policial, da forma como ocorreu, gerou desconforto nos policiais”, acrescentou segundo o Correio da Bahia.