Agência Brasil

O governador do Rio, Wilson Witzel, durante a apresentação da expansão do programa Segurança Presente à Baixada Fluminense , em Nova Iguaçu, nesta sexta-feira, fez um comentário que causou polêmica. Ao falar sobre as imagens de homens fortemente armados transitando livremente pela Cidade de Deus, comunidade da Zona Oeste do Rio, o chefe do executivo estadual desabafou que em outros lugares do mundo haveria autorização para explodi-los.

— Na vida não tem atalho. É muito estudo, e muito trabalho. Agora, o vagabundo, aquele que é bandido, quer atalho. Aí, nós, que somos cidadãos, não vamos aceitar isso. A nossa Polícia Militar não quer matar, mas não podemos permitir cenas como aquela que nós vimos na Cidade de Deus. Se fosse com autorização da ONU, em outros lugares do mundo, nós teríamos autorização para mandar um míssil naquele local e explodir aquelas pessoas — afirmou e, em sequência, foi aplaudido pelos presentes. Em seguida, ele concluiu sua fala, e amenizou seu discurso.

— Nós estamos vivendo um estado de terrorismo, não no Estado do Rio como um todo, mas nas comunidades em que eles (traficantes) se infiltram. Não é a comunidade que faz o sujeito ser terrorista, porque lá na Cidade de Deus, lá na Rocinha, tem gente decente, que trabalha, que estuda. ‘Mentalidade autoritária e violenta’, diz parlamentar

Apesar da recepção do discurso entre as pessoas que estavam no evento, as palavras não foram bem aceitas, principalmente, por moradores da CDD. A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), deputada estadual Renata Souza (PSOL), repudiou a fala de Witzel.

— É preciso lembrar ao ex-juiz que, por lei, não temos pena de morte no Brasil, e ainda que tivéssemos, todos teriam direito a julgamento prévio. Precisamos lembrá-lo que estamos em um Estado Democrático de Direito e não de barbárie. Segurança pública se faz com estratégia, prevenção e inteligência, não com mísseis e execuções sumárias. A declaração do governador revela uma mentalidade autoritária e violenta que expressa, no fundo, o seu preconceito e total desprezo com a vida dos pobres que moram nas favelas do Rio de Janeiro — afirmou a parlamentar.

Fundadora do movimento cultural Poesia de Esquina, da Cidade de Deus, a antropóloga Viviane Salles, moradora da comunidade, diz que a fala de Witzel configura um escândalo, e destaca que não há precisão de alcance letal no disparo de um míssil numa área habitada.

— A declaração de Witzel fere a constitucionalidade, escancara a falta de formulação de políticas públicas adequadas para geração de oportunidades pra juventude das favelas e ameaça a vida dos moradores de um bairro inteiro, inclusive de seus próprios eleitores. Não se pode precisar o alcance letal de um míssel. Configura um escândalo na relação do governador com seus eleitores em situação de vulnerabilidade sócio-econômica e representa um gesto de violência por parte do Estado — disse.

Nas redes sociais, pessoas que também moram na comunidade se sentiram ofendidas e dispararam contra a fala do governador.

— Witzel, você diz que a solução é tacar um míssil na comunidade? Lá tem trabalhador, tem idoso, aposentado, tem bombeiros, policiais, todos crias da favela, que estudaram muito para chegar aonde estão — desabafou uma internauta.

Sobre a repercussão de sua fala, Witzel não se pronunciou pessoalmente, mas o Governo do Estado enviou uma nota:

“Em sua declaração, o governador Wilson Witzel comparou as ações bélicas dos narcoterroristas que atuam no Rio de Janeiro com conflitos armados que existem no mundo. Ainda em seu discurso, o governador ressaltou que o Rio vive um estado de terrorismo dentro das comunidades, deixando milhares de famílias reféns da violência.

Sobre a expressão “aquelas pessoas”, o governador se referia aos bandidos que enfrentaram os policiais e atiravam por trás de um muro na Cidade de Deus. Em um conflito bélico, eles seriam alvo de míssil”. Informações do O Globo