Uma pesquisa realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), a pedido da farmacêutica Pfizer, revelou um paradoxo da pós-pandemia na Bahia e no Brasil. Embora a maior parte da população (86%) acredite na importância dos imunizantes contra a covid-19, 75% dos baianos só completariam o esquema vacinal caso uma nova onda surgisse.
O problema dessa percepção é que as chances de surgimento de novas ondas são maiores conforme menos pessoas se imunizam. Isso porque quando o vírus está em circulação, a probabilidade de novas variantes aparecerem cresce.
“O surgimento de novas variantes é o principal temor que os brasileiros têm em relação a covid-19. Por isso, é importante conscientizar as pessoas sobre a importância de o esquema vacinal completo estar em dia, já que essa é a maneira de evitar novas ondas”, afirmou Adriana Polycarpo Ribeiro, diretora médica da Pfizer no Brasil.
Um eventual “retorno da pandemia ou aumento do número de casos” seria a principal motivação que levaria a atualização do cartão vacinal dos baianos (15%), seguido de “ter tempo disponível” (14%) ou uma situação de “obrigatoriedade” (15%).
As informações foram reveladas pela pesquisa ‘Covid-19 hoje: por que a população não vacinada ainda hesita em se proteger?’. O CORREIO foi convidado para participar da divulgação dos dados que aconteceu na quinta-feira (7), em São Paulo.
Para o médico Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e técnico assessor do Ministério da Saúde, o nível de percepção de risco da covid-19 diminuiu entre a população.
“No momento em que a taxa de óbitos estava muito grande no Brasil, a percepção individual de risco da população era altíssima e as pessoas se vacinaram […] O problema é que após o êxito das vacinas, a população perdeu o medo e as vacinas foram vítimas do seu próprio sucesso”, pontua o infectologista.
Durante os momentos mais duros da pandemia, a escritora Luana Minho Rabelo, 24, tomava todos os cuidados necessários: máscara, álcool em gel e isolamento social. A proteção foi tanta que ela diz que não foi infectada até novembro deste ano. “Eu fiquei resfriada, com a garganta doendo e o nariz entupido. Tinha saído com duas amigas na semana anterior e as duas testaram positivo”, conta.
Luana, além de não tomar mais os cuidados do início da pandemia, assim como boa parte da população, estava com o esquema vacinal incompleto. A escritora tomou quatro doses da vacina, mas não se imunizou com a bivalente. “Eu nem fiquei sabendo, meus pais e meus irmãos tomaram porque estavam de mudança para Portugal e era obrigatório, mas eu não”, diz.
De acordo com o vacinômetro da Secretaria de Saúde de Salvador (SMS), apenas 535.519 pessoas se imunizaram com a vacina bivalente na capital baiana. O número representa 20% do total de pessoas que tomaram a primeira dose, que ultrapassa a marca de 2,567 milhões na cidade.
Já na Bahia, apenas 14,2% pessoas tomaram a bivalente, de acordo com a Secretaria do Estadual de Saúde (Sesab). A pasta foi questionada sobre quantas pessoas estão com o calendário vacinal incompleto, mas não respondeu.
Na quarta-feira (6), o Ministério da Saúde emitiu uma nota em que recomenda uma nova dose da vacina bivalente ainda neste ano para pessoas com 60 anos ou mais e imunocomprometidos acima de 12 anos. Para isso, é preciso que a pessoa tenha recebido a última dose do imunizante há mais de seis meses. Correio da Bahia