(Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Uenderson Barbosa, 30 anos, estava dormindo quando o telefone começou a vibrar. Ele despertou e meio atônito leu no identificador de chamadas ‘Ivan Paiva’, o coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Salvador, onde Uenderson trabalha como médico.

“Eu pensei ‘vixe! Dr. Ivan me ligando, será que é bronca?’, mas quando eu atendi ele disse que tinha me selecionado para ser o primeiro médico do Samu a tomar a vacina contra a covid, e perguntou se eu aceitava. Eu respondi que com certeza. ‘Inclusive, se a vacina já estiver aí, agora, meu braço também já está disponível’. Ele riu”, contou.

Uenderson foi um dos quatro felizardos que conseguiram se imunizar contra a pandemia que já deixou mais de 210 mil mortos no Brasil, e cerca de 10 mil na Bahia. Natural de Periperi, bairro do Subúrbio Ferroviário de Salvador, ele é formado em medicina pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) há dois anos, e desde então atua no Samu.

Uenderson guardou a seringa de lembrança (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Ginecologista de formação, ele trabalhou no Hospital Couto Maia depois da pandemia, e também é professor de biologia da rede estadual. Uenderson é o filho do meio de três irmãos. Ele contou que não ficou nervoso na hora de receber a vacina e pediu que as pessoas se protejam . “A única forma de se prevenir é realizar a imunização, tanto para essa como para quaisquer outras doenças”, afirmou.

Primeirinha
O médico Uenderson pode ter ficado feliz, mas o título de primeira baiana imunizada contra o novo coronavírus é da enfermeira Maria Angélica de Carvalho, 53 anos. Ela também estava em casa quando recebeu a ligação, por volta das 16h, nesta segunda-feira (18). A diretora do Hospital Couto Maia, Ceuci Nunes, onde Maria Angélica trabalha foi quem ligou para dar a notícia de que ela havia sido escolhida.

“Na hora eu tive uma taquicardia. Não sabia se sorria ou se chorava pela emoção desse momento que é muito importante para humanidade, para todos os baianos e para os profissionais de saúde. É muito difícil trabalhar em algo que você ama e saber que você pode ser um vetor e contaminar alguém que você ama. Essa sensação de ajuda e de angustia ao mesmo tempo convive com o profissional de saúde 24h”, contou.

Maria Angélica atua há 27 anos como enfermeira e trabalha na linha de frente (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Maria Angélica trabalhou na linha de frente do combate a covid no Instituto Couto Maia e no Hospital da Cidade. Formada pela Universidade Federal da Bahia, ela é pós-graduada em Terapia Intensiva pela Escola de Enfermagem, onde já foi professora substitua, e é enfermeira intensivista há 27 anos.

Ela atuou nas Obras Sociais Irmã Dulce, e nos Hospitais Espanhol, Agenor Paiva, Salvador, da Cidade e, atualmente, trabalha no Instituto Couto Maia. Natural do bairro da Federação, Maria Angélica tem três irmãos. O pai dela foi encanador e funcionário público do estado, e a mãe era costureira.

“Me sinto muito honrada. A Vacina não faz adoecer, ela vai preparar o seu organismo para que seu sistema imunológico se fortaleça e você não desenvolva a forma grave nem moderada da covid. Leiam, não deem ouvido nem atenção a propagandas que depreciam o sistema de imunização. Foram muitas pessoas que trabalharam, que perderam noites estudando para criar esse benefício para a gente”, disse, com os olhos marejados.

Dona Lícia, 86 anos, contou que estava anciosa (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Alegria
A emoção de Maria Angélica só foi superada pela alegria de dona Lícia Pereira Santos, 86 anos. Ela é assistida pelas Obras Sociais Irmã Dulce desde 2014, quando entrou na unidade para fazer um tratamento de reabilitação motora, mas acabou ficando como moradora na unidade. A idosa era somente sorrisos nessa manhã na hora de receber a vacina.

“Estou muito feliz. Eu tive uma alegria muito grande com o convite para participar da vacinação e representar os idosos. Estava pedindo a Deus que chegasse logo de manhã para receber a vacina”, contou. Ela foi a segunda pessoa a receber o imunizante. A primeira foi Maria Angélica, o terceiro foi o médico Uenderson Barbosa, e a quarta foi a representante dos povos indígenas Deysianne Tuxá. Ela é enfermeira e faz parte do distrito sanitário de saúde indígena. O convite, assim como nos outros três casos, veio na véspera da vacinação.

A enfermeira Deysianne Tuxá representou os povos indígenas (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Vestida com as roupas que representam a comunidade da qual ela é originária, no norte da Bahia, ela recebeu a vacina das mãos do secretário estadual de Saúde, que também é médico, Fábio Vilas-boas. “Fiquei muito feliz pela oportunidade e pelo privilégio de estar participando desse momento histórico. Ansiosa também, mas muito feliz. Estou aqui representando os 22 povos indígenas da Bahia e os mais de 30 mil indígenas”, contou.

A vacinação começou por volta das 7h, nesta terça-feira (19), na sede das Obras Sociais Irmã Dulce, na Cidade Baixa. No total, 21 mil pessoas serão imunizadas nessa primeira etapa. A prioridade é para idosos que vivem em instituições de longa permanência, como asilos e outros abrigos, e profissionais de saúde. Uma nova remessa da vacina coronavac é aguardada para as próximas semanas. (Correio da Bahia)