(Foto: Marina Silva/ CORREIO)

Na tentativa de não mexer com a tradição, o empresário Marcus Brito, não abriu mão de pagar R$ 8 pelo quilo do arroz branco, mas teve que reduzir a porção no melhor combo do mês de setembro, que leva junto o caruru e o vatapá. “Já são oito anos que faço cerca de 50 quentinhas de caruru e distribuo.

Com o arroz chegando a esse preço, vamos ter que diminuir a porção. Porém, vamos manter esse item fundamental”, afirma. O consumo regrado vale também dentro de casa. “Cozinhávamos arroz diariamente. Agora, toda sobra é congelada, não perdemos mais um grão”, completa Brito.

Não foi só o arroz que provocou mudanças na mesa do consumidor. De acordo com um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese-BA), a pedido do CORREIO, além do grão, que registrou um aumento de 22,50%, o tomate alcançou 40,26% de alta nos preços médios, seguido da banana com 30,39%. Na cesta com os cinco itens que ficaram mais caros este ano, tem ainda o óleo de soja (23,38%) e a carne bovina (18,97%).

“No caso da banana e do tomate, a alta não está relacionada a uma questão de conjuntura, mas de produção. No entanto, o arroz, o óleo de soja e a carne estão ligados à exportação e valorização do dólar”, explica a supervisora técnica regional do Dieese-BA, Ana Georgina Dias.

Ela destaca ainda como fatores para a alta, o abandono da política de estoques reguladores e a redução de área plantada de produtos. “O governo tem deixado de comprar os excessos de produção e colocar esse estoque para regular preço. Além disso, nós temos observado a redução da área plantada de alimentos como feijão e arroz, perdendo espaço para produtos do agronegócio exportador como o milho e a soja”, analisa.

E dá mesmo para substituir? A resposta é sim. Especialistas em nutrição montaram um cardápio de opções alternativas a cada um destes produtos, nesse momento em que os gastos com o supermercado não dão trégua para o orçamento (confira abaixo).

Ah, e nem tudo se resume a comer mais macarrão. Há frutas, leguminosas, tubérculos e  proteínas animais e vegetais, como indica o coordenador do curso de Gastronomia e Nutrição da UniRuy, Anderson Carvalho.

“A substituição reducionista pode ser um problema e agravar doenças, como hipertensão e diabetes, se a substituição da combinação imbatível do arroz e feijão for por um macarrão instantâneo”, avisa. “No arroz e no feijão encontramos o ferro, zinco, magnésio, potássio e fósforo. Não podemos perder esses micronutrientes. O ideal é investir na variedade nutricional”, explica.

Novos hábitos
Cada um vai dando seu jeitinho, como a dona de casa, Ivany Soares. A frequência da lentilha na mesa passou a ser maior. “Um dia arroz, no outro, lentilha. Faço uma farofinha também e assim vou levando. Estou usando uma quantidade menor daqueles produtos que estão com o preço alto”.

Já o designer  gráfico Salomão Alves, tem apelado para o cuscuz. “Não fiz nenhuma troca  drástica, mas com o aumento das coisas,  compro o que está em conta e estoco. Um bom exemplo é o cuscuz”.

Para doutora em Antropologia com estudos em Alimentação e professora da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Fabiana Paixão Viana, no final das contas, as medidas de redução ou substituição de alimentos são momentâneas, como aconteceu em outros momentos de crise.

“Apesar de sermos onívoros, ou seja, capazes de comer todos os tipos de alimentos, somos limitados, consciente e/ou inconscientemente, a partir da cultura. Ainda que possamos comer de uma ampla variedade de alimentos, a combinação feijão com arroz, farinha e alguma carne está presente em grande parte das mesas brasileiras, com poucas variações. Arroz e feijão não perdem seu posto”, comenta.

A auxiliar em operação logística, Laura Batista passou a comprar em feira livre, a granel, o feijão, arroz e a farinha que antes adquiria no supermercado. “Sai mais barato e eu posso comprar porções menores por semana. Aumentamos o nosso consumo de itens que podem ser comprados na feira, como raízes e frutas”, diz.

Ninguém se recuperou ainda do baque com o arroz, que chegou a ter a venda limitada por alguns supermercados da cidade. Porém, o coordenador da Pesquisa de Preços ao Consumidor da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI/BA), Denilson Lima, alerta que o consumidor pode ir se preparando para a pressão que deve vir por aí  no preço do leite, visto que a elevação do valor da soja vai se refletir  no custo do insumo (farelo de soja) que serve de ração na alimentação animal.

“A estimativa é que a China deve comprar toda a oleaginosa ofertada pelo Brasil até 2023, isso porque os chineses estão com deficit de produção dessa commoditie. O Brasil é um dos grandes players de exportação do produto e isso, consequentemente, vai interferir na demanda para o mercado interno”, ressalta Lima.

CINCO ALIMENTOS COM MAIOR VARIAÇÃO DE PREÇO NO ACUMULADO DO ANO, SEGUNDO O DIEESE

1. Tomate (40,26%)

Por que subiu O tomate sofre forte oscilação de preço, basicamente, por ser um produto bastante perecível como explica a supervisora Técnica Regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE-BA), Ana Georgina Dias. “O tomate acaba sempre acumulando grandes altas ou grandes quedas, basicamente pela natureza. Há uma grande dificuldade de ter estoque, o que condiciona a oferta a produção daquele momento. Qualquer problema nesta oferta, acaba impactando o valor”.

(Foto: Marina Silva/ CORREIO)

Substitutos Abóbora, melancia, caqui, goiaba.

Por que são opções A nutricionista do Sistema Hapvida, Geilma Rocha, explica que estes alimentos com coloração entre amarelo e vermelho também possuem licopeno, substância antioxidante que ajuda a proteger as células e a combater os radicais livres. “A substituição pode ser feita, sem perder este nutriente que está fortemente presente no tomate, lembrando que qualquer troca deve levar em consideração a quantidade igual ou maior de vitaminas e minerais”.

2. Banana (30,39%)

Por que subiu Ainda segundo a supervisora Técnica Regional do DIEESE-BA, Ana Georgina Dias, a banana é um alimento que tem o mesmo comportamento do tomate com relação aos motivos que impactam no aumento do preço. “A banana também é um alimento altamente perecível difícil de estocar. Estima-se que 30% da banana produzida é perdida durante o transporte. Por isso o preço é tão oscilante, muito mais por uma questão de produção do que de conjuntura, no sentido econômico. Ou seja, uma oferta excessiva ou menor, acabam tendo um impacto no preço”, analisa.

(Foto: Marina Silva/ CORREIO)

Substitutos beterraba, aveia, abacate, batata doce e algumas folhas como espinafre e couve.

Por que são opções São alimentos ricos em potássio, mineral importante, principalmente, para o fortalecimento dos ossos, como reforça a nutricionista e professora de Saúde Coletiva, Mayara Ferreira. “A banana é uma fruta famosa pela quantidade de potássio, então, podemos sim pensar em substituir por outros alimentos que também uma quantidade interessante deste mineral”.

3. Óleo de soja (23,38%)

Por que subiu Nesse caso, o motivo está não necessariamente no óleo, mas na soja, um produto que sofre bastante interferência das exportações. “Tradicionalmente o Brasil já tem uma história de exportação grande de soja. Em momentos onde se tem um preço pelo produto elevado no mercado internacional ou um dólar valorizado em relação ao real, como o que a gente está vivendo agora, isso acaba tendo um efeito muito mais estimulante para o produtor exportar do que vender ao mercado interno”, afirma Georgina Dias.

(Foto: Shutterstock)

Substitutos óleo de coco, óleo de linhaça, óleo de amendoim e azeite de oliva.

Por que são opções A nutricionista do Itaigara Memorial Clínica da Dor, Rita de Cássia Costa, aponta o óleo de coco, linhaça, amendoim e o azeite como alternativas do ponto de vista nutritivo, porém, chama atenção com relação ao preço destes itens. “O consumidor pode não só buscar marcas com valores mais acessíveis, como também usar um pouco de água para refogar os alimentos, ao invés do óleo”.

4. Arroz (22,50%)

Por que subiu O motivo que levou o aumento do preço do arroz foi uma questão bem inusitada, como destaca Ana Georgina, do Dieese-BA. “O arroz tradicionalmente é um produto produzido mais para o mercado interno. No entanto, o que tem acontecido é que vários países produtores e exportadores estão com uma oferta menor para exportação, a exemplo do Vietnã. É como se ficasse como uma lacuna de oferta e aí, nesse momento, os produtores de arroz do Brasil tem preferido exportar ao invés de vender para o mercado nacional”.

(Foto: Marina Silva/ CORREIO)

Substitutos Alimentos do mesmo grupo como milho, trigo (farinha, massas), aveia, centeio e também a troca por tubérculos, entre eles o aipim, inhame e batata.

Por que são opções A nutricionista e professora de Saúde Coletiva, Mayara Ferreira, admite que a substituição do arroz pode parecer difícil, mas dá uma dica: “Adicione ao arroz, abobrinha, chuchu, cenoura ralada e/ou demais vegetais, a fim de conferir mais volume ao prato, e com isso, reduzir a quantidade de arroz da preparação. Os tubérculos podem funcionar também como uma alternativa de revezamento”.

5. Carne bovina (18,97%)

Por que subiu A carne é mais um item que sofre forte pressão do mercado de exportações e do dólar. “Esse movimento significa que nós temos uma oferta reduzida no mercado interno por conta das vendas externas, o que encarece o preço da carne. Não é à toa que a gente vê o sucesso do carro do ovo. O valor sobe e o consumidor logo substitui por uma proteína mais barata”, pontua Ana Georgina Dias.

(Foto: Marina Silva/ CORREIO)

Substitutos Frango, peixes e ovos representam apenas algumas possibilidades de troca. Cogumelos, grão de bico, lentilha e todos os feijões, estão entre as proteínas vegetais que também podem substituir a carne bovina.

Por que são opções Para a nutricionista do Itaigara Memorial Clínica da Dor, Rita de Cássia Costa, sempre há alternativas, até mesmo para quem não consegue abrir mão totalmente da carne bovina: “para quem não dispensa a carne bovina, um conselho é buscar cortes bovinos mais baratos como acém e músculo, o que não pode é deixar de manter uma dieta equilibrada”, afirma.

ALGUNS ‘SUPERALIMENTOS’ MAIS NUTRITIVOS DO QUE SE IMAGINA

Cranberry Possui três vezes mais vitamina C que a laranja.

Farinha de banana verde É rica em potássio, fósforo, cálcio, sódio, magnésio, vitamina A, vitamina C e complexo B, nutrientes que são mais bem aproveitados pelo organismo antes da maturação da fruta.

Coco É considerado um superalimento e possui propriedades semelhantes ao leite materno.

Quinoa Possui alto teor de proteínas e aminoácidos essenciais, rico em vitamina e é fonte de diversos minerais.

Amêndoas Alguns especialistas consideram a amêndoa como o alimento mais próximo do equilíbrio nutricional perfeito, no que diz respeito ao potencial em oferecer todos os nutrientes essenciais para o corpo humano.

Sardinha O peixe fresco tem mais cálcio  que um copo de 100 ml de leite.

Cogumelos Cerca de 100 g de cogumelos  frescos  tem a mesma quantidade de proteína que 100 g de carne vermelha.

Cebolinha É uma das maiores fontes de vitamina K, cobre, fosforo e magnésio.

Batata doce Principalmente a de polpa alaranjada, possui um alto teor de betacaroteno, fonte de vitamina A.

Gengibre Alta quantidade de antioxidantes, que ajudam no combate aos radicais livres. Informações do Correio da Bahia