Foto: Divulgação / PR

Assessores do presidente Jair Bolsonaro observam com preocupação os desdobramentos da eleição americana, em caso de derrota de Donald Trump, e avaliam, nos bastidores, reflexos para a reeleição de Jair Bolsonaro em 2022. Para políticos ouvidos pelo blog, Bolsonaro sempre copiou o estilo do americano — partidário de confrontos, inimigos imaginários e teorias da conspiração, além de uma atuação combativa e agressiva nas redes sociais, alvo de críticas em Brasília.

Na avaliação de interlocutores do presidente brasileiro, o governo precisa fazer uma “reflexão” em caso de derrota de Trump. Eles defendem um Bolsonaro cada vez mais pragmático, moderado na política para buscar a reeleição, e distante do chamado grupo ideológico. Bolsonaro, para sobreviver politicamente, já havia adotado o pragmatismo nos últimos meses e está cada vez mais aliado ao Centrão e ao que chamava de velha política.

Nesta quinta-feira (5), por exemplo, esteve em Alagoas e fez elogios ao ex-presidente Fernando Collor, que sofreu impeachment nos anos 90, além de apoiar publicamente Artur Lira, um dos expoentes do Centrão. Ambos são réus por corrupção no Supremo Tribunal Federal. Além disso, o governo Bolsonaro também observa atentamente as eleições municipais no Brasil e a dificuldade de candidatos apoiados por ele alavancarem nas pesquisas — pelo contrário.

Por isso, também há uma defesa no governo de que Bolsonaro seja pragmático para o segundo turno e apoie candidatos que evitem a vitória de adversários políticos. No caso de SP e RJ, por exemplo, governistas querem que Bolsonaro apoie Eduardo Paes (DEM) se Martha Rocha (PDT) for para o segundo turno, para impedir o partido de Ciro Gomes (PDT) de vencer a eleição na capital fluminense. Enquanto em São Paulo, se Bruno Covas (PSDB) for contra Marcio França (PSB), Bolsonaro poderia apoiá-lo para derrotar Doria, do mesmo partido que Covas.

Portanto, não há constrangimentos para o Planalto em abandonar cada vez mais o discurso feito em 2018, de que Bolsonaro seria o candidato contra a velha política, de que não negociava com partidos políticos — e de que estava longe de partidos considerados fisiológicos, como siglas do Centrão. O problema da estratégia de aliados de Bolsonaro, na verdade, é convencê-lo a se afastar do chamado núcleo ideológico.

Motivo: dois de seus filhos — Carlos e Eduardo — são os principais entusiastas do chamado grupo ideológico, e cobram gestos do presidente aos apoiadores “raiz”. Por exemplo, no mesmo dia em que se reuniu com a velha política (pragmático), Bolsonaro acenou para os ideológicos ao levantar a bandeira de mudança no sistema eleitoral brasileiro, influenciado pela postura de Trump.

Na visão de assessores políticos, a saída para “equilibrar “esses acenos daqui para frente seria o presidente mexer em peças como ministros ideológicos (como Salles e Ernesto), sinalizando uma disposição de diálogo com os EUA. Mas admitem que isso só deve — se ocorrer — em janeiro, porém afirmam que está sendo discutido, principalmente no caso do Meio Ambiente.

Também admitem que Trump foi avaliado pela gestão ruim durante a pandemia — e respiram aliviados que a eleição presidencial no Brasil só ocorrerá em dois anos, pois acreditam que a forma como Bolsonaro lida com a pandemia, minimizando a crise, pesaria mais na reeleição se fosse agora. (Por Andréia Sadi/G1)