O vídeo e a demissão de Roberto Alvim na última sexta-feira (17) fala muito sobre a sociedade brasileira e não apenas sobre o agora ex-secretário nacional de Cultura. Há algum tempo, uma parte dos brasileiros opta pelo silêncio sepucral quando ouvimos e vemos absurdos vindos daqueles que nutrimos simpatia. O calo só aperta quando esses discursos pisam nos próprios pés. E aí nasce um problema crônico, que estamos pouco preparados para lidar.

Alvim só foi demitido porque os limites ultrapassados por ele incomodaram mais do que as minorias, ultrajadas diariamente por membros do governo de Jair Bolsonaro. Quando houve a comparação de quilombolas com animais, o mesmo clube hebraica que exigiu a cabeça do ex-secretário riu. Esse é apenas um exemplo dentro os inúmeros já existentes desde o período pré-eleitoral de 2018. Mas até atingir um segmento social com certo poder, muito foi aceito, sob a justificativa de que tudo não passava de arroubos retóricos. Os elementos nazifascistas do ex-secretário de Cultura, não. Apenas expuseram algo já implícito.

Enquanto as primeiras manifestações contra Alvim começaram, o comportamento de Bolsonaro não foi diferente do esperado. Foi uma fala “infeliz” até mesmo no momento da demissão. Não. O discurso e as referências foram criminosas. E enquanto mantivermos esse posicionamento subserviente a atitudes abjetas, seremos um não povo, uma não nação. Seremos seres inertes diante de uma sociedade falida, apenas esperando o próximo impropério para reclamar e exigir compostura quando alguém próximo for atingido. Até não haver mais um próximo.

O presidente demorou a reagir porque, em um primeiro momento, não viu nada demais no que Alvim falou. Como também não viu problemas nas próprias falas que atacam o mínimo de civilização que ainda nos resta. Não é de agora que há insurgências quanto a isso. Ainda assim, há quem defenda que o silêncio é o melhor caminho. Diferente de quem pensa dessa forma, quero continuar sendo uma voz a denunciar tudo o que incomoda a mim, que incomoda aqueles que sei não ter voz, pois são silenciados involuntariamente todo o tempo. Esse é também o papel de um jornalista.

“Pelo amor de Deus, deixem o governo trabalhar”. Pelo amor de Deus, deixem o jornalismo trabalhar. Porque vem também dele um sopro de esperança de que não é em vão lutar por um Brasil justo, sério e brasileiro. Não esse arremedo de nacionalismo constrangedor alimentado por falsos heróis. Alvim vai tarde. Faltam muitos outros fascistas escondidos sob falsas máscaras de democratas. Pena que esse “limpeza ética” dependa de quem não consegue enxergar além do próprio umbigo – ou da própria classe de apoiadores cegos. Afinal, só a esquerda é um problema, não é mesmo? Por Fernando Duarte/Bahia Notícias