Foto: Caio Cesar/CMRJ

Jair Bolsonaro, do PSL, foi derrotado na eleição de 2020. Candidato a vereador em Laranjal do Jari (AP), Jair Sousa Silva se apresentou como Jair Bolsonaro na urna, recebeu 22 votos e ficou fora da Câmara Municipal da cidade. A situação é parecida com a de Jair Reis Bolsonaro, que disputou uma vaga de vereador em Maceió (AL), pelo PTB. Ele terminou a disputa com 39 votos. Os dois Jair são um exemplo de um fenômeno que se repetiu pelo Brasil.

Segundo dados do TSE, 83 pessoas em 24 estados registraram nomes de urna com o sobrenome Bolsonaro, mas algumas candidaturas acabaram indeferidas ou tiveram renúncia do candidato. Ao fim, 78 “Bolsonaros” sobraram na disputa – 3 candidatos a prefeito, 2 a vice-prefeito e 73 candidatos a vereador. O partido em que isso mais ocorreu foi o PSL, com 16 nomes, seguido pelo Patriota, com 10, e o Republicanos, com 8. Até um partido que faz oposição ao presidente no Congresso, o PDT, teve um Bolsonaro na disputa. Ele também não venceu.

O representante comercial Jair Reis nunca teve qualquer contato com o xará famoso, mas fez campanha pelo presidente da República em 2018. “Eu consegui virar muito voto a favor dele. As pessoas menos informadas, com menos cultura e educação, a gente conseguiu virar muito voto pra ele”, explica. Jair (o Reis) defende a pauta de costumes do presidente e viu como natural utilizar o nome na eleição. “Eu sempre fui defensor do presidente e das ideias. Nunca tive contato [com o presidente]. Foi uma situação que surgiu, o pessoal já chamava Bolsonaro pra cá, Bolsonaro pra lá, como no país todo. Como meu nome é Jair, aí eu emendei”, conta.

Sem contato

Em poucos casos, o presidente manifestou pessoalmente apoio a candidatos identificados com o sobrenome. Deilson Bolsonaro (Republicanos), em Boa Vista (RR), e Adilson Bolsonaro (PSD), de Santa Cruz do Capibaribe (PE), foram citados em transmissões do presidente. Eles estavam entre os 59 nomes para quem Bolsonaro pediu votos diretamente, mas ambos ficaram sem mandato. O mesmo aconteceu com Walderice Santos, ex-secretária parlamentar de Jair Bolsonaro. Ela ficou nacionalmente conhecida como “Wal do Açaí”, após ser apontada como funcionária fantasma do gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, mas incorporou o sobrenome do ex-chefe na urna.

Mesmo com o apoio do presidente, Wal recebeu apenas 266 votos e ficou fora da Câmara de Angra dos Reis (RJ). A maioria dos “Bolsonaros”, no entanto, disputou na mesma situação do Jair de Maceió, apoiando o presidente mesmo sem uma relação próxima ou apoio tácito. GargamelBolsonaro (PSL), de Brusque, foi um desses. Mesmo sem contato com o presidente, Antonio Carlos Widgenant juntou o sobrenome famoso a um apelido criado após um namoro na faculdade. Filiado ao PSL, ele diz que cogitou pedir ajuda ao presidente, mas “ele mesmo falou que evitaria dar apoio exceto a alguns amigos”.

Autointitulado “petista de direita”, ele diz já ter votado no ex-presidente Lula mas nunca se filiou ao Partido dos Trabalhadores. “O PT local nunca aceitou minha filiação pois eu defendia o respeito ao patrão e empresário”, diz ele. Em 2018, ele se alinhou ao presidente. Gargamel não declara nenhum gasto de campanha. “Gastei zero de fundo partidário, gastei zero de recurso próprio.”

E reclama da falta de apoio do partido, legenda pela qual Jair Bolsonaro foi eleito. Ao fim do processo, ele recebeu 152 votos e ficou sem mandato. Culpa da velha política, segundo ele. “O pior mesmo é uma comunidade que tem inveja da pessoa, que por ser a pessoa correta e honesta não vota nela”, argumenta, dizendo que houve compra de votos na cidade. Antonio quer migrar para o partido que Bolsonaro tenta criar desde 2019, o Aliança pelo Brasil. E já faz imagens pra candidatura a prefeito daqui a quatro anos – novamente como GargamelBolsonaro.

Filho reeleito

De todos os 78 “Bolsonaros”, o único vitorioso foi o filho do presidente, Carlos Bolsonaro. Ele recebeu mais apoio do pai na disputa, com recorrentes postagens em redes sociais pedindo votos. Disputando a reeleição para a Câmara do Rio, terminou com 71 mil votos. É bem menos do que os mais de 106 mil votos obtidos em 2016, mas ainda assim a segunda maior votação da disputa – Carlos ficou atrás apenas de Tarcísio Motta, do PSOL.

A mãe de Carlos, no entanto, não teve o mesmo sucesso. Ex-mulher do presidente, Rogéria Bolsonaro teve apenas 2.034 votos e não conseguiu um mandato. Em uma rede social, ela compartilhou um post: “É melhor atirar-se à luta em busca de dias melhores, mesmo correndo o risco de perder tudo, do que permanecer estático, como os pobres de espírito, que não lutam, mas também não vencem, que não conhecem a dor da derrota, nem a glória de ressurgir dos escombros”. A frase foi atribuída ao músico Bob Marley. Primos distantes do presidente também se saíram mal nas urnas. Procurado, o Palácio do Planalto não comenta o resultado. G1