Agência Brasil

Anunciado um plano mais claro de vacinação contra a Covid-19 no Brasil, com imunizantes produzidos pelo Instituto Butantan e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), agora viveremos uma batalha discursiva entre as lideranças políticas do país. O governador de São Paulo, João Doria, vai tentar capitalizar a Coronavac, porém o contrato para que todo estoque e produção sejam direcionados ao Ministério da Saúde deve limitar um pouco essa intenção. É aí que veremos quem vai vencer essa guerra sobre o controle narrativo da vacina mais esperada dos últimos anos.

O governo federal tem o poder de requisitar administrativamente o imunizante – ou mesmo pela via do contrato. E terá apoio dos demais governadores brasileiros, que discordam do excesso de protagonismo que Doria arvorou para si, ainda que o chefe do Executivo paulista tenha usado o marketing da “Vacina do Brasil”. E, por mais que tenha enrolado para aceitar a vacina do Butantan, é mais justo que todas as doses disponíveis integrem o Plano Nacional de Imunização e não apenas os planos megalomaníacos de um único gestor – há semelhanças entre os lados opostos desse embate.

A concentração do maior estoque disponível de vacina no governo federal vai enfraquecer o discurso daqueles que tentaram se antecipar nas negociações diretas com o Instituto Butantan. A guinada do prefeito de Salvador, Bruno Reis, indicando que agora vai aguardar a chegada do imunizante via Ministério da Saúde, é um exemplo claro de que esse recuo foi necessário para evitar ser “pego no contrapé”. Como não se sustentaria a história da aquisição direta, Bruno Reis preferiu recuar. Foi esperto.

Por mais que o esforço de quem anunciou a compra da Coronavac antes do aviso de Eduardo Pazuello parecesse de bom tom, quem conhece um pouco do jogo político consegue identificar quando nos deparamos com uma estratégia de comunicação e marketing. Da forma como se comporta o governo federal, a requisição de todas as doses disponíveis – quando estivessem disponíveis – era totalmente esperado. Até porque é preciso desconstruir toda a desastrada condução da crise do novo coronavírus.

A vacina é a derradeira alternativa para isso, mesmo que contradiga todo o discurso adotado até aqui. Mas coerência para quê, não é mesmo? Não nos enganemos. Não há inocentes nessa guerra simbólica que vivemos nos dias de hoje. O que importa, no final das contas, é termos alguma vacina disponível, mesmo que atrasados na comparação com o resto do mundo. (Por Fernando Duarte/Bahia Notícias)