O médium João de Deus, suspeito de abusar sexualmente de centenas de mulheres, é considerado foragido da Justiça pelo Ministério Público. Os investigadores afirmam que houve tentativa de ocultação de patrimônio do médium e que isso reforçou a necessidade da prisão preventiva do médium. O nome de João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, foi parar no Banco Nacional de Monitoramento de Prisão.

 

O sistema pode ser acessado por qualquer autoridade policial brasileira ou estrangeira, com ajuda da Interpol. Para o Ministério Público, João de Deus passou a ser considerado foragido na tarde de sábado (15) por não ter se apresentado após a ordem de prisão. A polícia já esteve em mais de 30 endereços, mas o médium não foi encontrado pelos investigadores.

 

A Secretaria de Segurança de Goiás não concorda com o termo “foragido”, porque o juiz não deu prazo para cumprir a prisão. O advogado de João de Deus, Alberto Toron, disse que o cliente pretendia se entregar, mas não disse quando: “Segunda-feira nós impetraremos a ordem de habeas corpus. Mas ele se entregará às autoridades policiais. Eu não posso revelar, por respeito a essas mesmas autoridades, o dia e hora em que isso ocorrerá”.

 

Além das denúncias de abuso sexual e estupro que chegaram até o Ministério Público e a Polícia Civil, os investigadores também descobriram que na quarta-feira (12), último dia em que João de Deus foi visto na casa Dom Inácio, em Abadiânia, houve movimentações suspeitas nas contas bancárias do médium. Segundo o jornal O Globo, João de Deus retirou R$ 35 milhões de suas contas.

 

A promotora Gabriela de Queiroz Clementino diz que o pedido de prisão foi motivado também pela suspeita de ocultação de patrimônio. “A gente já tem informações de que há providências do investigado buscando ocultar patrimônio. Esses fatos estão sendo apurados e todas as medidas cabíveis adequadas permitidas pela lei estão sendo tomadas pelo Ministério Público”, afirma. O Ministério Público de Goiás recebeu 335 denúncias: mulheres de 13 estados e do Distrito Federal e também de seis países.

 

Uma suíça que mora em Mato Grosso do Sul conta que sofreu abusos em 2008: “Eu nunca passei por uma situação dessa e fiquei muito constrangida com tudo, mas fiquei quieta por causa das 1.500 pessoas ao seu redor. Se eu for levantar o dedo e falar: ‘Escuta, ele fez isso comigo’, ele vai falar que não, porque não havia ninguém dentro daquele quarto que consiga provar que ele fez isso comigo de verdade. Era só eu mais ele e a porta fechada”.

Quem frequenta a casa onde João de Deus atendia comenta que nunca viu o local tão deserto como agora. “Me chama a atenção o contraste violento do que era e do que é. Vamos aguardar pra ver o que acontece”, afirma o arquiteto Hélcio de Freitas. Na festa onde todo fim de ano o médium costumava entregar presentes para crianças, o Papai Noel foi substituído neste sábado (15).

 

A casa, também em Abadiânia, é voltada para projetos sociais. O jornal “O Globo” postou um vídeo da mulher de João de Deus na festa de Natal. “Eu queria agradecer neste momento a todas as pessoas que aqui estão presentes. Muito obrigada”, disse na ocasião. O advogado de João de Deus disse que não tem conhecimento de movimentação financeira nas contas bancárias do cliente.