Foto: Thiago Pereira

Sem tempo a perder, o Vitória apresentou, na manhã desta sexta-feira, a sua nova aposta para a temporada. Anunciado como novo treinador do Vitória na última quinta, Geninho iniciou o trabalho no comando do time já na manhã desta sexta e, logo depois, em papo quase 40 minutos, concedeu a primeira entrevista coletiva ao lado do presidente Paulo Carneiro. A estreia dele será na próxima terça-feira, contra o Atlético-GO.

Quinto treinador do Vitória nesta temporada, Geninho é mais uma cartada da diretoria para evitar a queda do time para a Série C do Campeonato Brasileiro. Neste momento, o Rubro-Negro ocupa a 15ª posição da Série B, com 24 pontos, a um do primeiro clube no Z-4. Nas próximas semanas, o time vai enfrentar os três primeiros colocados da competição. Nas primeiras palavras, o treinador fez questão de não se colocar como “um salvador da pátria”.

“Eu chego realmente com o coração muito aberto, com uma expectativa muito boa de, mais uma vez, poder colaborar com o clube. Eu não chego como “salvador”. Chego como uma pessoa que veio tentar fazer um bom trabalho, tentar ajudar um grupo que eu acho que é um grupo bom, grupo de jogadores de qualidade. Até para fazer com que esse grupo renda o melhor possível, para que o Vitória possa, ao final dessa competição, estar num lugar onde o Vitória faz jus”, disse.

– O Vitória, pelo clube que é, pela camisa que tem, por tudo que conquistou, não é uma equipe para ficar brigando no meio de tabela. O Vitória tem que pensar coisas maiores. O momento exige que nós tenhamos pés no chão, que não nos deixemos levar por ilusões nem por planos muito altos no momento. O momento é de você dar tranquilidade ao clube, fazer voltar a vencer, somar pontos que vão ajudando na caminhada, tranquilidade para tentar alguma coisa maior, quem sabe, no começo da competição. Assim que eu venho. Venho com desafios, sempre me desafio. Você pegar o Vitória na situação em que está é um grande desafio.

– A responsabilidade de você comandar um clube do tamanho do Vitória é um desafio muito grande, porque tem uma torcida maravilhosa, imensa, apaixonada, que joga junto e que em um anseio muito grande de ver esse time bem. Então você tem um desafio muito grande de corresponder a essa expectativa, não decepcionar aquelas pessoas que acreditam que você possa, de repente, fazer um bom trabalho. Por isso encarei esse desafio. Mas não como salvador, porque não vou fazer nada sozinho, nunca fiz nada sozinho. Sempre trabalho junto com o grupo. É o grupo que faz o trabalho, que consegue os resultados. Planejo, não sou eu que executo. Tem que haver uma sintonia muito grande entre planejamento e execução, para que as coisas funcionem de uma maneira bastante ajustada para que os resultados venham. E é assim que a gente vai tentar trabalhar – continua Geninho.

Geninho também foi questionado sobre como vai lidar com pressão que encontra no clube. Ao longo desta temporada, o Rubro-Negro tem colecionado vexames: queda no Campeonato Baiano na primeira fase, assim como na Copa do Brasil, eliminação no Nordestão nas quartas de final com goleada por 4 a 0 sofrida diante do Fortaleza e luta contra o rebaixamento da Série B.

– A pressão vive comigo no dia a dia. Você começa a trabalhar em qualquer lugar, e o treinador é cobrado. O treinador vai ser sempre a bolinha no centro do alvo. Ele traz a responsabilidade da cobrança. Hoje eu me sinto preparado para isso. Sou rodado, já passei por muitas situações; já passei por situações difíceis. Eu venho sempre para o trabalho achando que eu posso mudar a situação. Se eu achasse que não, nem viria. Acho que você tem que apostar com chances de ganhar, e eu chego assim, claro. Essas mudanças de treinador trazem problemas ao grupo, o período é curto, mas eu acredito que posso atingir o objetivo. Tudo depende de como vou trazer esse grupo para mim. Como vão responder às ideias, os conceitos, os objetivos. Eles têm que pensar a minha cabeça, vão ser cobrados por mim através disso. Responder de forma diferente do que vinham respondendo até agora.

Geninho disse que pretende aproveitar o trabalho de Carlos Amadeu, demitido do clube com 48% de aproveitamento. O novo treinador do Vitória lembrou da sequência invicta atravessada pelo time recentemente, quando ficou sete jogos sem perder.

“Ninguém tem uma varinha de condão para chegar aqui e mudar tudo. Vou partir de um trabalho que vinha sendo feito e que, até na minha opinião, era um bom trabalho. Os resultados não eram tão ruins assim, a sequência não era tão ruim assim. Vou partir de uma base daquilo que vinha sendo feito. Conversei e vou continuar conversando muito com as pessoas que estavam vivendo mais o dia a dia. Vou ver muita coisa do Vitória, em termos de vídeo, informações. E, baseado nisso, vou tentar encaixar alguma coisa que possa nos levar a voltar a vencer. Claro que, para o primeiro jogo, você não vai ter uma mudança drástica. Mas alguma coisa você pode encaixar de maneira diferente, dentro da sua maneira de ver futebol”.

– Acho que cada um vê futebol de uma maneira. Às vezes, eu posso entrar com o mesmo time que vinha jogando, só que com uma postura diferente, uma filosofia diferente, um jeito diferente de jogar. Então cada um tem a sua maneira de ver futebol, e eu vou tentar implantar a minha, aquela maneira que tem me levado a conquistar as coisas que tenho buscado. Nos últimos cinco anos, subi quatro times. Alguma coisa a gente tem feito meio de certo aí. Eu espero conseguir implantar aquilo que venho implantando nas outras equipes aqui também no Vitória, que a gente possa ter uma resposta dentro de campo, porque é isso que vale. O Paulo falou muito bem. Hoje, no futebol, o trabalho é fundamental para que você consiga. Mas você pode ter o melhor trabalho do mundo; se ele não vier acompanhado de resultado, nada funciona. Fundamentalmente hoje, o que vale é o resultado. Principalmente jogando-se uma Série B.

– A Série B é, na minha opinião, o campeonato mais difícil de você jogar, porque é o campeonato mais equilibrado. Você não tem, na Série B, aquela diferença que está tendo na Série A, de quem está no fundo para quem está no meio ou para quem está na ponta. É muito estreito. Você não pode dizer hoje, na Série B, que ninguém caiu e que ninguém foi campeão ainda. Existe uma diferença entre o último e o primeiro, mas não é tão grande, e tudo estreito, coisa de um ponto, dois, três. Você ganha dois, três jogos, dá um salto imenso na tabela. Você perde dois jogos, vai lá para trás. É um campeonato muito difícil de se disputar, onde o futebol jogado é o futebol de resultado. Dificilmente, você vê na Série B um grande jogo técnico, um jogo gostoso, um jogo onde te encanta os olhos. Você vê aquele jogo de muita marcação, pegada, muita doação, muito coração, transpiração. Onde a equipe, de repente, faz um resultado e luta até o final para manter aquele resultado. É um campeonato difícil de jogar, onde o jogador tem que se conscientizar de que é só a técnica que vai ganhar o jogo. Tem que entrar focado no que precisa fazer, se doar de corpo, alma, coração, tudo que tem direito, para que a gente atinja os nossos objetivos.

Contudo, o antecessor de Geninho foi duramente criticado pela torcida por realizar mudanças constantes no time titular. O novo treinador do Vitória falou o que pensa sobre as trocas na equipe.

– É ruim para o grupo que tenha mudanças de trabalho. Como eu disse: cada treinador pensa de uma forma, movimentar jogadores, etc. Um acha que João joga aberto, outro acha que joga fechado, e para o jogador é muito ruim. Você não tem tempo de implementar filosofia e trabalho, a sua maneira que é ideal. Você vai ter um período de trabalho de campo, mas nos jogos seguintes você vai ter trabalho tático, conversa, conscientização. Em campo você espera que eles assimilem o mais rápido possível. Onde ataca, quando marca, etc. Para o treinador é horroroso, você pega um time que muda constantemente. Faça o simples possível para que o jogador tenha adaptação mais rápido possível do que você quer. Bato sempre para o jogador me dar aquilo que sabe fazer de melhor. Quem sabe marcar, vai marcar; quem sabe definir, vai definir; quem sabe pressionar, vai pressionar. É isso que penso em fazer. Globoesporte