Auditorias realizadas pela Fundação dos Economiários Federais (Funcef), entidade de previdência complementar dos funcionários da Caixa, aponta que fundos de investimentos geridos pela empresa do ministro da Economia, Paulo Guedes, pagaram, sem justificativa técnica adequada, R$ 385 milhões de ágio para adquirir empresas.

A suspeita é que tenha havido fraudes nos negócios e gerado ganhos excessivos ao ministro, em detrimento dos cotistas dos fundos de investimentos. Segundo reportagem do jornalista Fabio Fabrini, da Folha de S. Paulo, as auditorias da Funcef foram feitas a pedido do Ministério Público Federal, que conduz duas investigações sobre fraudes nos negócios, supostamente praticadas em consórcio por Guedes e dirigentes dos fundos de pensão.

Os investimentos foram feitos com recursos captados de fundos de pensão patrocinados por estatais e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Guedes montou, por meio de sua empresa de gestão de ativos, FIPs que receberam, entre 2009 e 2014, R$ 1 bilhão em recursos dos institutos que administram os planos de pensão e aposentadoria dos empregados de empresas públicas.

Para comprar a HSM Educacional, voltada para eventos e cursos de educação empresarial, o FIP BR Educacional pagou R$ 55,2 milhões, dos quais R$ 4,8 milhões pelo patrimônio e R$ 50,2 milhões (91%) por um suposto valor intangível da empresa, atribuído à marca. Em 2011, dois anos após o desembolso, um documento da empresa de Guedes registrou que esse mesmo ativo valia cerca de 10% do que fora pago (R$ 5,1 milhões).

Fatia de 10% em outra empresa, a Enesa Participações, dos setores de infraestrutura e energia, custou ao FIP Brasil de Governança Corporativa R$ 112,5 milhões em 2010, dos quais R$ 83,6 milhões (74%) de ágio. Os auditores veem indícios de superavaliação no negócio. Cálculos da equipe de Guedes apontaram que toda a empresa valia R$ 900 milhões.

Um estudo da Ernst & Young, contratada por outro fundo de investimentos do qual a Funcef era cotista, mensurou R$ 634 milhões. “Esse valor [R$ 900 milhões] merece aprofundamento na investigação para verificar se as premissas utilizadas seriam condizentes com aquelas que eram praticadas no mercado”, afirma trecho de uma das auditorias.