Foto: Felipe Oliveira/Divulgação Boa Praça

Tudo começou quando a deputada federal Carla Zambelli (PSL) filmou Netinho cantando a música “Milla” no ato pró-Bolsonaro na Av. Paulista, em São Paulo, no sábado (1). O autor da música, Manno Góes, diz que não autoriza o uso da música. Ele notificou a deputada para tirar o vídeo do YouTube. A manifestação no sábado teve aglomeração e pedido de intervenção militar.

Em cima do trio, diante do público com faixas como “Nós te autorizamos, presidente”, Netinho entoou o refrão: “Ô Mila, mil e uma noites de amor com você / Na praia, no barco, no farol apagado…” No sábado, Manno Góes escreveu no Twitter: “Netinho ontem cantou Milla no ato em que pessoas brancas, na Paulista, gritavam “eu autorizo”, para Bolsonaro.

Autorizam o quê? Golpe militar? Portanto, eu não autorizo esse débil mental de cantar minha música. Já entrei na justiça e retirarei todos os vídeos que tiverem isso.” No domingo, Manno enviou uma notificação extrajudicial para que Carla Zambelli tire o vídeo do ar. “Eu não posso proibir ninguém de cantar uma música minha. O que o autor tem direito é de impedir de que essa música esteja vinculada com uma forma de divulgação que ele não concorde“, diz o compositor.

A deputada diz que está analisando a notificação com seus advogados e ‘pensando’ no caso por causa do post “deselegante” no Twitter. “Eu estou pensando duas vezes em tirar esse vídeo e pensando sinceramente, em, entre aspas, “ir para o pau”. Porque a forma como ele tratou o Netinho me incomodou muitíssimo”, diz a deputada. Netinho não quis comentar o caso.

Manno Góes já fez parte da banda Jammil e é autor de diversos sucessos do axé, como “Praieiro”, “Acabou” e “Milla”, gravada por Netinho em 1996. Ele diz que não quer barrar o cantor de cantar a música em sua carreira.

“Não é censura. Ele não está impedindo de fazer shows e tocar música para seus fãs. O que não pode é utilizar uma obra com finalidade política. Para isso há uma necessidade de autorização”, diz o advogado de Manno, Rodrigo Moraes. A notificação foi destinada a Zambelli, e não a Netinho, pois foi a deputada quem filmou e publicou o vídeo no canal oficial dela, explica o advogado.

‘Milla’: da Ilha do Sol para a Justiça?

“O que a deputada Carla Zambelli faz é lastimável: uma pessoa que, mesmo que notificada, continua com o vídeo. Uma parlamentar que é a primeira a rasgar a lei de direitos autorais”, diz o advogado. Ele diz que, após a notificação, está preparando uma ação judicial para reivindicar os direitos do autor.

Carla Zambelli diz que pensa em manter o vídeo no ar, e critica o uso do termo “débil mental”. “Não se trata ninguém dessa forma. Eu não trato nem meus inimigos dessa forma. Então talvez eu não atenda o pedido dele e espere ele me acionar na Justiça. Aí a gente vê como a gente resolve”, diz a deputada.

Nesta segunda-feira, antes de Zambelli comentar o caso, Manno Góes escreveu no Twitter: “Compreendo e peço desculpas a todos por ter usado ‘débil mental’ para me referir ao cantor golpista. Agradeço a todos que me chamaram atenção, mesmo apoiando meu desabafo. Estamos aqui para aprender e melhorarmos como pessoa. É o que quero pra mim: aprender, evoluir, consertar”. “É um reconhecimento de um uso indevido de uma expressão que não deve ser usada”, ele disse.

Daniela vai regravar em apoio a Manno

Com a repercussão do caso, Daniela Mercury manifestou apoio ao compositor: “Manno Góes, meu amigo querido! Eu entendo a sua agonia! Por isso, vou gravar ‘Milla’. Essa música é amor, é liberdade! ‘Milla’ é nossa”, ela disse.

‘Milla’ para Trump

Essa não é a primeira vez que Manno Góes desautoriza o uso político de “Milla” na voz de Netinho. O advogado dele conta que, em 2020, o cantor usou a música em um post em que apoiava a eleição de Donald Trump nos EUA. “Fizemos a notificação e nesse caso ele tirou na hora”, diz Rodrigo. G1