De acordo com os dados do mapeamento de violência de instituições de ensino do Portal Nacional da Educação (PNE), a Bahia registrou 218 casos de ameaças às escolas entre 1º de janeiro e 22 de junho de 2023. No mesmo período, a polícia prendeu 89 pessoas, sendo 82 adolescentes e sete adultas, e foram cumpridos 26 mandados de busca e apreensão.
Esses números são vinculados ao período de maior ênfase registrado em abril. Até o momento, neste ano, no Brasil, 3.396 boletins de ocorrências foram feitos e 1.595 adolescentes e suspeitos foram conduzidos às delegacias para serem ouvidos pelas polícias estaduais. Com a divulgação semestral dessas informações, o PNE lembra que o país tem um histórico de alto índice de violência escolar.
Dessa forma, as autoridades, principalmente de Educação e Segurança Pública, na Bahia reafirmaram a necessidade de reforçar os cuidados relacionados à cultura de paz nas escolas, enfatizada no combate aos episódios. Os ocorridos em Salvador e Região Metropolitana (RMS) chamaram a atenção. Em Lauro de Freitas, por exemplo, vários casos foram verificados como Fake News sem informações concretas dos possíveis atos.
No entanto, a secretária de Educação (Semed) de Lauro de Freitas, Vânia Galvão, destaca a importância de se implementar a cultura de paz na rede escolar, envolvendo também a comunidade e os pais no processo. “Temos orientado as escolas a fazer debates e a colocar a questão como tema de redação. Além disso, sabemos que a disseminação de Fake News, com a facilidade de acesso ao digital, vai continuar. O objetivo é ter a consciência plena da situação para os alunos e seus pais trabalharem as informações”, pontua.
Sobre as demais ações contínuas da Semed para combater o problema, afirma que firmaram uma parceria com a Polícia Militar (PM) da Bahia para intensificar um trabalho de formação e capacitação para os agentes de portaria, cuidadores, motoristas e monitores, enquanto será desenvolvido para professores e gestores no segundo semestre, de forma que estejam cientes de como proceder em indícios de violência.
Além disso, salienta o constante trabalho da ronda escolar e a intensificação das reuniões com o corpo docente e gestores. “Eu diria que é um trabalho de acolhimento que fazemos com nosso corpo funcional e os alunos em vulnerabilidade. Nós também vamos realizar um concurso público para a contratação de psicólogos e assistentes sociais para atuarem nas escolas e proporcionar palestras sobre o bullying e o ciberbullying”, complementa.
Números preocupantes
O assessor especial da Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC), Manoel Calazans, considera o número de ocorrências preocupantes. “Nós tivemos muitos casos só para promover o medo. Mesmo assim, apuramos tudo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP). Precisamos tratar essa pessoa com o acompanhamento psicológico. O que nos deixa mais preocupado são os meninos de 13 ou 15 anos, que tão cedo já tem um pensamento tão equivocado em relação à convivência entre as pessoas”, afirma.
Para ele, esse processo de violência nas escolas está relacionado à fragilidade das relações, como na sociedade. “Nós passamos por uma pandemia e temos pessoas que acreditam na rede social como uma terra sem lei e de anonimato para agredir e ameaçar. É algo que precisa ser tratado nas escolas e na sociedade”, acrescenta.
Em relação às ações da SEC, comenta que nenhuma ação pontual pode instituir diretamente a cultura da paz. Por isso, o Documento Curricular Referencial para a Bahia (DCRB), desde 2021, traz o tema nas disciplinas e nas ações em sala de aula, como forma de tratar essa convivência entre as pessoas no planejamento da gestão das escolas.
Segundo Manoel, é necessário prover um ambiente de respeito, afeto e cordialidade. A cultura de paz entra no currículo como um conjunto de ações e atitudes para desconstruir valores equivocados, preconceituosos e intolerantes, construindo novos. Portanto, os casos de bullying têm relação direta com a consequência drástica que é a violência.
Como forma de ação específica, aponta: a cartilha, promovida por meio do trabalho intersetorial com a SSP, para combater à violência nas escolas em abril; os programas artísticos e estruturantes que ressaltam a convivência entre as pessoas.com o diálogo; o acompanhamento psicológico nos Núcleos Territoriais de Educação (NTEs), atendendo emergencialmente quando acontece algum tipo de ameaça ou situação violenta na escola; e o desenvolvimento dos encontros das escolas com as famílias nos finais de semana.
Estratégias
Já o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia (Sinepe) aposta no desenvolvimento emocional e moral das crianças por causa dessa relação com o bullying. O presidente Jorge Tadeu Coelho comenta que o crescimento do número de agressões nas escolas é fruto de um momento que eclode desequilíbrio e agressão em toda a sociedade.
“A autoridade tem sido muito desacreditada, com a democracia e a ciência postas em cheque, além das religiões disputando de uma maneira agressiva. Tudo isso faz com que as crianças e os adultos desacreditem em uma estrutura que organize a sociedade. É importante que façamos um esforço para retomar essa vida em sociedade. Precisamos investir seja na escola, na família ou na sociedade em geral”, pontua Tadeu.
Entre as ações desenvolvidas pelo Sinepe na rede de escolas particulares da Bahia, estão: a discussão do saber da tecnologia no interior das escolas; um modelo de acompanhamento e inclusão das crianças que estejam passando por algum problema ou dificuldade emocional da ordem familiar ou pessoal, orientando às famílias que busquem um apoio externo se necessário; e o incentivo à convivência plural.
Combate policial
Em nota, a SSP reforça que está engajada com as pautas e políticas que combatem a violência nas escolas. Durante todo o ano letivo, realiza ações de policiamento comunitário aos estudantes, pais, dirigentes, professores e funcionários das unidades escolares de Salvador, RMS e interior do Estado, públicas e privadas, em apoio às unidades com responsabilidade territorial sobre a área onde está localizada a escola.
Uma das iniciativas foi o projeto ‘Vigilância Participativa Escolar’, responsável por reduzir o tempo resposta, prevenir ações violentas em escolas e fortalecer a parceria entre a PM e as escolas. Outra ação foi a criação do Batalhão de Policiamento Ronda Escolar (BPRE), cuja finalidade principal consiste na intensificação do policiamento ostensivo preventivo, visando combater e prevenir a violência nas escolas e seu entorno, além de atuar na promoção à cultura de paz, com atividades preventivas como palestras, mediações de conflitos, participações em reuniões de pais e eventos educacionais. A Tarde