(Nara Gentil/Arquivo CORREIO)

A Bahia alcançou o maior número dos últimos cinco meses de casos de covid registrados em 24 horas. A marca aconteceu neste último sábado (8), quando o boletim da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) registrou 1.543 casos da doença. É o maior número desde o dia 8 de agosto do ano passado. O registro de mortes também vem aumentando. No último dia 7, a Bahia teve 20 óbitos, número que não era alcançado desde setembro.

A única ressalva em relação ao registro de casos diários vai para o dia 26 de dezembro de 2021, quando o boletim divulgou 4.065 casos por conta dos registros represados do dia 11 ao dia 25, que não tiveram boletim. O vácuo se justifica pela instabilidade do sistema do Ministério da Saúde, causada pelo ataque hacker no dia 10 de dezembro. A explosão de casos acontece, principalmente, em 2022. No primeiro dia do ano, foram 171 novos casos registrados.

Em relação aos 1.543 casos do sábado (8), o aumento é de 802,3%. Segundo especialistas, é o reflexo das festas de Natal e Ano Novo, que ainda pode se estender até o final de janeiro. Felipe Ferreira, de 24 anos, foi um dos que se contaminaram durante o Réveillon. Ele viajou com amigos para Morro de São Paulo. “Comecei a sentir febre entre os dias 2 e 3 de janeiro. Das pessoas que estavam na casa comigo, metade pegou covid, mas todos estão bem e tiveram sintomas leves”, diz Felipe.

O aumento do número de casos, até o momento, não pressiona na mesma proporção o sistema de saúde porque a maioria dos infectados está como Felipe e seus amigos, com sintomas leves. Mas aumentos de internações e óbitos já foram registrados e autoridades estão alertas. O número de pacientes internados em UTI na Bahia vem crescendo desde o dia 8 de dezembro, quando o número estava em cerca de 200 pessoas internadas.

Neste domingo (9), o boletim informou 328 pessoas. A taxa de ocupação de leitos covid está em 51% no estado, sendo 43% para enfermaria e 70% para pediátrica; e 58% para UTI adulto e 83% para pediátrica. Em Salvador, a ocupação está em 73%. São 71% para enfermaria adulto, 87% para enfermaria pediátrica, 68% para UTI adulto e 95% para UTI pediátrica.

A Bahia já soma, conforme boletim divulgado neste domingo (9), 1.277.608 casos confirmados desde o início da pandemia e 27.592 mortes. São 4.461 casos ativos. Os municípios com mais casos confirmados são: Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna e Camaçari.

Na sexta-feira (7), o secretário de saúde de Salvador, Leo Prates, alertou que o quadro atual da pandemia na cidade é de “descontrole epidemiológico”, com o avanço acelerado de uma nova onda nos primeiros dias de 2022. O fator RT, usado para medir a taxa de transmissão do vírus, estava em 1,2, recorde de toda a pandemia na capital. Quando o número é igual ou maior que 1, é motivo de preocupação porque significa que cada infectado está passando a doença para uma ou mais pessoas. “É a primeira vez depois de muito tempo que ele passa de 1 em Salvador. Isso significa que a doença está em aceleração”, afirmou Leo Prates.

Apesar de, até o momento, a Bahia registrar aumento de casos, mas, em sua maioria, relacionados à sintomas leves, a infectologista e pesquisadora da Fiocruz Fernanda Grassi ressalta: “A cobertura vacinal da gripe não foi adequada no nosso país e a cobertura vacinal da covid ainda não atingiu os níveis necessários para barrar a infecção, ainda mais agora com o surgimento da ômicron. Vários estudos têm mostrado que apenas duas doses de vacina não protegem completamente contra essa variante”, acrescenta.

Grassi ressalta que o surto simultâneo de covid e de gripe é motivo de mais preocupação. “Isso porque tanto um quanto outro podem causar a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que é uma situação que requer cuidados médicos intensivos, às vezes oxigenação e até mesmo a intubação. Ou seja, pode haver sobrecarga do sistema de saúde”.

O imunologista Celso Sant’anna diz ainda que outro motivo de preocupação é a possível subnotificação de casos. “Não estamos testando de maneira adequada, nem para gripe, nem para covid. Com certeza temos muito mais casos da variante ômicron e da influenza do que o registrado. São dois vírus extremamente transmissíveis. Hoje é muito difícil encontrar uma pessoa que não esteja com ou que não teve recentemente sintomas gripais. Com certeza também há subnotificação de casos de diagnóstico múltiplo, que é o caso do que estão chamando de flurona. Estamos no escuro, pisando em areia movediça”, complementa Sant’anna.

O imunologista, por outro lado, destaca as vantagens que existem agora contra a covid. “O bom é que já conseguimos avançar na vacinação contra a covid e já descobrimos que a variante ômicron é mais transmissível, mas menos letal. Estamos vendo diversas pessoas se contaminarem, mas com sintomas leves ou assintomáticas. Pode ser que a gente venha ver aqui o número de internações aumentar, mas isso porque o número de infectados está crescendo muito. Então aquele percentual baixo de internação vai acabar englobando um número mais alto de pessoas. Poderemos ter uma pressão no sistema de saúde, mas não da forma dramática que vimos com a covid”, coloca.  (Correio da Bahia)