Mauro Akin Nassor/Correio

Por conta do recorrente mar revolto em julho, os barcos de pesca passaram mais tempo nas areias do Rio Vermelho do que nas águas da Baía de Todos-os-Santos. O começo de agosto também não dá sinais de melhora. No domingo (4), a Marinha emitiu um sinal de alerta até essa quarta-feira (7), com ondas entre 3 e 4 metros de altura – o equivalente a uma casa de dois andares – e ventos de até 74 km/h na costa do Nordeste, entre os estados da Bahia e Rio Grande do Norte.

“Eu pesco há 30 anos e nunca vi um mês de julho igual a esse. Só fui pro mar umas três, quatro vezes e geralmente saio entre 10 e 15 vezes neste período do ano. Para pagar as contas, estou tendo que fazer bicos, porque pescando não dá”, contou o pescador Raimundo Nonato, 50 anos, que tem visitado a Colônia de Pescadores apenas para jogar conversa fora e ‘tomar uma’.

O motivo do mau tempo é a persistência de um sistema de alta pressão sobre o oceano, ou seja, o ar na atmosfera se movimenta constantemente, com giros de centenas e até milhares de quilômetros de diâmetro. Com isso, a depender da direção de rotação (horário ou anti-horário), formam no seu interior os centros de alta e baixa pressão.

Entretanto, meteorologistas dizem que este é um fenômeno climático normal, que ocorre praticamente todos os anos na Bahia. Especificamente, o que está causando as ondas e a ventania observadas até essa quarta é um campo de alta pressão que está agindo na altura do Sudeste e que tem uma grande pista de ação, que empurra a energia para a região Nordeste.

“Nesta época do ano tem esta ação sobre o oceano trazendo ventos fortes do mar para a costa, fazendo com que as águas fiquem agitadas. Geralmente, isso ocorre após uma frente fria, o que se deu em Salvador. O que não está sendo comum é a frequência com que o fenômeno tem ocorrido neste ano. Uma explicação possível é a atuação do ‘El Niño’, que deixou as chuvas irregulares nos últimos anos”, explica a meteorologista Diva Cordeiro.

Enfrentando o mar há mais de 50 anos, o pescador Milton Santana, 66, já está acostumado com as dificuldades do inverno soteropolitano. “Entre junho e setembro, sempre temos que esperar as águas se acalmarem e pedir a Deus e Iemanjá para nos abençoar para que possamos subir nos barcos e buscar o nosso sustento”, conta Raimundo. Correio da Bahia