O Santo Antônio Além do Carmo, bairro do Centro Histórico de Salvador que foi cenário da novela Segundo Sol, da TV Globo, virou alvo de polêmica neste verão após a realização de grandes eventos no local. O bairro também é considerado patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Conforme os moradores, após a novela, o movimento aumentou muito na região, o que chamaou a atenção, também, de empresários do ramo de evento, que começaram a realizar festas no bairro. Para muitas pessoas que vivem no local, com fama de sossegado e até com clima de cidade do interior, o bairro não tem estrutura para receber grandes festas.

Na novela Segundo Sol, o Santo Antônio Além do Carmo era o bairro onde morava a família de Beto Falcão, interpretado por Emilio Dantas, protagonista da trama. Após o sucesso nas telas, segundo os moradores, megaeventos começaram a ser realizados no bairro, o que tirou a tranquilidade de quem vive no local.

Na última festa, ocorrida em janeiro deste ano, um palco foi montado no Largo do Santo Antônio e reuniu uma multidão.

“Aqui temos eventos feitos pelos moradores, a gente não divulga para que não tenha uma quantidade imensa de gente, mas quando ocorrem esses grandes eventos isso aqui fica lotado de gente, com muito odor de urina, é horrível”, disse a moradora Zaira Grazielli Oliveira, que vive no bairro há cerca de 10 anos.

O locutor Bira Santos relata que o bairro tem moradores antigos e a maior parte deles se conhece. Com os grandes eventos, há uma reunião de pessoas desconhecidas e isso, para eles, causa insegurança.

“Se você perguntar a qualquer morador qual é o sentimento pelo bairro, é de carinho. Eu mesmo adoro isso aqui. Você sai aqui você se sente em uma cidade do interior”, contou.
Zaira Grazielli compartilha do sentimento de Bira e acrescenta que, durante as grandes festas, os moradores ainda encontram problemas para estacionar.

“O bairro é pequeno e aqui que não tem lugar para estacionar. As ruas são interditadas e quando a gente chega aqui não consegue passar. Todo mundo que mora aqui já sabe que se sair em dia de festa, não tem como voltar para casa e estacionar depois”, contou.

O rodoviário Alberto Lima, 50 anos, que mora no bairro desde que nasceu, disse que nem com comprovante de residência ele consegue passar por barreiras montadas pela Transalvador em dias de festas.

Por meio de nota, o órgão de trânsito informou que o acesso de moradores em vias bloqueadas para eventos é autorizado e garantido mediante apresentação do comprovante de residência, desde que não coloque em risco a segurança das pessoas que estão ocupando a via. Caso o acesso de veículos possa colocar em risco a segurança dos participantes do evento, o morador deve aguardar um momento mais favorável para que seu acesso seja liberado.

Alberto Lima ressalta que não é contra da festa, nem o som do local, o que preocupa é o público desses eventos.

“O problema é a falta de estrutura e o grande consumo de droga. A gente vê expostos pinos de cocaína no chão, as pessoas ficam atrás dos carros urinando, não dá nem para chegar na janela. Com a aglomeração de pessoas, vem gente de todo canto e isso atrai ladrão também. O vidro do meu carro foi quebrado, levaram o som e a borracha ficou solta. Isso nunca tinha ocorrido”, disse.

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que o 18ª Batalhão realiza rondas 24h em toda região do Santo Antônio Além do Carmo, com viaturas de carro e moto, policiamento a pé e uso de Base Móvel de Segurança, além do apoio do Batalhão Especializado em Polícia Turística (Beptur).

A PM disse, ainda, que quando são realizadas festas, o policiamento é intensificado, mas que não tem conhecimento das denúncias dos moradores, referente à conduta do público das festas. A corporação informou que o comando da unidade se coloca à disposição para receber a comunidade, atuar e intensificar as ações onde e quando for necessário.

A Prefeitura de Salvador, por meio da Secretaria de Turismo, disse que as festas que ocorrem no local, bem como em demais espaços da cidade, precisam de regulamentações. “Primeira coisa que a gente precisa ressaltar é que o Santo Antônio não é um circuito do carnaval de Salvador. Esta polêmica está surgindo após produções procurarem o Santo Antônio como espaço no pré-carnaval”, disse o secretário de turismo, Claudio Tinoco.

Embora não esteja na mesma região, o Santo Antônio Além do Carmo não faz parte do circuito Batatinha, onde ocorre a folia em praças e ruas do Pelourinho. No entanto, segundo Claudio Tinoco, tem sido buscado por produtoras de festas como espaço para eventos de pré-carnaval.

“Esta polêmica está surginod a partir do momento em que outras produções, fora do bairro, estão procurando o Santo Antônio com espaço no pré-carnaval para desfilar fanfarras com blocos aqui nessa região tão importante da cidade. Para isso, a produtora entra na central de licenciamento de eventos, todos os órgãos da prefeitura, de forma integrada, avaliam [a solicitação] em cima do decreto 20.505, que é o estatuto das festas populares, do próprio carnaval, que estabelece regras diversas, desde o comércio informal, impacto no trânsito, segurança, todas as regras necessárias, entre elas, a propagação sonora”, explicou Tinoco.

O secretário lembrou, ainda, que a tradição no bairro é de festas menores, produzidas pelos próprios moradores. “Aqui no Santo Antônio Além do Carmo todas as manifestações carnavalescas ocorrem sem uso de equipamentos como mini-trios, pranchões. Aqui só fanfarras que puxam grupos, que, na sua maioria, são de moradores da região, mas que têm atraído, pela força que tem essa região do Centro Histórico, muitos outros visitantes”, afirmou Claudio Tinoco. Informações do G1