Agência Brasil

O Banco Central elevou de 4,7% para 7,1% a estimativa de inflação para este ano, calculada com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com isso, o BC admitiu que a meta de inflação deve ser superada pelo segundo ano seguido em 2022. A probabilidade de “estouro” da meta é de 88% a 97%, calculou o banco.

Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para este ano é de 3,5% e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 2% e 5%.

A previsão de estouro consta do relatório de inflação do primeiro trimestre deste ano, divulgado nesta quinta-feira (24), e considera a trajetória estimada pelo mercado financeiro para as taxas de juros e de câmbio neste ano e em 2023.

Em um cenário alternativo projetado pelo BC, considerado de “maior probabilidade”, que embute uma trajetória de queda para o preço do petróleo até o fim deste ano, a estimativa de inflação para 2022 é de 6,3%. Essa previsão do cenário alternativo é um pouco menor que a do cenário tradicional, mas ainda assim estoura a meta.

No ano passado, ao somar 10,06%, a maior inflação em seis anos, a meta já havia sido ultrapassada. A informação do BC de que a inflação deverá estourar a meta neste ano acontece após o forte reajuste dos combustíveis anunciado pela Petrobras no começo desse mês.

Nesta semana, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a guerra na Ucrânia levará o mundo a um período “relativamente longo” com a inflação maior e o crescimento econômico mais baixo.

Meta de inflação e taxa de juros

Os analistas do mercado já preveem, desde o fim de 2021, que a inflação deste ano ficaria acima do teto da meta. Para alcançar a meta de inflação definida pelo CMN, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia, a Selic. Atualmente, após nove altas seguidas, o juro básico está em 11,75% ao ano, o maior patamar em cinco anos.

O que diz o BC

De acordo com o Banco Central, os preços das “commodities” (produtos básicos com preço em dólar, como alimentos e petróleo) voltaram a subir neste ano, principalmente em função do conflito entre Rússia e Ucrânia, com destaque especial para os preços do petróleo.

“A principal pressão sobre a inflação ao consumidor no próximo trimestre decorre dos preços de combustíveis, refletindo a recente elevação do preço de petróleo. Os reajustes dos preços de produtos farmacêuticos, que sofrem grande influência da inflação passada, também devem ter importante contribuição”, avaliou a instituição.

De acordo com o BC, os impactos da guerra também devem gerar “alta importante” nos preços dos alimentos, que também devem sofrer influência da continuidade dos efeitos do clima extremo.

A instituição avaliou ainda que os chamados “gargalos” nas cadeias produtivas globais, ou seja, interrupção de produção de alguns produtos, também por conta da guerra, têm pressionado os índices de inflação e tendem a se agravar com o conflito entre Rússia e Ucrânia.

“Espera-se que os preços de bens industrializados continuem apresentado alta relevante, apesar da redução das alíquotas de IPI, considerando a persistência das pressões sobre as cadeias de suprimentos e os preços de commodities, que foram inclusive agravadas pelo conflito”, acrescentou.

Por outro lado, o BC também citou fatores que contribuem para a queda da inflação, como o recuo do dólar, atualmente cotado abaixo de R$ 5, e a redução do preço da energia elétrica, em função da melhora das condições pluviométricas. O BC espera que esse seja um “fator desinflacionário”. G1