Após meses de isolamento e com números classificados como irrisórios, os casos das chamadas “viroses” aumentaram de forma significativa no Brasil. O cenário é confirmado por números oficiais, como os do boletim mais recente da Fiocruz, e também por relatos como o do médico pneumologista Fred Fernandes, que viu seus próprios filhos serem alvo dos vírus e alertou para os cuidados necessários para enfrentar o que ele classificou como explosão dos casos.

“Durante um período na pandemia houve queda de circulação de viroses respiratórias. Máscaras, isolamento e crianças em casa cortaram o ciclo de transmissão de vários vírus. Influenza simplesmente sumiu no hemisfério sul. Com a mudança desse cenário as viroses estão EXPLODINDO”, escreveu no Twitter o médico, que é presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia.

O que o pai Fred Fernandes viu na prática e na conversa com colegas é de fato a “volta ao normal” da incidência deste tipo de complicação respiratória entre as crianças. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o número de casos de pacientes entre 0 a 9 anos diagnosticadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) aumentou e já são, em alguns casos, superiores aos casos de Covid-19.

Especialistas ouvidos apontam que aumento já era esperado e está relacionado ao reaparecimento de outros vírus respiratórios com o fim do isolamento. Desta vez, de acordo com os registros da Fiocruz, os vilões são o bocavírus e as parainfluenza 3 e 4, que se somam aos casos de vírus sincicial respiratório (VSR) e de rinovírus.

O alerta da Fiocruz é direcionado, principalmente, ao VSR, uma das principais causas de infecções das vias respiratórias e pulmões em recém-nascidos e crianças pequenas.

“A análise verificou que nessa faixa etária houve aumento significativo de registros de VSR, com valores semanais superiores aos observados para Sars-CoV-2 (Covid-19)”, apontou a Fiocruz no Boletim InfoGripe divulgado nesta quinta-feira (28).
Durante o período de maior incidência desse vírus, ele é responsável por 75% dos casos de bronquiolite e 40% das pneumonias em crianças de até dois anos. Crianças com menos de cinco anos infectadas com a doença têm maior risco de desenvolver formas graves.

Aumento esperado

O aumento no número de viroses respiratórias, segundo Marcelo Otsuka, infectologista e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), já era esperado.

“Ano passado, como as crianças não ficaram expostas, elas não desenvolveram imunidade, não entraram em contato com os vírus e agora com o retorno a vida social é esperado que isso ocorra”, diz o especialista.

Contudo, o aumento no número de casos foi mais destacado em recém-nascidos e crianças do que no restante da população devido ao desenvolvimento do sistema imunológico.

O pneumologista Fred Fernandes lembra que o sistema imunológico se desenvolve a partir do convívio social, quando a criança passa a ter contato com os agentes patológicos, normalmente, entre o primeiro e segundo ano de vida.

Além disso, cada vírus tem sua uma sazonalidade específica, o que faz com que a criança tenha contato com os vírus de uma forma quase que escalonada.

“O que vemos agora, contudo, é que temos quadros infecciosos de diversos vírus, tudo de uma vez. As crianças têm casos encadeados, um seguido do outro”, alerta Fernandes.

Ir ou não à escola?

Ainda assim, os especialistas ressaltam que o cenário era esperado e que não há necessidade dos pais privarem seus filhos do convívio social por medo de uma possível contaminação.

“Isso não é razão para as crianças não irem as escolas. Elas já foram prejudicadas por uma série de fatores, que vão além do aprendizado, e esse convívio é fundamental. O que é preciso é cuidado”, esclarece o médico Marcelo Otsuka.

Dicas para evitar a contaminação

De acordo com os especialistas, os cuidados para evitar uma virose respiratória são os mesmos adotados contra a Covid-19.

  • Uso de máscara
  • Preferência por ambientes ventilados
  • Uso de álcool em gel
  • Caso a criança ou um dos responsáveis apresente sinais de Covid ou outra virose respiratória, a criança não deve frequentar o ambiente escolar para evitar o contágio dos colegas

“Se os pais ou o filho apresentam um quadro que leve a suspeita de Covid é de bom tom que ele não vá a escola e que procure um médico para avaliar o quadro clínico e dar um diagnóstico. Nesses casos, é melhor pecar pelo excesso”, diz Otsuka.

No ambiente escolar, é recomendado que se adote escalonamento de turmas no horário de entrada, intervalo e saída. Desse modo, não ocorre uma alta concentração de alunos em um mesmo ambiente em um mesmo horário.

Se possível, o mesmo deve ser adotado para o intervalo ou a hora do recreio, que deve ser, prioritariamente, em um ambiente bastante ventilado e espaçoso para evitar a aglomeração, como o pátio ou a quadra. G1