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Um boletim editado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indica que a taxa de mortalidade da Covid-19 entre as mulheres grávidas e puérperas é de 7,2% no Brasil, percentual 2,5 vezes maior que a taxa nacional para toda população. Segundo o relatório, o país é o segundo maior em número de mortes maternas causadas pelo novo coronavírus. O estudo de pesquisadores e epidemiologistas coloca as gestantes e puérperas como grupo de risco que deve ser priorizado na vacinação, diante da mortalidade elevada.

Em 2020, foram computadas 560 mortes pela Covid-19 entre este público, enquanto em 2021 já são 1.156, mais do que o dobro do ano anterior. “Partimos do pressuposto de que este cenário está relacionado às alterações morfológicas da gestante, quando ocorre uma alteração das estruturas circulatórias para atender à demanda de crescimento fetal”, indica o boletim da Fiocruz.

Em uma edição anterior, os epidemiologistas da fundação já haviam alertado para os riscos de gestantes, sobretudo aquelas que estão em torno de 32 ou 33 semanas de gravidez, evoluírem para formas graves da Covid-19 com descompensação respiratória. Em maio, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) também divulgou um estudo que constatou o aumento de mortes de grávidas e puérperas em 12 países, desde o início da pandemia.

A vacinação prioritária das grávidas e puérperas chegou a ser orientada pelo Ministério da Saúde no final de abril. No entanto, a pasta voltou atrás no início de maio, quando foi notificada de um caso suspeito de reações adversas: uma gestante desenvolveu um grave acidente vascular cerebral e morreu depois de receber a vacina desenvolvida pela Astrazeneca/Oxford.

O Ministério da Saúde abriu investigação sobre o caso e determinou preventivamente a suspensão da imunização de grávidas sem comorbidades. Manteve-se, então, apenas o atendimento às gestantes e puérperas com doenças preexistentes listadas no Plano Nacional de Imunização (PNI). Nesses casos, só deveriam ser usadas outras duas vacinas aprovadas: Coronavac e Pfizer.

Em muitas cidades e estados, no entanto, a imunização para este público sem comorbidades foi retomada posteriormente por decisão das autoridades locais. Em São Paulo, por exemplo, esse público voltou a ser atendido no dia 7 de junho. Já no Rio de Janeiro, isso ocorreu apenas no início dessa semana. Em Manaus, a vacinação foi retomada no fim do mês passado por ordem judicial em uma ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF). No cenário atual, não há um tratamento homogêneo no país e cada estado tem lidado com a situação de uma forma diferente.

O atendimento de gestantes e puérperas no PNI foi pauta de uma reunião da Câmara Técnica Assessora em Imunizações realizada na última sexta-feira (18), segundo informou o Ministério da Saúde ao Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 846. A pasta, no entanto, ainda não divulgou nenhuma nova recomendação.

Para os pesquisadores e epidemiologistas da Fiocruz, as grávidas e puérperas devem ser consideradas como um grupo de risco independente de comorbidades. Eles sugerem que sejam implementadas medidas variadas para frear a evolução das mortes, como qualificação das consultas de pré-natal, incentivando medidas de distância física, e realização de testes para admissão nas maternidades. “Consideramos fundamental acelerar a vacinação de todas as gestantes e puérperas no estágio atual da pandemia”, reitera o boletim. Agência Brasil