Agência Brasil

Enquanto os brasileiros debatem qual pode ser o preço máximo da gasolina e do diesel no país com os efeitos da guerra na Ucrânia – e o anúncio de que os Estados Unidos bloquearão o petróleo russo –, há quem se preocupe com um cenário ainda pior: o desabastecimento.

Segundo o sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura Adriano Pires, que tem sido consultado por parlamentares e por parte do governo nesta crise, o Brasil corre o risco de ficar sem combustíveis suficientes para abastecer seus veículos e máquinas.

Isso, se o país insistir em praticar no mercado interno um valor muito diferente do praticado no mercado internacional. Hoje, a defasagem nos preços praticados pela Petrobras é estimada em cerca de 40% para o diesel e gasolina – que, por sinal, não sofrem reajuste há 55 dias.

Os estoques da estatal estariam acabando e, apesar da produção nacional, tanto a Petrobras quanto outras empresas que atuam no Brasil importam parte do óleo utilizado. Cerca de 30% do mercado interno depende dessa importação feita pelas firmas privadas e pela Petrobras. É esta a fatia que depende do preço internacional.

“Minha preocupação não é a gasolina a R$ 12 o litro, minha preocupação hoje é o desabastecimento”, disse Adriano Pires em entrevista à GloboNews nesta terça. “É o risco de se praticar um preço dentro do Brasil muito diferente daquele praticado lá fora”. Dentro do governo, já há quem fale que, sem qualquer ação, a gasolina poderia chega aos R$ 15 por litro.

Por isso, seria preciso ou aprovar um subsídio para amortecer os preços – o que pode custar bilhões aos cofres públicos – ou fazer a Petrobras demorar mais tempo para reajustar seus preços – o que, na prática, já está acontecendo.

Com o bloqueio dos Estados Unidos à compra de petróleo russo, algumas instituições financeiras afirmam que o barril de petróleo tipo brent pode ultrapassar os US$ 150. Para o Brasil, o impacto na inflação seria direto.

Em ano eleitoral, ministros do governo chegam a desabafar que um reajuste abrupto dos preços dos combustíveis seria o passaporte para uma derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de outubro.

O tema é um dos principais elementos na mesa de discussões nesta terça em Brasília. Pelo mesmo motivo, a Petrobras vem sofrendo pressão para não reajustar preços. A renovação de mandatos no conselho da empresa, que ocorre nas próximas semanas, é hoje um trunfo na mão do controlador da petroleira: o governo Bolsonaro. Por Ana Flor/G1