Agência Brasil

O Brasil dobrou o número de armas nas mãos de civis em apenas três anos, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta quinta-feira (15). Em 2017, segundo a Polícia Federal, o Sistema Nacional de Armas (Sinarm) contabilizava 637.972 registros de armas ativos. Ao final de 2020, o número subiu para 1.279.491 – um aumento de mais de 100%.

Além disso, o número de pessoas físicas que pediram registros para atuarem como caçadores, atiradores desportivos e colecionadores (os chamados CACs) ao Exército Brasileiro aumentou 43,3% em um ano: de 200,1 mil pessoas, em 2019, para 286,9 mil, em 2020.

O crescimento no número de registros ocorreu no Brasil como um todo, mas em algumas unidades da federação o aumento foi muito maior que a média nacional. Onze unidades tiveram aumento superior aos 100% desde 2017, como o Distrito Federal, que saltou de 35.693 registros para 236.296 em 2020, um aumento de 562%.

Além de novas pessoas se cadastrando para ter armas, houve também um aumento do arsenal. Decretos editados pelo presidente Jair Bolsonaro e a autorização formalizada pela PF, em agosto de 2020, para a compra de quatro armas de fogo por pessoa, fizeram com que mais armas entrassem em circulação. Foram registradas 186.071 armas novas por civis, um aumento de 97,1%.

Para Isabel Figueiredo, advogada, mestre em direito constitucional pela PUC e integrante do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o aumento da circulação de armas está relacionado com os decretos, mas não só com os que facilitaram o porte como também os que fragilizaram mecanismos de controle. Com os decretos emitidos neste ano, um aumento ainda maior deverá ser observado nos próximos anos, estima. Com mais armas em circulação, aumenta a violência, segundo Isabel, para quem uma arma comprada precisa ser analisada por dois ângulos.

“Tem que olhar essa arma que está na mão do sujeito que comprou a arma. É uma arma que pode agravar situações de violência doméstica, pode agravar a situação interpessoal. As armas escalam uma situação de violência. Um bate-boca ou uma briga com uma arma tem uma tendência de ter um resultado piorado. Um estudo do Ipea mostra que, com 1% a mais de circulação de armas, aumenta em 2% o número de homicídios. Também há um aumento de acidentes, envolvendo crianças, e um aumento de suicídios”, diz.

“E o segundo impacto é que essa arma não fica na mão de quem comprou, essa arma é perdida, roubada, furtada, extraviada e até vendida, e ela está aumentando a criminalidade em geral. No mínimo 40% das armas apreendidas pela polícia são dos chamados ‘cidadãos de bem’, promotores, comerciantes, etc, que de alguma forma tiveram a arma extraviada e, com isso, vão alimentar a criminalidade urbana em geral”, afirma. G1