A CCR afirmou em acordo que fez com o Ministério Público de São Paulo que doou R$ 3 milhões por meio de caixa dois para a então candidata a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), atual presidente do Partido dos Trabalhadores, em 2010. No mesmo ano, o então senador Aloizio Mercadante (PT-SP) pediu R$ 3 milhões de reais e apenas recebeu R$ 1,7 milhão também via caixa dois, de acordo com a companhia.

 

O relato da doação a Gleisi foi feito pelo ex-presidente da CCR Renato do Valle em depoimento a promotores da área de Patrimônio Público e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado. De acordo com o ex-presidente da empresa, a doação para Gleisi foi solicitada por seu marido, Paulo Bernardo, ministro do Planejamento do governo Lula.

 

Segundo o depoimento do ex-presidente da CCR, Bernardo enviou um intermediário para tratar da entrega do dinheiro, o que teria sido feito em parcelas, por conta do alto valor. Nesta quinta (29), a CCR, maior empresa do país de concessões de rodovias, metrô e aeroportos, assinou um acordo com o Ministério Público no qual disse ter doado R$ 44 milhões para o caixa dois de políticos, em valores corrigidos segundo informações do Folhapress.

 

Os nomes dos políticos citados no acordo são mantidos em sigilo, mas a Folha de S.Paulo apurou que fazem parte do grupo o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), o senador José Serra (PSDB-SP) e o ministro de Ciência e Tecnologia Gilberto Kassab (PSD), conforme o jornal revelou na quinta (29).

 

Alckmin, Serra e Kassab refutam o relato da CCR e dizem que todos os recursos empregados em suas campanhas são legais e foram aprovados pela Justiça eleitoral. Há pelo menos mais dois tucanos na lista de beneficiados pelo caixa dois da CCR, ainda de acordo com a apuração da Folha de S.Paulo.

 

A empresa citou a doação via caixa dois de R$ 1 milhão para o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) em 2012 e R$ 340 mil para Edson Aparecido entre 2012 e 2013. Em 2012, Aparecido, atual secretário municipal de Saúde de São Paulo, era deputado federal e havia coordenado a campanha de Serra à prefeitura em 2012, vencida por Fernando Haddad (PT).

 

Em outubro daquele ano, foi escolhido por Alckmin para chefiar a Casa Civil, a pasta mais importante do governo paulista. A concessionária contou no acordo que também em 2010 doou R$ 1 milhão para Marta Suplicy, quando ela era candidata ao Senado pelo PT. Eleita, trocou o partido pelo MDB em setembro de 2015. Neste ano, anunciou que estava deixando a política.

 

A CCR também citou a doação ilícita de R$ 1 milhão para o deputado estadual Campos Machado (PTB), feita entre 2012 e 2013, e de R$ 150 mil para o também deputado estadual Antonio Mentor (PT), em 2012. No acordo, os executivos da CCR não relatam que houve contrapartida dos políticos para a doação via caixa dois, o que poderia caracterizar o crime de corrupção.

 

A CCR aceitou pagar uma multa de R$ 81,5 milhões para encerrar os processos que seriam instaurados para apurar as doações ilegais. Desse montante, R$ 60 milhões serão destinados ao governo paulista, R$ 17 milhões serão doados à Faculdade de Direito da USP, para a reforma de uma biblioteca, e R$ 4,5 milhões serão destinados a um fundo de interesses difusos.

 

O promotor José Carlos Blat, que negociou o acordo, diz que não pode confirmar os nomes dos políticos porque o acordo tem caráter sigiloso para resguardar a apuração. A CCR também diz que não pode comentar o acordo por ele ser sigiloso, mas afirma que colabora com as investigações.

 

OUTRO LADO

A senadora Gleisi Hoffmann diz que é mentirosa a declaração sobre a doação de R$ 3 milhões via caixa dois para sua campanha. “Este senhor mente! Não recebi esse dinheiro para nenhuma campanha. Agora virou moda fazer delação acusatória, sem provas, e vazar para a imprensa, principalmente contra o PT e suas lideranças. Quero lembrar que já fui absolvida de um processo em que me acusaram desta maneira. Neste caso, por ser absolutamente infundada e mentirosa a acusação, sequer posso ser processada!”

 

O ministro Aloysio Nunes Ferreira disse o seguinte sobre a menção ao seu nome por executivos da CCR: “É mentira. Vazamento irresponsável de depoimento mentiroso e cujo acordo sequer foi homologado. Processarei os responsáveis pelo vazamento e pela calúnia”.

 

Mercadante disse em nota que “é completamente falsa a informação de que o ex-candidato ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante tenha pedido apoio financeiro para a concessionária CCR”. Ainda segundo a nota, “Mercadante sempre foi muito crítico aos preços dos pedágios praticados nas estradas estaduais e defendeu, como candidato, uma revisão semelhante ao que os governos do PT estabeleceram nas estradas federais”.

 

Ele disse estranhar a menção porque a seu nome “porque nunca recebeu e não autorizou ninguém a solicitar apoio financeiro de empresas concessionárias de pedágio para sua campanha”. O ex-ministro espera ser ouvido e confia inteiramente na investigação e na justiça. A prestação de contas de sua campanha respeitou rigorosamente a legislação, foi aprovada integralmente pela Justiça Eleitoral e está disponível para consulta de qualquer cidadão há 8 anos.

 

Campos Machado rebateu a versão da concessionária: “As doações que recebi em todas as minhas campanhas foram exclusivamente dentro das exigências da lei, tanto é que foram aprovadas pela Justiça eleitoral”. Os outros citados pela CCR ainda não se manifestaram

 

OS CITADOS PELA CCR NO ACORDO SOBRE CAIXA DOIS

Geraldo Alckmin (PSDB)
R$ 4,5 milhões

José Serra (PSDB)
R$ 3 milhões

Gleisi Hoffmann (PT)
R$ 3 milhões

Gilberto Kassab (PSD)
R$ 2,8 milhões

Aloizio Mercadante (PT)
R$ 1,7 milhão

Aloysio Nunes Ferreira (PSDB)
R$ 1 milhão

Marta Suplicy (PT à época)
R$ 1 milhão

Campos Machado (PTB)
R$ 1 milhão

Edson Aparecido (PSDB)
R$ 340 mil

 

Antonio Mentor (PT)
R$ 150 mil