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Nos círculos opostos ao do grupo do ministro da Cidadania, João Roma, a dúvida é sobre até quando ele conseguirá manter o discurso de que é candidato ao governo da Bahia. Tanto para os aliados agrupados em torno do ex-prefeito e candidato ACM Neto (DEM) quanto para os petistas, que trabalham pelo lançamento da candidatura do senador Jaques Wagner (PT) a governador, Roma tem sido colhido por um conjunto de más notícias que não devem se dissipar até o ano eleitoral de 2022, todas a indicar-lhe um caminho imensamente mais pedregoso à sucessão estadual do que imaginara quando assumiu a posição de auxiliar de Jair Bolsonaro (PL).

Então, como todos os apoiadores políticos do presidente cheios de credulidade, Roma tinha a expectativa de que a economia deslancharia este ano, favorecendo a elevação da popularidade presidencial e ajudando todos aqueles que com ele fossem identificados eleitoralmente. As últimas pesquisas, nacionais e locais, transformando em dados o nível da rejeição ao presidente e da desaprovação ao seu governo, motivadas por um desesperançoso cenário econômico, viraram elementos a desencorajar quem quer que decida concorrer atrelando-se ao bolsonarismo, mesmo que o novo ano ainda não tenha começado e muita água possa correr debaixo da ponte.

A dias de hoje, portanto, não é difícil prever que Roma só toparia assumir uma candidatura ao governo se o presidente, de fato, o obrigasse, sob o argumento de que sua missão seria criar um palanque exclusivo para ele no Estado. Uma condição a que o primeiro filho presidencial, Flávio Bolsonaro (PSL), senador pelo Rio de Janeiro, já se referiu, reportando-se indiretamente, entretanto, a uma alternativa mais plausível para o prestimoso ministro no ano que vem – a de candidato ao Senado. Embalados pela referência, não têm sido poucos os amigos do ministro a indicar-lhe o pleito de senador como o mais compatível com o seu universo.

A possibilidade levanta duas outras questões às quais não se furtam igualmente de responder: a primeira delas leva à definição da chapa e a segunda, naturalmente, a quem irá liderá-la. Para ambas, no entanto, a resposta, curiosamente, é a mesma. Decidindo concorrer ao Senado, Roma não precisaria vincular-se a chapa alguma, mas sair como candidato avulso, na esperança de fazer uma composição ‘à distância’ com ACM Neto. Mas o acordo só funcionaria se Neto não preenchesse a vaga de senador em sua chapa, o que permitiria uma articulação entre ambos, ainda que ‘separados’. É, naturalmente, no que pensa apenas o pessoal de Roma.

Embora entenda que pode ser uma forma de agregar votos do bolsonarismo radical à campanha do democrata, o time do ex-prefeito alega que ele não precisa do entendimento, ao lembrar que já há gente demais querendo ir para a sua chapa. Depois, porque, para aceitar o plano, ele teria que superar o trauma do rompimento, considerado uma traição inominável de Roma, que, além de ter que reconquistá-lo, seria obrigado a desfazer a barreira, considerada hoje intransponível, representada pela família do ex-prefeito, de cuja influência em sua vida pública, como se sabe, Neto não abre mão. Tribuna da Bahia