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Uma criança de 6 anos foi baleada dentro de casa no bairro de Tancredo Neves. O tiro quebrou uma janela de vidro, rasgou uma cortina, atingiu o menino e foi parar na parede da sala. O caso aconteceu em março. Quatro meses depois, um garoto de 10 anos foi baleado no pescoço enquanto brincava na porta de casa, em Lauro de Freitas. Ele morreu. Em setembro, um homem armado invadiu uma casa no Alto das Pombas e fez uma família de refém, incluindo duas crianças.

O levantamento Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2023 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2022, e divulgado nesta quarta-feira (6), revelou o que muitos baianos já vinham sentindo no dia a dia. Cerca de 25% da população com 15 anos ou mais que vive na Bahia não se sente segura no bairro onde mora. Em Salvador, o índice é ainda maior, 49,5% dos moradores têm medo. Uma mulher que trabalha como diarista e mora em Coutos, e que pediu para não ser identificada, mudou os hábitos por conta da insegurança.

“Aqui em casa o portão fica sempre trancado. Tenho netos, mas não me sinto segura em deixar eles brincarem na rua, por isso, eles ficam sempre em casa. É uma pena, porque eu queria que eles tivessem a infância que meus filhos tiveram de poder brincar na rua com os amigos. A gente também tem evitado chegar em casa depois das 22h, porque toda hora tem notícia de tiroteio”, conta.

Na Bahia, existem 11,8 milhões de pessoas com 15 anos ou mais e 11,4% delas disseram que se sentem inseguras ou muito inseguras dentro da própria casa. Em Salvador, o percentual foi de 11,8%. Dados do anuário do Observatório da Segurança, por exemplo, mostram que entre 2021 e 2022 o roubo a residência aumentou de 680 para 1.608 no estado. Na casa do estudante Lucas Andrade, 28 anos, a porta fica sempre trancada.

“Trocamos o portão recentemente. Eu já fui assaltado duas vezes em menos de seis meses, uma quando tinha acabado de subir no ônibus, aqui no bairro, e outra quando estava chegando do trabalho. Eles [bandidos] sempre querem celular. Eu evito aparelhos mais caros por conta disso mesmo”, explica.

Quando questionados pelo IBGE se sentem segurança no bairro onde moram, 25,6% dos baianos responderam que ‘não”. O índice está abaixo da média nacional de 26,6%, mas coloca a Bahia como o 19º estado com maior sensação de insegurança no Brasil.

“Tem oito anos que eu moro no bairro, a gente percebe que a segurança está muito a desejar e sinto muito pelas famílias principalmente pelos idosos não podem sair de casa para interagir uns com os outros. Justamente pela falta de segurança, quando chega certo horário, eu vou logo para casa e quando eu saio à noite, eu só saio com o meu esposo”, relatou Heliene Mascarenhas, professora aposentada e moradora dos Barris.

A supervisora de disseminação de informações do IBGE, Mariana Viveiros, frisou que a insegurança é atravessada por outras questões. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, no ano passado, 7,5 milhões de baianos viviam na linha da pobreza. São famílias com renda domiciliar per capita mensal de R$ 637, o que corresponde a 50,5% da população.

“A gente sabe que o nível de segurança tem uma relação com uma questão socioeconômica da população, não apenas com a pobreza, mas com a desigualdade, com a tensão que existe entre a pobreza espalhada de um lado e a riqueza concentrada do outro. Isso não causa a violência, mas a violência tem um componente nessa tensão socioeconômica, e que leva a sensação de insegurança maior”, explicou.

A região Norte é onde as pessoas se sentem mais inseguras no país. Os estados do Amapá (48,1%), Amazonas (46%) e Pará (37,6%) lideram o ranking. Já as populações com maior sensação de segurança são Santa Catarina (9,9%), Minas Gerais (18,1%) e Rio Grande do Sul (18,8%).

Quando o recorte é feito por capital, Salvador ocupa o 8º lugar no ranking. A insegurança é maior em Teresina/PI (58,3%), Macapá/AP (57,9%) e Manaus/AM (55,0%). No outro extremo do ranking, estão Florianópolis/SC (10,2%), Belo Horizonte/MG (25,1%) e Cuiabá/MT (25,5%). A Secretaria da Segurança Pública (SSP) foi procurada para comentar os números da pesquisa, mas ainda não se manifestou.

Confira o ranking de insegurança no Nordeste:

Por estado:

• 4º) Rio Grande do Norte (37,3%)

• 5º) Pernambuco (35,6%)

• 9º) Ceará (33,7%)

• 10º) Maranhão (32,9%)

• 11º) Sergipe (32,8%)

• 13º) Piauí (29,9%)

• 15º) Alagoas (27,1%)

• 16º) Paraíba (26,2%)

• 19º) Bahia (25,6%)

Por capital:

• 1º) Teresina (58,3%)

• 4º) Natal (53,6%)

• 5º) Fortaleza (52,3%)

• 6º) São Luís (50,6%)

• 7º) Recife (49,9%)

• 8º) Salvador (49,5%)

• 11º) Aracaju (46,3%)

• 12º) João Pessoa (44,2%)

• 20º) Maceió (32,7%) (Correio da Bahia)