O líder da oposição da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), Sandro Régis (DEM), projeta que o ex-prefeito ACM Neto chegará em 2022 “com altíssima popularidade e com trabalho aprovado”. Nesta entrevista ao Política Livre, ele afirma que acredita que o eleitor baiano “sabe diferenciar muito bem a eleição estadual da nacional” ao comentar o fato de Lula ser o presidenciável com maior aprovação na Bahia. Sobre o principal adversário de Neto comentou: “[O senador pelo PT, Jaques] Wagner está achando que vai ser eleito só com as bênçãos de Lula”.

O líder oposicionista declara que a Bahia vive também uma pandemia de violência e afirma que “o PT tem essa velha mania de culpar os outros para não assumir a responsabilidade pelos seus erros”. “A pandemia da Covid-19 é controlada pela vacina, mas a da violência o PT não consegue controlar”, ataca o democrata. Ele ainda afirma que a educação no estado só fez piorar durante as gestões petistas. “Nem precisa a oposição criticar, os números falam por si”, assegura.

O democrata anuncia que faria um requerimento para apurar irregularidades nas gestões da Federação Baiana de Futebol (FBF), mas declarou que a oposição não esqueceu o escândalo da compra dos 300 respiradores para tratamento de pacientes com Covid-19, ao preço de R$ 48 milhões, que nunca chegaram. O deputado lembra que “é um tema que está no nosso radar e que vamos continuar cobrando investigação e punição para os responsáveis”. Sandro Régis ressalta, entretanto, que as CPIs sobre a FBF e a Coelba são também necessárias.

Política Livre – O senhor disse na semana passada que apresentaria uma proposta de CPI para investigar a atuação da Federação Baiana de Futebol (FBF), inclusive a gestão do ex-presidente da instituição e atual presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. Avançou essa proposta? Conseguirá colher assinaturas suficientes? Este pedido de CPI foi motivado pelos erros de arbitragem ocorridos em três jogos contra o Bahia e pela falta de ação da FBF em defesa dos clubes baianos?

Sandro Regis – Estou neste momento conversando com os deputados, dialogando e ouvindo o que pensam. O fato é que precisamos investigar a atuação da FBF, que ficou quase duas décadas nas mãos de um só cacique. Vamos cobrar transparência para que a população baiana tenha respostas. Inclusive, é preciso haver uma apuração sobre o trabalho da FBF no incentivo ao futebol pelo interior do estado, no apoio aos clubes menores, às competições amadoras. Na primeira divisão do futebol nacional, o Bahia tem sido recorrentemente prejudicado pela arbitragem. E o que tem feito a federação? Isso precisa ser respondido.

Há uma proposta de CPI para investigar a Coelba, que, inclusive, já tem o número de assinaturas necessárias para a instalação. Não seria o caso, porém, de os deputados estaduais também avaliarem a instalação de uma CPI para investigar a compra malsucedida de respiradores feita pelo Consórcio Nordeste?

Sem dúvidas que seria. Já houve uma tentativa de criação de uma CPI para a questão dos respiradores, mas acabou não avançando porque não temos número suficiente de deputados na oposição. Precisaríamos de 21 assinaturas. Agora, para mim, isso vai muito além de governo e oposição. É uma questão que envolve o dinheiro do contribuinte baiano, que foi gasto pelo governo do PT sem que os respiradores fossem entregues. Todos nós, deputados, independentemente de ser governo ou oposição, precisamos ter responsabilidade com o povo da Bahia e cobrar punição para os responsáveis por essa atuação criminosa contra os cofres públicos do nosso estado. Estamos acompanhando os trabalhos da CPI no Rio Grande do Norte e as investigações estão avançando muito, inclusive contra agentes públicos da Bahia. Esperamos um desfecho, com punição para os responsáveis e devolução do dinheiro.

A oposição sozinha não tem assinaturas suficientes para a instalação de uma CPI, mas não ficaria “feio” para a Assembleia apurar apenas irregularidades na FBF e na Coelba?

Mas nós não esquecemos. Veja, houve uma tentativa, inclusive com sondagens a deputados, para que uma CPI fosse instalada. Contudo, sem número suficiente de apoios, não avançou. Mas é um tema que está no nosso radar e para o qual vamos continuar cobrando investigação e punição para os responsáveis. Os processos estão correndo na Justiça e nós temos confiança que haverá um resultado positivo para a população. Agora, uma coisa não anula a outra. As CPIs da FBF e da Coelba são também importantes e suas investigações são necessárias.

Falando agora das eleições de 2022, o ex-prefeito ACM Neto lança a candidatura dele ao governo estadual em 2 de dezembro. O que essa candidatura trará de novidade para o cenário baiano a ponto de reverter o cenário visto nas eleições de 2006, 2010, 2014 e 2018, quando o PT venceu as disputas?

Mesmo antes de oficializar a pré-candidatura ao governo, ACM Neto já reúne apoio e, no interior, tem uma popularidade impressionante. Onde Neto chega é uma festa, o povo vai conversar, tirar foto, dar um recado. Estive com ele em algumas dessas viagens e posso atestar que a popularidade e, principalmente, a confiança das pessoas nele só cresce. ACM Neto chega com um discurso de renovação, de superação dos problemas que foram acumulados nos governos do PT ao longo desses quase 16 anos, a exemplo da educação do estado, que tem o pior ensino médio do país, e da segurança pública, com a Bahia liderando há anos o ranking de homicídios. Sem contar que Neto tem pregado a importância do desenvolvimento regional, porque temos ainda muita concentração de investimentos na região metropolitana de Salvador. E isso é fundamental para a geração de emprego e renda, porque nosso estado tem uma das maiores taxas de desemprego do país, além de ter o maior número de pessoas extremamente pobres. Enfim, eu acredito que ACM Neto representa esse desejo de mudança que nós estamos vendo por toda a Bahia. Está claro que há um desgaste do PT, tanto por um desgaste natural dos 16 anos, quanto pelos problemas graves que eles vão deixar no nosso estado.

Tanto ACM Neto quanto o senhor, conforme declaração feita pelo senhor na quarta-feira (17), falam que falta empolgação no senador Jaques Wagner (PT) para a disputa pelo Palácio de Ondina em 2022. Isso é somente provocação ou é uma constatação?

Olha, primeiro eu quero ressaltar que não há aqui nenhuma ofensa pessoal ou provocação barata. Isso na verdade é uma percepção nossa do que temos visto no momento. É só você pegar as declarações e as entrevistas do senador Jaques Wagner. Conforme a própria imprensa mesmo noticia, ele quase não tem viajado ao interior do estado. Se você pegar e comparar as entrevistas dele e de Neto, você vai ver que Neto está não só empolgado como ciente do desafio que o espera. Agora, o que me parece é que Wagner está achando que vai ser eleito só com as bênçãos de Lula e, por isso, tem ficado mais na dele. E isso já ficou claro que não vai acontecer na Bahia.

Ao que tudo indica, os números da educação baiana – com o baixo desempenho no Ideb – podem ser um dos pontos principais que a oposição utilizará para atacar as gestões petistas. Mas o que é necessário fazer para melhorar o cenário?

Nem precisa a oposição criticar, os números falam por si só. É impressionante que, em todos esses anos, a educação da Bahia só fez piorar. Temos o pior ensino médio do país. Nosso estado deveria liderar o país, mas com o PT só lideramos coisas negativas, vide o ranking de homicídios. E na educação vale lembrar que a Bahia tem ainda a maior taxa de analfabetismo. Enfim, são números vergonhosos e que são, sim, de responsabilidade do PT, que nunca priorizou a educação. No interior, você passa por todas as cidades e não vê novas escolas estaduais. Ao contrário, as que existem estão em péssimas condições. Nosso grupo, que é liderado por Neto, está construindo um programa amplo e muito robusto, que vai colocar a educação como prioridade e fazer investimentos tanto na infraestrutura das escolas, quanto na valorização dos profissionais e na maior qualidade do processo de ensino e aprendizagem. Não tem outro caminho: priorizar a educação e investir, agora investir com responsabilidade e gestão, garantindo que o resultado para a população seja efetivo.

A escalada da violência na capital e no interior realmente assusta. Petistas dizem que isso é fruto da política armamentista do governo Bolsonaro. O senhor concorda? Quem são os culpados pela escalada da violência na Bahia?

O PT tem essa velha mania de culpar os outros para não assumir a responsabilidade pelos seus erros. Isso é o que acontece na segurança pública. Durante anos o PT negligenciou o problema, não combateu o crime organizado, não se preocupou com o avanço da violência pelo interior, não deu às estruturas policiais condições para enfrentar a bandidagem. O resultado é que vimos os números da violência mais que dobrarem nos governos do PT. O grande culpado disso tudo são os governos petistas, desde Wagner e agora com Rui. Eles é que falharam e continuam falhando. Os números dizem isso. O Monitor da Violência, do G1, mostrou esta semana que a Bahia registrou quase 11% de aumento no número de mortes violentas de janeiro a setembro deste ano em relação a 2020. Ou seja: nós já temos números alarmantes e, ainda por cima, vivemos um aumento. Tenho dito que, além do coronavírus, a Bahia vive também uma pandemia da violência. A pandemia da Covid-19 é controlada pela vacina, mas a da violência o PT não consegue controlar, e isso tem custado milhares de vidas baianas todos os anos.

Jaques Wagner deve ser candidato ao lado de Lula, que tem alta aprovação na Bahia e alavancou a primeira vitória de Wagner em 2006. Naquela eleição, Paulo Souto figurava na dianteira nas pesquisas. O que fazer então para impedir a repetição do mesmo cenário, já que os possíveis nomes que podem ser apoiados por Neto – como Ciro Gomes e Luiz Henrique Mandetta, por exemplo – ainda patinam nas pesquisas? O senhor acredita que os baianos podem dar vitória a Lula e a ACM Neto no estado?

Eu acredito que o eleitor da Bahia sabe diferenciar muito bem a eleição estadual da nacional. Não creio que há essa influência nacional tão pesada na disputa estadual. As vitórias do PT no passado não estão somente relacionadas à questão nacional, a Lula, mas também estão ligadas a uma série de fatores locais mesmo. E tem outro detalhe: a política é muito dinâmica. Aqueles que hoje estão com popularidade alta podem não estar amanhã. ACM Neto lidera com folga as pesquisas, mas nós estamos trabalhando ainda mais para levar nossos projetos aos quatro cantos da Bahia. Para o próximo ano, temos a nossa candidatura mais competitiva dos últimos anos com Neto. Essa mensagem já chegou nas pessoas, que cada vez mais demonstram confiança no nosso projeto. Chegaremos em 2022 com um grupo muito forte, com um candidato com altíssima popularidade e com trabalho aprovado e que virou referência na Bahia e no Brasil. Na hora de votar, as pessoas vão escolher quem é melhor para a Bahia, e não votar apenas em um candidato apadrinhado por político A ou B. Política Livre