Queda e elevação de até 400%. A chuva que caiu nas últimas semanas na Bahia puxou para baixo o preço de muitos alimentos, mas nem chegou a refrescar o valor alto de outros produtos. O correio fez um levantamento nas principais regiões do estado para saber até que ponto a chuva está influenciando na mesa do consumidor. Os dados indicam que as oscilações de preços devem continuar atingindo muitos alimentos nos próximos meses.

Quiabo

Quiabo a perder de vista, bom e barato. Nas feiras livres de Salvador, o preço do fruto caiu até 75%. Na Ceasa de Simões Filho, a saca com 30 quilos que custava 60 reais, agora não passa dos 15 reais. Em alguns mercados da capital baiana, o quilo caiu de R$ 7 para R$ 2. Assim, o produto está se multiplicando nas bancas.

A fartura é reflexo de vários fatores. A safra em Sergipe, um dos principais fornecedores do Nordeste, está em alta. Além disso, a chuva que caiu nas últimas semanas no interior da Bahia ajudou as plantações de sequeiro, não prejudicou as plantações irrigadas, manteve a safra abundante e faz o preço despencar.

“Nesta época há um excesso de fruto no campo. Alguns produtores nem chegam a retirar da plantação, porque fica tão barato que não cobre os custos de produção. Fica inviável colher. Alguns chegam a dar aos animais ou até jogar fora. E não adianta fazer conserva ou colocar no congelador, porque ele endurece”, conta o produtor rural Paulo Cézar Bernardino, que cultiva quiabo há 16 anos na região de Jaguaquara, no centro sul da Bahia.

Mas a queda no preço não deve durar muito. A tendência é de alta com a aproximação da Semana Santa, quando o procura cresce quatro vezes mais. Os agricultores adiantam que até lá a variação vai ser no sentido contrário, para cima, com elevação de até 300% no preço. Este é o segundo período do ano em que o baiano mais consome quiabo, depois de setembro quando acontece o tradicional caruru.

A Bahia é o quinto maior produtor de quiabo do país. Cerca de 6.700 agricultores cultivam o fruto no estado. De acordo com o último levantamento do IBGE, em 2017, foram produzidas mais de 11.300 toneladas de quiabo.

Os maiores produtores estão concentrados nos municípios de Jeremoabo, Tanhaçu, Barra da Estiva, Juazeiro, Santo Estevão, Várzea da Roça e Iramaia. Apenas os agricultores do povoado de Ilha Grande, em Iramaia, produzem cerca de 8 toneladas de quiabo por semana.

O quiabo registrou queda de 75%, mas deve voltar a subir até a semana santa. (Foto: Luiz Vaz Ribeiro)

Feijão

Em Salvador, o quilo do feijão vem registrando altas consecutivas que ultrapassam os 12% ao mês, de acordo com dados do Dieese. Tem sido assim desde o fim do ano passado por causa da seca. E apesar da chuva que vem caindo nas regiões produtoras, o grão deve continuar com preços elevados, pelo menos durante os próximos cinco meses.

No município de Euclides da Cunha, um dos maiores produtores de feijão do país, choveu mais de 300 milímetros nas últimas duas semanas. O índice, quase metade do previsto para o ano inteiro, ajudou a irrigar o solo seco, e a encher os açudes castigados pela longa estiagem.

Mas os agricultores afirmam que a chuva só vai se refletir no preço dos produtos agrícolas da região a partir de agosto, quando deve começar a colheita da safra, ainda em fase de plantio. Até lá a tendência é de alta.

“As chuvas foram boas, a contento, e não houve intempéries como enchentes e estragos. Os agricultores estão animados, querendo plantar e preparando o solo. Mas estamos encarando com cautela, e não deve haver aumento da área plantada. A perspectiva é apenas começar a recuperar os quatro anos de perdas consecutivas. O feijão deve continuar com este preço até agosto, até estabilizar a produção”, afirma Maria Djalma, produtora rural e secretária de agricultura de Euclides da Cunha. O feijão é a base da economia do município do semiárido e serve de renda para mais de 12 mil produtores rurais.

A saca de 60 quilos, do tipo carioquinha, está custando em média R$ 320, cerca de 400% a mais do que a menor cotação anteriormente registrada na região.

Em outra grande área produtora do estado, entre os municípios de Adustina e Fátima, o feijão está ainda mais caro. A saca está cotada a R$ 350. Bem acima dos R$ 100 registrados antes da última seca. A região conta com mais de 6 mil produtores,

Nestes municípios a chuva das últimas semanas ultrapassou os 200 milímetros, cerca de 30% do esperado para o ano todo. Muitos agricultores estão aproveitando para arar o solo, mas não há previsão de queda nos preços a curto prazo.

“Quase todo dia está chovendo. Os mananciais estão cheios. Mas tem muita gente descrente com o feijão e desistindo da cultura para plantar milho. Além disso vamos ter que esperar mais de 60 dias depois do plantio. Por este motivo talvez o preço não desça. A não ser que venha feijão de outros estados como Mato Grosso e Goiás”, afirma o produtor rural Roberto Santos.

Em Adustina, agricutores começaram o plantio da nova safra de feijão. A saca esta custando R$ 350 na região. (Foto: Roberto Santos)

Banana da Terra 

O preço de outra fruta vem assustando os consumidores, a banana da terra. A fruta registrou alta de 230% na capital baiana. O cento que custava até R$ 15 em fevereiro, está sendo comercializado por R$ 50 nas centrais de abastecimento. O quilo subiu de R$ 1 para R$ 2,50.

No Baixo Sul do estado, região que mais produz banana da terra no Brasil, a chuva foi generosa nos últimos dias. Choveu entre 80 e 150 milímetros nos municípios de Gandu, Teolândia, Presidente Tancredo Neves e Wenceslau Guimarães. Os agricultores estão otimistas, mas ainda não conseguiram recuperar os pomares afetados pela seca no fim do ano passado.

“Nós perdemos muitas bananeiras que ficaram desidratadas, e não dá para recuperar de uma hora para outra. Vai demorar um pouco. São necessários três ou quatro meses de chuva frequente para voltar a aumentar a produção. E isso vale também para o cacau, principal cultivo da região”, afirma Renato Dias, produtor rural e Coordenador do Comitê de Fruticultura do Baixo Sul.

Batata

A batata, outro produto que vinha registrando cotações elevadas nas feiras de Salvador, começou a sofrer uma leve queda de preços. Na Ceasa de Simões Filhos, a saca de 50 quilos está custando R$ 260, cerca de 15% abaixo do preço cotado em fevereiro. O quilo, que estava sendo vendido por R$ 9, agora pode ser encontrado nas feiras da capital por R$ 7.

Mas o consumidor, que costuma usar o produto na ceia da semana santa, não deve se animar muito. A tendência de queda deve durar pouco, e dificilmente o produto vai voltar as cotações normais. Não foi a chuva daqui que influenciou na sutil redução do preço. O motivo principal foi o início da regularização da produção nos outros estados, como Espírito Santo, Minas Gerais e Santa Catarina, onde parte da safra anterior havia sido perdida devido aos temporais.

Na Bahia a produção continua reduzida na Chapada Diamantina, entre os municípios de Mucugê e Ibicoara, onde as plantações são irrigadas. Nestes municípios a chuva ainda não foi suficiente para permitir um aumento significativo do nível das barragens, de onde sai a água usada nas plantações.

“Está começando a acontecer uma recarga dos rios e do solo, e isso é muito importante. Por que nós estávamos atravessando um período de seca prolongada, e diminuímos muito a área cultivada. A chuva serve de alento para os agricultores, mas ainda não é suficiente para recarregar o lençol freático”, afirma Evilásio Fraga, coordenador do Agropolo.

A recuperação do preço e da produção interna de batata vai ser lenta. Com a chuva de março, o nível da Barragem do Apertado subiu apenas de 6% para 11%, um nível considerado ainda muito baixo. Outro produto produzido na região também está mais caro, o tomate. Nas principais centrais de abastecimento, a caixa aumentou de R$ 80 para R$ 120.

Excesso de sol e de chuva

As hortaliças também estão cerca de 50% mais caras na Região Metropolitana de Salvador. Tem couve sendo vendida até por 15 reais. Os motivos são contrários. Os feirantes culpam a seca que atingiu as hortas no fim do ano passado, e o excesso de chuva que destruiu muitas plantações nas últimas semanas.

“O sol forte demais estraga e a chuva em excesso dizima. O maço de hortelã miúdo está chegando aqui por até R$ 15, antes custava R$ 6. O mesmo acontece com o coentro e a cebolinha. A gente não pode aumentar para não assustar o cliente. A única coisa que podemos fazer é explicar para o consumidor e diminuir a quantidade do maço, para ele continuar levando”, explica o feirante Luiz Vaz Ribeiro, da Ceasa do Ogunjá.

Hortaliças registraram alta de 50% na capital baiana. Sol forte e chuva em excesso são os principais motivos. (Foto: Paulo Cézar Bernardino)

Mamão

Os bons ventos da chuva também ainda não influenciaram no preço do mamão, que subiu mais de 300% de janeiro para cá. Nas principais feiras de Salvador, o quilo que custava R$ 0,50 centavos, agora sai por mais de R$ 2.

A alta é reflexo da queda da produção nas principais regiões produtoras, como Eunápolis, no Sul da Bahia. Os produtores rurais do município enfrentaram as altas temperaturas provocadas pelo El Niño, e mais de noventa dias de seca entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019.

O volume de chuva no município ultrapassou os 120 milímetros esta semana. A quantidade foi suficiente para molhar os pomares, mas vai demorar alguns meses para beneficiar o bolso do consumidor. Depende do tempo de maturação dos novos frutos.

“O agricultor da Bahia vinha sofrendo muito com os efeitos do El Niño, que provocava altas temperaturas e períodos longos de estiagem. Agora os indicadores apontam que a tendência é a situação se normalizar. Acreditamos que as safras no campo vão ficar mais regulares, já que este fenômeno do clima está perdendo força”, pontua Rui Dias, produtor rural e vice-presidente de desenvolvimento agropecuário da Federação de Agricultura e Pecuária da Bahia.

Salvação do cafezal

No Extremo Sul e na Chapada Diamantina, a chuva que atingiu os cafezais está ajudando a salvar pelo menos 60% dos grãos. Os pés vinham sofrendo com a seca e as temperaturas elevadas, que acabaram prejudicando o desenvolvimento de cerca de 40% dos frutos.

Chuva das últimas semanas salvou cafezais e devolveu o verde as plantações de Barra da Estiva, na Chapada Diamantina. (Foto: Luiz Eusébio)

Em Barra da estiva, onde existem cerca de 3.600 cafeicultores familiares, a chuva salvou a lavoura e evitou a perda de muitos cafezais. Os pés voltaram a ficar verdinhos.

“Estávamos com mais de 60 dias sem chuva, e parte dos grãos não cresceram como deveriam. Mas esta chuva foi essencial para barrar a perda que vinha ocorrendo, agora a colheita do café está garantida. A chuvinha definiu a safra, exatamente no momento em que o grão está criando mais consistência e indo para o ponto de maturação”, conta Luiz Euzébio Filho, produtor rural e secretário de agricultura do município.

O preço para o consumidor deve continuar baixo, já que o mercado continua com excesso de grãos, devido as safras abundantes dos anos anteriores.

Novo aplicativo fornece dados de chuva e rios em todo o Brasil

Os agricultores possuem agora uma nova ferramenta para obter dados sobre chuva, vazão e nível dos rios brasileiros. O aplicativo Hidroweb Mobile foi lançado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e está disponível para dispositivos móveis com sistemas Android e iOS.

O dispositivo gratuito traz dados coletados nas mais de 3 mil estações hidrometeorológicas gerenciadas para agência. O aplicativo oferece a opção para o usuário encontrar as estações mais próximas, consultar por estado, município, bacia hidrográfica ou entidade responsável pelo monitoramento do local. É possível visualizar dados sobre vazão dos rios no último dia, por semana, mês e ano.

A ferramenta inclui ainda vídeos sobre direito de uso de recursos hídricos e cobrança pelo uso da água.

“Com o Hidroweb Mobile, o cidadão e profissionais da área de recursos hídricos passam a contar com um acesso simplificado a dados, em tempo real, de níveis e vazões dos principais rios do Brasil e de chuva em várias cidades brasileiras. Para isso, basta usar dispositivos móveis, como celulares e tablets “, afirma o coordenador de Dados e Informações Hidrometeorológicas da ANA, Walszon Lopes.

Aplicativo monitora volume de chuva e pode ter acessado por todas as plataformas. Foto: Agência de Águas ANA

Para baixar na Play Store (Android), acesse: https://play.google.com/store/apps/details?id=br.gov.ana.hidroweb

Para baixar na App Store (iOS), clique em:https://itunes.apple.com/br/app/hidroweb/id1453212814

O Hidroweb também pode ser acessado por meio de computadores pelo link: http://www.snirh.gov.br/hidroweb/publico/mapa_hidroweb.jsf.

(Informações do Correio da Bahia)