Alexandre Loureiro/ CBF

A pandemia do novo coronavírus mergulhou o mundo esportivo em um mar de incertezas. Enquanto CBF e federações discutem quando será possível o retorno do futebol e a conclusão dos campeonatos que estão paralisados, a situação da maioria dos clubes que disputam o Campeonato Baiano praticamente dá a certeza de que, mesmo faltando apenas duas rodadas para o fim da primeira fase, o torneio dificilmente será concluído em 2020.

O Correio da Bahia conversou com sete das oito agremiações do interior que estão no estadual – apenas o Jacobina não atendeu às ligações -, e, entre eles, é unânime a ideia de que é praticamente impossível voltar a fazer futebol na atual temporada.

Cada clube tem a sua particularidade, mas, na maioria dos casos, o problema está ligado ao lado financeiro e falta de elencos. Sem calendário para o segundo semestre, Juazeirense, Fluminense de Feira e Doce Mel liberaram os jogadores após o anúncio da paralisação e precisariam remontar as equipes para jogar o restante do Baianão.

“No primeiro dia em que a Federação Bahiana paralisou o campeonato, liberamos todos os atletas. Hoje, nós temos 95% das rescisões contratuais resolvidas com funcionários e jogadores. Não foi fácil, estamos passando muita dificuldade. Se o campeonato retornar e não tiver ajuda da Federação Bahiana, infelizmente o Fluminense não vai participar”, explica o Pastor Tom, presidente do Touro do Sertão.

O discurso está alinhado ao de Roberto Carlos, mandatário da Juazeirense. Ele explica que perdeu todos os patrocínios da equipe durante a pandemia e que não teria como fazer contratos de três meses com os atletas – mínimo exigido pela lei trabalhista -, para disputar apenas duas partidas do estadual.

“Se porventura a Federação Bahiana e a CBF mandarem voltar os estaduais, 95% dos contratos dos jogadores da Juazeirense estão encerrados. Isso significa que não temos jogadores para atuar. Se levar em consideração que se arrume um mecanismo para reativar o contrato de todos que estavam inscritos, teremos que fazer um novo vínculo de três meses com 30 jogadores. Eu não tenho condições”.

Presidente do Doce Mel, Eduardo Catalão é outro que segue a mesma linha de Juazeirense e Fluminense, porém com uma observação importante. Sediado em Ipiaú, no Sul do estado, o clube está em um dos epicentros da covid-19 na Bahia. Com mais de 500 casos da doença, a região concentra 20% das mortes registradas em todo o estado.

“Entre os dias 3 e 4 de maio se encerram todos os contratos, então automaticamente ficamos sem elenco. Não digo sem jogadores porque temos alguns da base, mas são poucos atletas e não seria suficiente para formar um plantel para disputar o campeonato”, afirma Catalão.

Contudo, não são apenas os clubes sem calendário no segundo semestre que vivem situação de incerteza. Garantidos na Série D do Brasileiro, Vitória da Conquista e Atlético de Alagoinhas também revelam dificuldades para voltar a jogar. O Bode liberou os atletas e teria que fazer um novo elenco para concluir a competição.

Na visão de Ederlane Amorim, presidente do clube, o momento é de pensar no lado humano e na saúde de todos os envolvidos. “Não adianta retomar um campeonato para atender demanda burocrática e colocar em risco grande parte dos envolvidos. Não vejo no cenário atual nenhuma condição de retomar o futebol em si, ainda que de portões fechados, apenas para finalizar uma competição e atender exigência de regulamento”.

No caso do Atlético, o clube suspendeu os contratos dos atletas por 90 dias, só que Albino Leite, presidente da equipe, fala que seria difícil reunir todos os atletas liberados. “Temos que esquecer o calendário dos estaduais. Mantém os nacionais e nos estaduais usar o ranking de 2019. Não temos condições de concluir os campeonatos”, avisa.

Entre os ouvidos, apenas Jacuipense e Bahia de Feira se mostraram favoráveis ao retorno do estadual. As duas agremiações, no entanto, ressaltam que para a bola voltar a rolar é preciso estar em concordância com as determinações das autoridades de saúde.

Ajuda financeira
Nos últimos dias, a CBF anunciou o aporte de R$ 19 milhões para ajudar os clubes das Séries C e D. Na Bahia, Vitória da Conquista, Atlético de Alagoinhas, Bahia de Feira e Jacuipense foram as equipes beneficiadas, mas a ajuda está longe de representar salvação.

No Conquista, Ederlane Amorim conta que os R$ 120 mil já foram gastos. “Pagamos a folha do mês de março, com as rescisões. Nossa folha era de R$ 110 mil e praticamente foi a conta. Todos os atletas, comissão técnica e funcionários estão devidamente quitados. Essa foi a opção trabalhada. Mas voltamos à estaca zero”.

Mesmo com contratos suspensos, o Atlético adotou postura semelhante e usou o recurso para dar uma espécie de ajuda de custo aos atletas. “Com a chegada do auxílio emergencial da CBF, nós decidimos fazer o pagamento de um salário mínimo, previsto em carteira, para todos os jogadores. Assim, todo o elenco está em dia”, revela Albino Leite.

Quem ficou de fora e não recebeu recursos da CBF, espera agora que a ajuda venha da Federação Bahiana. “A ajuda que foi dada para as Séries C e D. Os times que completam o campeonato regional não tiveram ajuda nenhuma. Então, como vamos participar?”, questiona o presidente do Flu de Feira. “Respeito muito o presidente (da Federação Bahiana), mas a gente viu notícias de que todas as federações receberam R$ 120 mil e esse dinheiro não foi liberado para os times do interior da Bahia. Estamos chateados com isso”, continua.

Confira as situações de todas as equipes do Baianão 2020:

Bahia
O Bahia estava disputando o torneio com o time de aspirantes, mas a equipe foi encerrada durante a pandemia. Em caso de retorno, o tricolor jogaria o estadual com uma mescla entre remanescentes do grupo sub-23 e reservas do elenco principal.

Vitória
Assim como o tricolor, o Leão também disputava o estadual com a equipe sub-23 e decidiu encerrar o time após a paralisação. A ideia do rubro-negro é a de usar uma equipe alternativa, com jogadores da base, em caso de retorno da competição.

Jacuipense
Garantido na Série C, o Jacuipense manteve o elenco e é favorável ao retorno do estadual.

Bahia de Feira
O Tremendão também tem calendário para o segundo semestre, quando disputará a Série D, e garante que tem condições de jogar o estadual.

Vitória da Conquista
Mesmo com uma vaga na Série D de 2020, o Bode liberou os atletas e no momento não tem elenco para jogar qualquer competição.

Atlético de Alagoinhas
Outro garantido na Série D, o Atlético suspendeu o contrato dos atletas por 90 dias. O clube é contra o retorno do estadual.

Juazeirense
Com apenas a disputa do Baianão em 2020, a Juazeirense liberou os jogadores e é mais um time que não tem elenco para voltar ao estadual.

Fluminense de Feira
A situação no Touro do Sertão é a mesma do Cancão. Sem calendário no segundo semestre, a diretoria rescindiu o contrato de praticamente todos os jogadores.

Doce Mel
Estreante, o Doce Mel também não tem mais elenco para disputar o Baiano e está sediado em uma das regiões mais afetadas pelo coronavírus no estado.

Jacobina
Lanterna do Baianão, com apenas um ponto conquistado, o clube não atendeu às ligações até o fechamento da reportagem. Correio da Bahia