Nara Gentil/CORREIO

O lema de Irmã Dulce é “amar e servir”. Nada mais natural, portanto, que os pacientes diagnosticados com covid-19 no Hospital de Campanha da Arena Fonte Nova fossem tratados com essa premissa sob a administração das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), responsável pelo local nos últimos meses. Agora, com o fim do contrato com a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) e a desativação definitiva do hospital, o “adeus” para uns é um “bem-vindo de volta” para outros.

Nesta última terça-feira (14), equipamentos foram retirados da Fonte Nova pela Sesab. Cadeiras de longas esperas e colchões que guardavam dores serão redistribuídos para outras unidades de saúde. Para o coordenador administrativo do hospital, Milton Ferreira, o momento emotivo tinha gostinho de vitória.

“O vírus impossibilitou uma das coisas que nós, baianos, mais gostamos: poder estar próximos de quem queremos bem nos momentos de dificuldade. Santa Dulce então, nos trouxe generosidade ao nos permitir amar e servir a essas pessoas dentro da Arena, um lugar que representa energia, alegria e vida. Dentre todas as sensações, ao fecharmos o hospital, destaco a sensação de vitória. Saímos erguendo uma taça, por termos jogado contra o vírus”.

A despedida começou quando o último paciente teve alta, na noite do último dia 6 de setembro. Na sexta passada, a retirada dos utensílios começou a ser feita e o término do contrato com a Secretaria de Saúde aconteceu ontem. No total, foram realizados 1.865 atendimentos e 1.314 vidas foram salvas.

Para realizar o trabalho, Milton conta qual era o mantra entre os profissionais de saúde no momento do atendimento: “Nós estamos cuidando do amor da vida de alguém”. Ele explica que o fato do paciente não poder ter alguém conhecido ao seu lado influenciava na forma como os profissionais se dirigiam ao enfermo.

“Não substituímos o familiar, mas queríamos amenizar a ausência dessas pessoas especiais. Não estávamos cuidando apenas da vida do paciente, mas de todas as vidas ligadas a ele”.

Foi assim que Elaine Barbosa, 36 anos, se sentiu durante enquanto ficou internada, por 12 dias, sendo seis na UTI. No período, ela só tinha contato com sua família através de ligação telefônica. “A situação de ter covid já era difícil, mas a humanidade dos profissionais foi de suma importância para a recuperação. Ter alguém te perguntando como você está, te incentivando quando você não consegue levantar da cama te dá ânimo para seguir em frente”.

O espaço foi inaugurado em junho do ano passado. Com a diminuição dos índices da doença na cidade, foi desativado em outubro, mas voltou a ser aberto em março deste ano, operando com 200 leitos de tratamento da doença, sendo 100 leitos de enfermaria e 100 leitos de UTI, e uma equipe composta por 1.050 profissionais.

Na época de reabertura, o estado registrava 80% de ocupação dos leitos de UTI. O número máximo de leitos na Bahia chegava a 1.835 clínicos e 1.624 de UTI, sendo ambos adultos. A expectativa é que essa desmobilização seja definitiva. Em caso de necessidade, entretanto, a Sesab afirmou que a unidade poderá ser reativada.

“Esperamos que isso não aconteça e que, agora, voltemos para a Arena como espectadores. Quando voltar para um jogo, vou me sentir um artilheiro mesmo, com o sentimento de ter vencido essa batalha”, finaliza Milton.

No próximo sábado, a Fonte voltará a receber jogos de futebol. O Bahia enfrenta o Red Bull Bragantino pela Série A do Campeonato Brasileiro. Por enquanto, a presença de torcedores ainda não está permitida. (Correio da Bahia)