A Bahia ainda não entrou no estágio de estabilização no número de casos de coronavírus. O famoso platô é projetado pelo secretário de Saúde do estado, Fábio Vilas-Boas, para o fim deste mês. Porém, mesmo com o índice de infectados pela covid-19 ainda em crescimento, municípios do interior do estado decidiram flexibilizar as medidas restritivas impostas ao comércio e, por etapas, começam a autorizar que serviços não essenciais tenham as portas abertas.

Em Eunápolis, município com 337 casos confirmados de coronavírus e quatro mortes, o comércio em geral, que estava fechado desde o dia 11 de maio, foi autorizado a funcionar a partir desta quarta-feira (17), mas com algumas limitações. De segunda a sexta-feira, os estabelecimentos podem ficar abertos das 8h às 18h. Aos sábados, o funcionamento é limitado ao turno da manhã, das 8h às 12h.

Para abrir as portas, os estabelecimentos precisarão manter afastados os funcionários que se enquadram nos grupos de risco, como idosos, gestantes, hipertensos e diabéticos. Será obrigatório o uso de máscaras por clientes e empregados, além da adoção de medidas de higiene e limitação no número de pessoas na área interna. As atividades religiosas também foram liberadas.

As igrejas poderão realizar cerimônias das 6h às 19h, com respeito ao limite máximo de 30% da capacidade total de pessoas sentadas. O uso de máscara é obrigatório. Além das igrejas, restaurantes também estão limitados a 30% da capacidade total. Já os salões de beleza podem funcionar mediante agendamento prévio do cliente e estão limitados a 50% da capacidade total.

Apesar da flexibilização, o município segue com toque de recolher, com proibição do trânsito de pessoas das 20h às 5h. Bares, casas noturnas, academias de ginástica, cinemas, clubes sociais e eventos como festas e shows seguem proibidos.

“Vamos retomar as atividades comerciais gradativamente, adotando medidas de segurança e de higiene neste tempo de pandemia. Não é uma decisão fácil, vivemos um momento de grandes dificuldades. Hoje estamos buscando um equilíbrio para permitir que a economia volte a funcionar, gerar emprego, para não entrar em colapso. Nossa prioridade continua sendo a vida. Por isso vamos adotar medidas rígidas, de prevenção, até que nosso hospital de referência contra o coronavírus esteja aberto”, justificou o prefeito de Eunápolis, Robério Oliveira.

O município de Ilhéus, no sul do estado, flexibilizou as atividades comerciais no início do mês, por meio de um plano de ação composto por quatro etapas. De início, foi liberado o funcionamento de lojas de artigos esportivos, artigos para casa, tecidos, joalheria e relojoaria, vestuário, acessórios e calçados, móveis e colchões, agências de turismo, concessionárias e revendas de veículos automotores, perfumaria e higiene pessoal, suplementos alimentares e produtos naturais, antiguidades e objetos de arte, comércio varejista de bicicletas e triciclos, peças e acessórios.

Assim como em Eunápolis, a prefeitura local impôs uma série de restrições para o funcionamento dos estabelecimentos comerciais, como horário de funcionamento limitado das 8h às 18h. Lanchonetes e restaurantes foram autorizados a ficar de portas abertas até as 23h, mas impossibilitados de vender bebidas alcoólicas.

No início desta semana, a Justiça acolheu um pedido do Ministério Público da Bahia (MP-BA) e determinou a suspensão da execução das próximas etapas do plano de reabertura do comércio até 30 de junho, quando será realizada uma análise para avaliar a progressão do coronavírus no município. Atualmente, Ilhéus possui 880 casos confirmados de coronavírus, com 37 mortes.

Na última segunda-feira, a prefeitura de Feira de Santana, município com 1.090 casos confirmados, publicou decreto que prevê a flexibilização do funcionamento do comércio. Todos os estabelecimentos de até 200 metros quadrados estão autorizados a abrir as portas das 9h às 16h. Os shoppings podem operar das 12h às 19h.

Os estabelecimentos devem seguir normas sanitárias estabelecidas pelos órgãos de saúde e funcionar em dias alternados, de acordo com a modalidade de cada um. Os serviços considerados essenciais permanecem funcionando com período normal, como entrega em domicílio.

O funcionamento de bares, restaurantes, academias, cinemas e as aulas da rede municipal de educação estão fora dessa lista e seguem suspensos. De acordo com o prefeito de Feira de Santana, Colbert Martins, o número de leitos disponíveis na cidade possibilitou a reabertura das atividades que não são consideradas essenciais.

“O critério é que nós temos uma quantidade muito maior de leitos do que nós tínhamos há, pelo menos, três semanas. Temos o hospital de campanha, que tem leitos. Temos 11 leitos clínicos, dos 26 em atividade, vamos para 50 agora. E temos cinco leitos de UTI e vamos para 10 também”, disse.

“Como nós temos mais segurança da quantidade de leitos e, nessas últimas três a quatro semanas, fechamos as atividades e, mesmo assim, independentemente, subiu número de casos, entendemos que, se a gente tem maior retaguarda médica, temos condição também de agir melhor e ainda mais, se temos participação do setor dos setores de serviço, médico, para que possamos, de toda sorte, testar mais, controlar mais a temperatura. Enfim, achamos que, neste momento, é necessário, do ponto de vista de saúde e também econômico, respirar um pouco a economia”, relatou.

Em Vitória da Conquista, no sudoeste do estado, a prefeitura e o Ministério Público da Bahia travam uma batalha. O comércio do município reabriu no início do mês, mas o MP-BA pede que estabelecimentos que não são considerados essenciais voltem a fechar as portas.

Por meio de nota, a prefeitura de Vitória da Conquista informou que vai manter o comércio aberto seguindo os cronogramas, e que as decisões adotadas durante a pandemia têm como base orientações e recomendações técnicas da área da saúde. Além disso, a decisão foi fundamentada cientificamente.

Secretário critica reabertura

Em entrevista ao Jornal da Manhã desta quarta-feira, o secretário de saúde do estado, Fábio Vilas-Boas criticou os municípios que flexibilizaram o funcionamento das atividades comerciais. Ele apontou que os números da doença crescem diariamente.

O último boletim da Sesab, divulgado na noite de terça-feira (16), revela que a Bahia teve, em 24 horas, um incremento de 1.587 casos e chegou a 39.206 infectados desde o início da pandemia. O número de mortes é de 1.181.

“Estamos muito preocupados, acompanhando de perto todo esse momento de flexibilização inicial do distanciamento através de algumas regras de reabertura do comércio. Não apenas em Feira de Santana, mas também em Salvador e outros municípios do interior do estado”, disse.

“Não estamos na fase de estabilização, já estamos na fase de desaceleração do crescimento, mas não estamos estabilizados. Estamos estabilizados no crescimento, não conseguimos baixar de 4.5% a taxa de crescimento diária no estado da Bahia”, relata.

“Isso significa que passado duas ou três semanas, temos 50% de incremento, ou 100% de incremento todos os meses. Isso gera necessidade maior de internação hospitalar e nos preocupa com o que será da Bahia daqui a 30 ou 45 dias, caso a gente não entre na fase esperada de platô”, conclui. G1