Marina Ramos / Câmara dos Deputados

A mudança de rumo na disputa pela presidência da Câmara Federal terá impacto na Bahia, inclusive na relação entre o PP do presidente da Casa, Arthur Lira (AL), e o União Brasil do deputado baiano Elmar Nascimento, líder do partido no Legislativo. Afinal, muita coisa além da amizade entre os dois caciques do chamado Centrão está em jogo e o clima de tensão extrapola as divisas de Brasília.

Segundo parlamentares da bancada baiana ouvidos pelo Política Livre na quinta-feira (5), Elmar, antes o favorito à sucessão do amigo, não tem mais chances de ser o próximo presidente da Câmara, salvo se surgir um fato novo até a eleição, que acontece em fevereiro do ano que vem, a exemplo de uma união com o PSD do deputado baiano Antonio Brito, outro postulante ao posto.

Lira, que era o principal padrinho político e fiador da candidatura de Elmar, teria feito um acordo com o Palácio do Planalto para apoiar o deputado Hugo Mota (Republicanos-PB), visto como nome de consenso e que pode facilitar a ida do pepista para a Esplanada dos Ministérios em 2025. Lira morre de medo de voltar para o baixo clero.

O maior entrave a Elmar na corrida pela sucessão de Lira é o PT da Bahia, que tem muito peso no Planalto e no ouvido do presidente Lula (PT). Isso porque o deputado é aliado do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União), coisa que, apesar de turbulências recentes na relação e de uma guinada mais a esquerda – o parlamentar de Campo Formoso chegou até a afirmar ao Política Livre que o partido dele poderia apoiar a reeleição do presidente Lula se fosse presidente da Câmara -, Elmar não conseguiu camuflar.

Desde que não conseguiu ser ministro de Lula no início do governo, encontrando a mesma resistência, Elmar fez diversos movimentos para se aproximar do ex-governador e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), e dos petistas baianos. Passou até a defender Rui de críticas e ataques. Investiu dinheiro do próprio bolso em eventos para atrair parlamentares e aliados de Lula, a exemplo da festa de aniversário em Brasília, em julho passado, onde o titular da Casa Civil e outros ministros estiveram presentes.

E mais: na Bahia, aliados de Elmar na Assembleia Legislativa se aproximaram do governo Jerônimo Rodrigues e do PT, sobretudo os deputados Marcinho Oliveira (União) e Júnior Nascimento (União), liderados do candidato a presidente da Câmara. Apesar de todos esses gestos no planalto e na planície, o tiro saiu pela culatra e, segundo deputados da bancada baiana ouvidos pelo site, a tendência do cenário atual é que Elmar se afaste do PT, embora não o suficiente para perder o controle político da Codevasf.

Elmar e Lira defendiam a criação de uma federação entre PP, União Brasil e Republicanos. A escolha do presidente da Câmara por Hugo Mota, no entanto, praticamente sepulta a ideia. O caminho agora é que a federação aconteça após as eleições municipais apenas entre PP e Republicanos, hipótese que sempre foi cogitada como mais provável pelo presidente do ninho pepista no Estado, o deputado federal Mário Negromonte Júnior.

Com a nuvem que paira sobre Brasília, o PP baiano deve ficar ainda mais próximo de uma adesão integral ao governo Jerônimo, se afastando de ACM Neto, como defende a maior parte da legenda. A possível ida de Lira para um ministério fortalece ainda mais essa tese e diminui as resistências do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), à retomada da aliança com o PT na Bahia.

Da bancada federal pepista do Estado, apenas João Leão e Cláudio Cajado têm dado declarações contrárias a essa direção. Mário Júnior e o deputado Neto Carletto apoiam Lula abertamente. O primeiro já disse que vai conversar com Jerônimo sobre o apoio integral do partido após as eleições municipais, enquanto o segundo está oficialmente na base do Palácio de Ondina. Na Assembleia, o PP faz parte da base governista. Política Livre