Foto: Eduardo Oliveira/TV Bahia

O corpo do sambista Riachão, que morreu de causas naturais em Salvador, na madrugada desta segunda-feira (30), foi sepultado sob aplausos no Cemitério do Campo Santo, na Federação, durante a tarde. Riachão tinha 98 anos.

O velório e o sepultamento foram acompanhados apenas por familiares e amigos próximos do músico, para evitar aglomerações que facilitam a transmissão do coronavírus.

Durante o velório, alguns parentes do sambista cantaram algumas das músicas de Riachão, como “Cada Macaco no seu Galo”, a composição mais famosa.

Clementino Rodrigues estava em casa com a família, e sentiu dores no abdômen na noite de domingo (29). Ele passou por atendimento na residência, foi medicado e depois dormiu. A morte de Riachão só foi descoberta pela manhã pelos familiares.

O neto do sambista, Milton Gonçalves Souza Júnior, falou sobre a importância do avô e pontuou que a morte dele é uma grande perda para a música.

“É uma perda lamentável. Fica a memória, a alegria do nosso sambista, do meu avô. Foram 98 anos de muita alegria, muita música. Vai deixar saudade. Grande perda para a nossa música”, disse.

Riachão — Foto: Divulgação

Riachão

Nascido no bairro do Garcia, na capital baiana, em 14 de novembro de 1921, Clementino Rodrigues era o caçula de uma família de 16 filhos.

Ainda na infância assumiu uma nova identidade, que levaria pelo resto da vida. Aos nove anos, o filho da lavadeira e do carroceiro já fazia som batucando nas latas que usava para buscar água.

Riachão, que se tornou um dos mais importantes sambistas do país, compôs a primeira canção aos 12 anos. O que começou como improviso, o levou até um estúdio de gravação, no Rio de Janeiro, em plena era de ouro do rádio, nos anos 1950.

Um dos seus maiores sucessos “Cada Macaco no seu Galho”, nasceu de um golpe que levou quando tentou montar um negócio no Garcia. A canção, que é uma das mais famosas do músico, foi lançada em 1972 nas vozes de Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Além disso, Riachão é compositor de sambas como “Vá morar com o diabo”, apresentado em disco em 2000, em dueto dele com Caetano, mas popularizado no ano seguinte com a gravação feita pela cantora Cássia Eller (1962 – 2001) para o álbum e DVD ao vivo da série Acústico MTV.

Lenço no pescoço, anéis, chapéu de feltro, um lenço no bolso e a inseparável toalhinha: Riachão é uma figura marcante no imaginário de Salvador.

A partir de Riachão, vieram tantos outros sambistas, alguns dos quais seriam seus parceiros de verso, como Batatinha e Panela. Outro artista consagrado que gravou Riachão foi Jackson do Pandeiro. O sambista baiano gravou o primeiro CD aos 80 anos.

Durante a carreira, o sambista fez participação no filme “Os Pastores da Noite”, do francês Marcel Camus, baseado na obra homônima de Jorge Amado.

Grande figura do bairro do Garcia, o artista também foi homenageado, em 2014, pela “Mudança do Garcia”. Um ano depois, em 2015, o circuito “Mudança do Garcia” mudou de nome e passou a ser chamado oficialmente de “Riachão”.

Já no mês passado, o sambista participou do carnaval no circuito que leva seu nome. Para este ano, ele planejava lançar o álbum “Se Deus quiser eu vou chegar aos 100”, com repertório inédito e autoral. Este seria o primeiro disco de Riachão desde “Mundão de Ouro”, lançado em 2013. G1