Agência Brasil

Um conjunto de penitenciárias de Manaus foi cenário de mais uma matança de presos, no dia 26 de maio. Esta foi a segunda em dois anos. Juntos, os dois massacres resultaram na morte de 111 detentos. Em janeiro de 2017, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, o Compaj, uma guerra entre duas facções rivais terminou com 56 mortos. Já no massacre de maio, a disputa foi entre presos de uma mesma facção, com 55 vítimas. Líderes do massacre foram transferidos.

A situação é um reflexo do que se tem visto nas penitenciárias do país. Com superlotação e condição precárias, as facções criminosas estão recrutando mais presos e são responsáveis quase que diretamente pelo aumento da violência nos presídios.

E como consequência, o acesso a informações carcerárias tem ficado cada vez mais difícil. Os repórteres Júlio Molica e Danielle Zampollo foram até Manaus em busca de informações sobre as condições do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, mas não conseguiram sequer falar com os detentos.

A situação é muito diferente da encontrada por Caco Barcellos, mas lá na década de 1980 e 90, quando os jornalistas podiam circular com mais liberdade para registrar as condições precárias das cadeiras brasileiras. No massacre de 111 presos do Carandiru, Caco conseguiu entrar na Casa de Detenção e mostrar as marcas de tiro e sangue deixadas no Pavilhão 9.

Caco Barcellos conseguiu localizar três agentes penitenciários que trabalharam muitos anos no Carandiru, casa penitenciária que foi palco do maior massacre já visto em presídios, com 111 mortos, na década de 1990.

“Eles começaram aos poucos a abrir e mostrar sua facção. Eles começaram a aderir mais gente”, conta José Rodrigueiro Neto, agente penitenciário aposentado. Os agentes também falam sobre uma seita que dominou muito tempo o Carandiru e que tinha costumes macabros para lidar com inimigos.

“Eles adoravam o Diabo, ofereciam a comida. Eles matavam e comiam os corações dos rivais. E a gente não podia fazer nada. A gente acaba acostumando com ter de ver cabeça, coração. E eles queriam poder”, afirma Ronaldo Mazotto.

Condições precárias

“O individuo não tem local para dormir na maioria das vezes. Dorme em colchões que estão infestados por bichos, ratos no estabelecimento prisional. A comida é de má qualidade. O indivíduo tem um sanitário numa cela para 40 pessoas. Tudo isso contribui para que não haja um preceito fundamental, que é cuidar da saúde e da moral daquele indivíduo”, afirma o advogado e especialista em direito penal Rogério Cury.

Cury também afirma que metade dos presídios brasileiros está superlotada e que o Estados não está cumprindo com a responsabilidade de recuperar os detentos devido às péssimas condições encontradas em muitas das cadeias.

Em Manaus, os repórteres Júlio Molica e Danielle Zampollo conversaram com familiares de detentos que revelaram as condições precárias em que vivem. “A comida é estragada, moço. A gente entra, a gente vê. Não entra nada para o meu irmão e nem eles dão”, afirma uma parente de um detento.

“A comida que eles dão lá dentro é podre, com cheiro de azedo e espumando o feijão. A galinha cheia de ovos de moscas”, disse uma outra mulher, que também tem parentes no complexo penitenciário de Manaus.

E segundo familiares, a situação nas cadeias piorou no fim do ano passado quando os presos mataram uma agente de uma empresa terceirizada que administra as quatros penitenciárias que registraram mortes.

“Eles começaram a maltratar os internos de um tal maneira. Eles cortaram água, cortaram energia. Eles proibiram de entrar lençol, proibiram de entrar comida. Eles proibiram tudo. Meu esposo pesava 80 kg, hoje ele está pesando 47 kg”, denunciou a esposa de um detento.

Falta trabalho

Dos 3.870 presos no Complexo de Presídios em Manaus, apenas 855 trabalham. Há seis meses nenhum trabalhava. Segundo a lei de execuções penais, o trabalho é obrigatório para condenados que tenham capacidade para isso.

“O Estado escolhe quem tem capacidade de trabalhar. Ele tem que ter primeiro a motivação de trabalhar e segundo ser selecionado. Em todas as unidades que tiveram algum tipo de evento, eles têm uma ala separada onde os trabalhadores ficam presos. Nessas alas não tivemos nenhum tipo de incidente.”, afirma o Coronel Marcus Vinícius, secretário de Administração Penitenciária do Amazonas. Profissão Repórter