(Foto: Nara Gentil/CORREIO)

Não foi dessa vez que Major Denice (PT) conseguiu ser prefeita de Salvador. Em sua primeira disputa eleitoral na vida, a policial militar afastada conseguiu 18,86% dos votos válidos, o que não foi suficiente para ir sequer ao segundo turno. No total, 228.942 eleitores soteropolitanos votaram na candidata do Partido dos Trabalhadores, a qual ela é filiada desde março de 2020.

Denice acompanhou o início da apuração em casa e, por volta das 19h15, apareceu no seu comitê localizado na Avenida ACM, que permaneceu com movimento tranquilo durante toda a noite. Lá, ela se reuniu a portas fechadas com apoiadores. Por volta das 20h, quatro caixas de pizza chegaram na sala e, às 20h30, outras quatro caixas também chegaram, duas foram compartilhadas com a imprensa que aguardava no local. Com a confirmação da derrota, ela se pronunciou às 21h30.

“Essa campanha que despertou em, até um instantinho, mais de 160 mil pessoas nessa cidade o desejo de se ver representada, a importância da representatividade, eu trago isso pra mim. Nós saímos muito maiores do que entramos. Eu estou muito maior do que entrei. Estou extremamente realizada como pessoa, mulher, negra, periférica, candidata. Combati o bom combate, chegamos até aqui. Parabenizar o projeto que saiu vencedor e dizer que o nosso projeto continua e sempre continuará”, disse Denice, reconhecendo a derrota e parabenizando o candidato vencedor Bruno Reis (DEM).

Denice apontou como fator que contribuiu com a sua derrota em primeiro turno a alta abstenção. “Muitas pessoas não foram pra urna. É uma campanha atípica, muita gente se absteve de ir votar. Tivemos muitas mortes na pandemia e eu respeito a decisão das pessoas. Foi um momento atípico, no qual tivemos que reformular a nossa forma tradicional de fazer campanha”, avaliou.

Com a derrota, o Partido dos Trabalhadores (PT) permanece com a marca de nunca ter conseguido eleger um prefeito ou prefeita em Salvador. “O PT é um partido que me orgulho de estar. Não vou quantificar algo. Estamos falando de ideologias e vontades das pessoas, de tempo. Eu não posso dizer o que é que acontece, mas reafirmo que o partido é gigante e que seguirá. Salvador passou todos esses anos sem o PT governando e ainda vimos tanta desigualdade. E enquanto existir desigualdade, esse partido continuará necessário”, afirmou. A candidata também saudou a sua candidata a vice Fabíola Mansur, que foi diagnosticada com a covid-19 na última sexta-feira (13).

Ela está em isolamento e não pôde votar em si mesmo. “Se houve algo prazeroso, foi caminhar ao lado de Denice”, disse Mansur. Durante o pronunciamento, Denice não esteve ao lado do governador Rui Costa, seu padrinho político. Ela minimizou o fato. “O governador Rui Costa é presença constante nesse projeto. Não senti essa ausência dele, até porque estivemos juntos todo o dia”, revelou a major, que refletiu ainda sobre a cidade ter um eleitorado com maioria feminina e mesmo assim ter elegido um homem.

“Nossa sociedade é alicerçada no racismo e no patriarcado, que gera o machismo. Não é tão matemático pontuar o motivo da mulher votar ou não votar. É uma construção cultural perversa que nos diz que aquela mulher ou outra não poderia estar no espaço de poder. Mas, duas mulheres negras se apresentaram ao eleitorado e isso deu orgulho em muitas meninas que se viram na gente. Essa geração vai crescer e estar vai dizer: ‘eu posso também, esse espaço é meu e eu vou ocupá-lo'”, falou.

Por fim, a policial militar não indicou o que vai ser dela nos próximos anos eleitorais. “Eu vim em um chamado para cumprir a missão de ser prefeita e foi nisso que foquei. É cedo para dizer como será o amanhã. Quero encontrar agora meu filho, meu marido, dar um abraço e agradecer por permitirem que eu voasse. Dois mil e vinte e dois é outro momento”, afirmou. (Correio da Bahia)