(Foto: Bruno Wendel/CORREIO)

“Pulei e eles falaram ‘poca, poca, poca’ e começaram a dar tiros um atrás do outro. E eu embolando, embolando que eu pensei que era mato normal. Quando eu pisei [no chão], eu desci, a lama veio até o peito”, lembra o motorista sobrevivente da ação que deixou quatro motoristas de transporte por aplicativo mortos em Salvador.

A vítima conseguiu escapar dos criminosos depois que uma das vítimas lutou com eles durante o ataque. O crime ocorreu na sexta-feira (13). Em entrevista à TV Bahia, o motorista contou que pediu para não ser morto e um dos suspeitos respondeu dizendo que a decisão não era deles.

“Eu falei ‘irmão, pelo amor de Deus, sou pai de família, vocês não têm necessidade de matar [as vítimas]’. Aí, ele falou: ‘Se dependesse de mim, não morria ninguém, mas quem manda é o coroa’. Ele disse que era para matar todo mundo'”, disse o motorista. Segundo o sobrevivente, depois da resposta de um dos suspeitos, ele pediu para conversar com Deus e teve o pedido aceito.

No momento que o motorista rezava, a vítima, identificada como Genivaldo da Silva Félix, de 48 anos, tentou reagir e ele conseguiu fugir. O motorista pulou em um barranco e se escondeu na lama para conseguir despistar os criminosos, que o perseguiram depois da fuga. Foi a vítima quem chamou a polícia e informou onde ocorreu o crime.

“Aí quando eles [suspeitos] começaram a enrolar, aí perguntei ‘eu posso falar com Deus?’. Ele falou ‘pode’, aí foi o momento que eu falei, ‘o senhor é o Deus das causas impossíveis, eu estou no laço do passarinheiro, me tira do laço do passarinheiro, eleva meus olhos para os montes de um onde vem meu socorro, vem do senhor que veio do céu e da terra e quando chegou no final da oração do salmo 121’, o rapaz [suspeito] colocou a pistola em cima da geladeira para pegar o morto [uma das vítimas]”.

“Quando [o suspeito] foi pegar o morto, esse senhor de 48 anos [Genivaldo da Silva Félix] levantou correndo e pegou a pistola, quando ele pegou a pistola eles [os suspeitos] empurraram os paletes, que a cerca era palete, e tentaram pegaram a pistola [da mão do motorista], foi o momento que eu saí das amarrações, puxei a do pé e saí só com o da boca”, contou o motorista.

Genivaldo da Silva Félix foi o último a cair na emboscada dos criminosos, após aceitar uma corrida que tinha como ponto de partida a Rua do Nepal, no bairro de Jardim Santo Inácio. Todas as outras vítimas foram atraídas para o mesmo local, uma a uma. Após a luta, Genivaldo foi assassinado pelos criminosos com golpes de facão.

O sobrevivente também contou que ele precisou segurar em árvores para conseguir fugir. “Eu não conseguia sair andando, porque a lama estava até o peito. Então, eu segurava na árvore e rastejava, só que quando eu segurava, a árvore balançava e então eles atiravam na direção da árvore que estava balançando”. O motorista disse que conseguiu chamar a polícia após chegar em área do presídio de Salvador, que fica no bairro da Mata Escura, próximo do local onde aconteceu o sequestro.

“Quando eu cheguei no final [do barranco], eu vi os cachorros latindo e Deus falando, ‘os cachorros vão ser sua salvação, porque com certeza o segurança vai ouvir os cachorros latindo’. Quando eu cheguei próximo aos cachorros latindo já era a parte de cima em plano e não aguentava andar e Deus falava ‘levante que você vai voltar para casa, use toda a força que você tem'”.

“Eu levantei [da lama] e levantei o braço. Como é um local que acho que era do presídio, se eu não me engano, eu levantei a mão e o segurança já veio com a arma em punho, só que ele viu que eu estava todo sujo de lama, eu caí e não tinha mais força, caí e pedi socorro”, disse o motorista. Nesse momento, a vítima contou aos policiais que foi sequestrado e que os criminosos tinha atirado nos outros motoristas.

“Foi o momento que primeiro eu ouvi os gritos, quando estava subindo e depois eu ouvi os tiros. Eu falei, eles estão matando os meus amigos. Eles me sequestraram, aí foi que o segurança me levou para a portaria, chamou apoio, aí a polícia chegou, foi o momento que eu dobrei o meu joelho e agradeci a Deus, que só Deus das causas impossíveis pode me salvar “, disse o sobrevivente. G1