Foto: Arla Coqueiro/Arquivo Pessoal

Os 200 anos da independência do Brasil na Bahia será do jeito que o baiano gosta. A festa começa dia 29 de junho e segue até 14 de julho. Este ano, haverá concurso de fanfarras, show de BaianaSystem, Lazzo Matumbi, Gerônimo e outros artistas, e também será inaugurado o novo Pavilhão 2 de Julho, que foi transformado em um memorial da Independência e da luta do povo baiano.

A festa começará com a estreia do espetáculo ‘A resistência cabocla’, com o Bando de Teatro Olodum e Érico Brás. A peça ficará em cartaz até o dia 1º de julho, sempre às 19h, na Praça do Campo Grande. A coreografia é de Zebrinha e a direção musical de Jarbas Bitencourt.

Depois, segue para onde tudo começou. No dia 30 de junho, às 7h, uma tocha com o fogo simbólico deixa o município de Cachoeira, no Recôncavo, em direção a Salvador. A cidade foi o local onde os brasileiros organizaram a resistência e planejaram a expulsão do exército português, em 1823. Mata de São João, Dias D’Ávila, Camaçari e Lauro de Freitas também serão incluídas na cerimônia.

Na manhã do dia 1º, será inaugurado o Memorial 2 de Julho, no Largo da Lapinha, em Salvador. O casarão número 26 abriga os carros do Caboclo e da Cabocla desde o século XIX e a última grande reforma foi em 1918, um ano depois do governo ceder o prédio para o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). Na época, a instituição fez uma campanha, arrecadou fundos, demoliu a estrutura e construiu uma nova no mesmo local.

Agora, o espaço vazio está sendo transformado em um memorial que vai contar a história das batalhas do povo baiano de 1822 até a retirada dos portugueses. A prefeitura informou que o prédio não é tombado e nem está em área tombada, mas o projeto vai salvaguardar a riqueza histórica, arquitetônica e artística do pavilhão. Serão três pavimentos de memórias. O Largo da Lapinha também está sendo reformado.

Antes do detalhamento da festa, no Teatro Gregório de Mattos, na Praça Castro Alves, um grupo de fanfarra fez uma apresentação. Este ano haverá concurso para escolher os melhores grupos. Atores vestidos como portugueses, soldados, indígenas e outros personagens da independência lembraram a importância da data. O prefeito Bruno Reis (União Brasil) destacou a participação da capital baiana na luta pela liberdade.

“Salvador teve papel decisivo na independência da Bahia. Por isso montamos uma programação intensa para essa data marcante. Por conta disso, a Prefeitura entregará dois importantes equipamentos: a requalificação do Largo da Lapinha, que passou por uma grande intervenção; e o Memorial 2 de Julho, que vai transmitir para as gerações presentes e futuras a importância dessa data”, contou

A festa terá ainda coral na Catedral da Sé, ultramaratona no Parque dos Ventos e a chegada do fogo simbólico em Pirajá. A banda sinfônica do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha fará uma apresentação no Farol da Barra, no dia 1º e, no dia seguinte, o cortejo começa às 9h, depois do hasteamento das bandeiras, como manda a tradição.

Shows
Um palco será montado no Campo Grande, onde haverá shows de filarmônicas com maestro Fred Dantas, Gerônimo, Amado Caymmi e convidados. Em Pirajá, acontecerá a Festa de Labatut, com artistas locais e, em dez escolas, serão exibidos curtas metragens sobre o 2 de julho (confira as datas e a lista das escolas abaixo).

Um dos eventos mais aguardados é o show especial Sambaqui, com a banda BaianaSystem e convidados, como Lazzo Matumbi, Raquel Reis e Cláudia Manzo, às 19h, na Praça Municipal. O historiador Felipe Peixoto participou da produção do show e disse que a apresentação vai abordar as representações culturais. Ele lembrou que a BaianaSystem realizou um show para o 2 de Julho ao lado da Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) e fez mistério sobre as faixas preparadas para o show. “É segredo”.

“Agora, estamos trazendo novas canções, enredos e coisas antigas para falar dessa memória que é tão importante. O 2 de Julho é uma festa coletiva, que abarca toda a Bahia e é, talvez, uma das maiores representações da nossa memória, por isso, merece um show único e diferenciado. Estamos preparando também um material audiovisual. A ideia é trabalhar a coletividade”, contou. Todas as produções foram pensadas especificamente para a festa, é o que explica o presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro.

“Esse é um ano muito especial, porque vamos fazer uma homenagem ao caboclo, que é o grande símbolo do povo brasileiro. O ponto mais importante é o Memorial. Tudo o que acontecer no 2 de Julho vai ter uma relação direta com o caboclo, do espetáculo do Bando de Teatro Olodum ao show do BainaSystem, todo o desfile, a marca, a ambientação vai rodar em torno do Caboclo”, explicou.

Maria Felipa
Uma das principais heroínas da luta pela independência, a mulher, marisqueira, pescadora e negra Maria Felipa ganhará um monumento na Praça Visconde de Cayru, no Comércio. A região é um dos cartões postais da cidade e a obra de Nádia Taquary será entregue no dia 3 de julho, às 9h. O secretário municipal de Cultura e Turismo (Secult), Pedro Tourinho explicou: “O monumento é uma novidade. Vamos institucionalizar a figura dessa heroína de quem as pessoas falam muito, usam bastante como referência, contam essa história, mas que nunca tinha sido institucionalizada”, contou.

Maria Felipa, corneteiro Lopes, Maria Quitéria, Joana Angélica e outros tantos personagens são lembrados na história da independência por terem participado ou estarem diretamente relacionados com as lutas que levaram à expulsão do exército português de Salvador. O movimento começou em fevereiro de 1822, com apoio e participação de baianos de diversas cidades do interior e terminou com a entrada vitoriosa dos brasileiros em Salvador, em 2 de Julho de 1823.

Bicentenário da Bahia: relembre como a celebração começou 

Dada a quantidade de atrações e dias de festa, a estadia em Salvador no 2 de Julho poderá facilmente ser confundida com o Carnaval. Como manda a sabedoria popular, marcos devem ser celebrados com mais pompa, por isso, no ano do bicentenário da Independência do Brasil na Bahia, vale lembrar porque os baianos têm tanto motivo para caprichar na comemoração.

Há 200 anos, a população da Bahia celebrou pela primeira vez a expulsão das tropas portuguesas e a independência do estado, ocorridas no mesmo dia. Tudo depois de um ano e cinco meses de uma guerra sangrenta, que envolveu de 10 a 15 mil soldados de cada lado e causou mais de duas mil mortes em combate.

A festa remete à chegada do exército libertador brasileiro a Salvador em 2 de julho de 1823, após expulsar os portugueses. Os primeiros soldados começaram a chegar pela manhã. A cena real foi bem diferente da imagem retratada no quadro Entrada do Exército Libertador, do artista Presciliano Silva, pintado em 1930.

Ele mostra o comandante brasileiro, o então coronel Joaquim de Lima e Silva, tio de Luiz Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, montado num belíssimo cavalo alazão, seguido por um exército de homens muito contentes, alegres e saudáveis. Mas os homens que chegaram à capital baiana não pareciam fazer parte de um exército vitorioso. Estavam  descalços, quase nus, fracos e cansados.

Ainda assim, os moradores que já sabiam que os portugueses haviam partido de madrugada, receberam os soldados com festa naquele dia. “E com festa ainda são lembrados todos os anos no dia 2 de julho”, destacou o pesquisador da história do império, Laurentino Gomes, em seu livro 1822.

Emilly Oliveira com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo

Confira a programação: 

29 de junho

  • A programação começa no dia 29 de junho, com o espetáculo A resistência cabocla, com o Bando de Teatro Olodum. A apresentação será na Praça do Campo Grande até o dia 1º de julho, às 19h.

30 de junho

  • O fogo simbólico sai da cidade Cachoeira e de Mata de São João, em Pirajá. Neste ano, foram incluídas outras cidades no trajeto: Mata de São João, Dias D’Ávila, Camaçari e Lauro de Freitas.

1º de julho

  • Acontecerá a entrega do Memorial 2 de Julho e do novo Largo da Lapinha, que passa por reforma. No mesmo dia, às 9h, acontece a celebração do Te Deum, com o coral da Basílica do Bonfim, regido pelo maestro Francisco Rufino, na Catedral da Sé.
  • Às 18h, sai a Ultramaratona da Independência, no Parque dos Ventos.
  • A chegada do fogo simbólico em Pirajá será mais especial este ano. Às 17h, haverá a apresentação do Cortejo Afro no largo do bairro.
  • No mesmo dia, no Farol da Barra, show inédito da Banda Sinfônica do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha. O grupo tem 120 músicos.

2 de julho

  • A festa começa cedinho, às 6h, com a alvorada de fogos. Às 8h30, será realizado o hasteamento das bandeiras e às 9h se inicia o cortejo cívico, no largo da Lapinha. Na Avenida Sete, às 15h, acontece o concurso de fanfarras e balizas.
  • No palco do Campo Grande, às 16h30,  o hasteamento das bandeiras e o acendimento da pira do fogo simbólico, com a campeã olímpica Ana Marcela.
  • Entre as 17h30 e as 21h30, será o encontro de filarmônicas do Mastro Fred Dantas.
  • Às 19h, na Praça Municipal,  show especial Sambaqui, com BaianaSystem. O evento terá as participações de Lazzo Matumbi, Rachel Reis, Claudia Manzo, Liz Reis, Elivan Conceição, Caboclos de Itaparica, Afrosinfônica e Vandal.

3 de julho

  • Inauguração do monumento em homenagem à Maria Felipa, na Praça Visconde de Cayru, às 9h.
  • Às 17h, Gerônimo faz show no Campo Grande. Já às 19h, Baile da Independência com a orquestra do maestro Fred Dantas.

4 de julho

  • Às 19h, será realizada uma homenagem a Jorge Amado e Dorival Caymmi, com o show especial que vai reunir Alice Caymmi, Márcia Short, Will Carvalho e Elaine Fernandes

5 de julho

  • Às 18h, os caboclos saem do Campo Grande e voltam ao pavilhão da Lapinha. O momento terá a participação da orquestra do maestro Reginaldo de Xangô.
  • Já às 20h, na Lapinha, terá show com a banda Ofá, do Terreiro do Gantois, e Samba de Caboclo, com a participação de ogãs dos terreiros de Salvador.

5 a 7 de julho

  • IV Jornada do patrimônio cultural de Salvador, no Espaço Cultural da Barroquinha

7 a 10 de julho

  • Festa de Labatut, em Pirajá, com a presença de artistas locais, a partir das 18h

10 a 14 de julho

  • Será realizado o projeto 200 anos de 2 de Julho nas escolas: Escola Municipal Prof. Alexandrina Santos Pitta; Escola Municipal Fazenda Coutos; Escola Municipal Manoel Barradas; Escola Municipal Teodoro Sampaio; Escola Municipal da Palestina; Escola Municipal Barbosa Romeo; Escola Municipal Helena Magalhães; Escola Municipal Senador Antônio Carlos Peixoto de Magalhães; Colégio Militar de Salvador; e Escolab Subúrbio 360. (Correio da Bahia)