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Donos de postos de combustível e consumidores devem começar a organizar o orçamento, porque é esperado novo aumento no preço da gasolina, indicado por uma alta de 5,6% do valor do produto nas refinarias de petróleo.

De acordo com o Sindicombustíveis Bahia, o preço do combustível nas refinarias atinge o maior nível dos últimos 5 meses, sendo vendido aos distribuidores por R$ 1,94 o litro, sem a incidência de impostos, como Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Cide, Pis e Cofins. Para o sindicato, este é o maior valor do produto desde 30 de outubro de 2018.

No entanto, conforme explicado pelo Sindicombustíveis, não é possível estimar quando o novo valor vai chegar nas bombas dos postos, pesando diretamente no bolso dos consumidores.

“É um aumento que acontece em cadeia, sendo primeiro na refinaria, depois na distribuidora, para, então, chegar ao posto e, por fim, ao consumidor final”, disse.

Mesmo assim, o presidente do sindicato, Walter Tannus, afirmou que a recente política de preços adotada pela Petrobras tem “massacrado o empresariado e o consumidor”. Ele acrescentou que “os donos de postos de combustíveis vêm sofrendo com a redução do consumo e do volume de vendas, enquanto os consumidores tentam economizar ao abastecer para adequar o orçamento familiar”.

Segundo a Petrobras, não há como controlar os aumentos nas refinarias, uma vez que eles dependem de fatores externos. “A política de preços para a gasolina vendida às distribuidoras tem como base o preço de paridade de importação, formado pelas cotações internacionais deste produto mais os custos que importadores teriam, como transporte e taxas portuárias, por exemplo”.

Ao levar em consideração que o repasse dos preços dos combustíveis da Petrobras para a bomba depende de diversos fatores, como margens da distribuição e revenda, impostos e misturas de biocombustíveis, o Correio elaborou uma série histórica dos aumentos nos quatro primeiros meses de 2019, até 4 de abril, conforme dados abertos da Agência Nacional Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Dados da ANP apontam que, de janeiro a março, o preço médio da gasolina nas refinarias aumentou em 21,5%. O Correio analisou o aumento médio do produto na Bahia e em Salvador e constatou que a alta foi de 17,3% e 16,8%, entre preço de distribuição e venda, respectivamente – ambos acima da média nacional, que foi de 0,4% no período.

Desta forma, os preços no estado e na capital acompanharam a variação das refinarias durante os três primeiros meses do ano, indo na contramão do cenário nacional. A alta aconteceu tanto em relação ao valor de distribuição quanto nos preços nos postos, podendo-se concluir que, com a nova alta de 5,6% registrada na última sexta-feira (5), empresários e consumidores devem preparar o bolso.

“Difícil continuar sobrevivendo a essa nova política voraz da Petrobras. Muitos postos já foram engolidos e muitos outros terão que lutar para não serem devorados”, comentou Walter Tannus.

Apenas para esclarecer o processo, a gasolina vendida às distribuidoras é diferente do produto no posto de combustíveis. Nas distribuidoras s etem o tipo A (gasolina antes da sua combinação com o etanol e diesel, também sem adição de biodiesel). Já nos postos, o produto sofre a adição do combustível tipo A misturado a biocombustíveis.

Cenário baiano
Na primeira semana de abril, até o dia 4, o município baiano que registrou maior variação entre o preço médio de distribuição e aquele repassado ao consumidor foi Brumado, no sudoeste, com alta de 20% sobre o valor da gasolina comum. Enquanto o preço médio na distribuidora era de R$ 4,036, o consumidor pagava nas bombas o valor de R$ 4,843 por cada litro do produto.

Atrás estavam Valença (19,96%), Guanambi (18,74%), Eunápolis (18%) e Teixeira de Freitas (17,59%). A capital baiana aparece com variação média de 13,6% – com preço nas distribuidoras de R$ 3,956, enquanto os consumidores pagavam, nos postos, R$ 4,494.

Ao analisar a variação incidente entre o preço repassado pelas distribuidoras aos postos e os valores pagos nas bombas pelos consumidores, o CORREIO detectou que, na Bahia, a variação média, entre 1º janeiro e 4 de de abril de 2019, foi de 16,7%, enquanto, em Salvador, foi de 15,91%. Isso significa que os consumidores já estão, a cada semana, pagando um pouco mais pela gasolina comum.

No dia 4 de abril, por exemplo, os maiores preços médios de revenda da gasolina foram registrados nos municípios de Porto Seguro (R$ 4,965), Brumado – (R$ 4,843) e Salvador (R$ 4,494). Já os menores, em Serrinha (R$ 4,368), Teixeira de Freitas (R$ 4,499) e Lauro de Freitas (R$ 4,538).

Na capital baiana, no mesmo período, a ANP registrou maior variação em um posto Shell de Brotas, onde a gasolina comum era comercializada por R$ 4,52, uma alta de 17,92% sobre o preço praticado na distribuidora. Em segundo lugar aparece no Posto Gameleira da Suburbana, de bandeira BR, que vendia gasolina comum a R$ 4,59, enquanto o preço da distribuidora era de R$ 3,905 (aumento de 17,54%).

Já as menores variações de preço para o produto foram encontradas em um posto no bairro de Valéria, com valor na bomba de R$ 4,12 e na distribuidora de R$ 4,02 (4,23%), no posto Novo Bairro, no Itaigara, que vendia a gasolina a R$ 4,39 e comprava a R$ 4,039 (8,69%), além do ABO Posto de Cajazeiras, com venda de R$ 4,49 e compra de R$ 4,105 (9,38%).

Como economizar
O motorista de aplicativo Daniel Cardoso, 33 anos, contou ao CORREIO que, diante da oscilação de preço da gasolina, com os aumentos registrados nos últimos meses, passa os dias tendo que anotar cada gasto em um caderninho. “É tudo na ponta do lápis”, confessou.

Daniel Carvalho reclama do preço dos combustível em Salvador (Foto: Marina Silva/CORREIO)

Ainda de acordo com ele, há dias em que abastecer com etanol sai mais vantajoso, em razão do baixo preço do produto, se comparado ao da gasolina.

“Eu só abasteço e gasto dinheiro com gasolina, porque preciso mesmo trabalhar. Se não fosse isso, iria me locomover de bicicleta, porque é absurdo o valor que pagamos”, disse.

Desta forma, diante dessa previsão de aumento, o ideal é que o consumidor se prepare. Mas, o Sindicombustíveis afirmou que “embora haja relação de fornecimento entre a Petrobras/refinaria e distribuidora e entre distribuidora e posto revendedor, cada elo da cadeia de combustíveis é livre para precificar os seus produtos”.

Diante disso, segundo o sindicato, “não há como prever quando será o repasse de um segmento para outro no preço de bomba”. Mas, para que o consumidor não seja pego desprevenido, o professor de Engenharia Mecânica da Unifacs João Loureiro deu algumas dicas para quem, assim como Daniel Cardoso, não pode abrir mão de andar de carro.

João destacou que primeiro alerta é para quem tem o ‘pé pesado’. “Esse é o tipo de motorista que mais consome combustível. A economia está diretamente ligada à postura na hora de dirigir. Quanto mais o motorista mantiver a velocidade constante, melhor. O item mais importante de consumo está ligado a este movimento de acelerar e desacelerar”, explicou.

Ainda de acordo com o engenheiro, existem outras questões que ajudam a controlar melhor o consumo de gasolina. “Muitas vezes, a pessoa não liga de transformar o carro em depósito. Porém, o automóvel mais pesado vai gastar mais combustível toda vez que parar e acelerar”, alertou. O professor chama atenção, também, para a leitura do manual do carro, calibragem dos pneus e as revisões periódicas, principalmente em relação à troca de óleo.

“Em uma ladeira, não segure o carro com o motor. A melhor postura é puxar o freio de mão. Deixar o motor segurando o veículo também gasta combustível desnecessariamente. Em uma cidade como Salvador, com muitas ladeiras, o consumo é muito significativo. Com relação à manutenção periódica, se o motorista não troca o óleo, por exemplo, o motor fica mal lubrificado e consome muito mais”, disse.

Outra dica preciosa, ainda mais na capital baiana, com temperaturas tão altas, é que não precisa desligar o ar-condicionado para economizar.

“O custo benefício do ar- condicionado desligado não compensa. Se você estiver na Paralela andando a 80 km/h, deixar seu ar- condicionado ou o vidro aberto vai resultar no mesmo gasto”, orientou.

Para João Loureiro, vale mais a pena planejar o roteiro antes de sair de casa. “É mais econômico planejar o caminho, tentar fugir dos engarrafamentos, sobretudo, daqueles lugares onde já se sabe que o trânsito aperta mais naquele determinado horário”, concluiu.

Álcool ou gasolina?
Já quem tem automóvel na versão flex, quando vê o preço da gasolina em alta, sempre se pergunta se abastecer com etanol é mais vantajoso. O coordenador e professor do curso de Engenharia Ambiental e Engenharia de Produção Química, Ricardo Magalhães, explicou como fazer o cálculo da proporção.

“Em termos de rendimento, o litro da gasolina por etanol é de 70%. Se com a gasolina, o motorista roda 10 km por litro, com o etanol ele vai rodar 7 km. Então, é só pegar o preço do etanol e dividir pelo valor do litro da gasolina. Se esse resultado for menor que 0,7, é mais vantagem abastecer com álcool. Se for maior, a escolha é a gasolina”.

Entre encher o tanque ou ficar na reserva, Ricardo recomendou não deixar que o carro chegue muito abaixo do limite. “Como o tanque fica sujo, isso acaba influenciando no entupimento da bomba de combustível. O tanque não precisa estar sempre cheio, mas, assim que chegar na reserva, é necessário abastecer”, explicou. É exatamente isso o que faz a autônoma Ana Reis, 56 anos. “Meu carro jamais entra na reserva. Acho perigoso. Às vezes, já na metade do tanque eu volto a completar”, disse.

Outra dúvida do consumidor é se pode ou não abastecer sempre o veículo com etanol. O engenheiro mecânico Lourenço Gobira Alves, doutor em Engenharia Mecânica e professor e chefe do departamento do curso na Universidade Federal da Bahia (Ufba), explicou que uma “pessoa pode andar sempre com o álcool”. Disse ainda que “quem vai agradecer é o meio ambiente, pois vai poluir bem menos o ar”.

Confira dicas de como economizar gasolina

  • Aceleração: Nada de acelerações bruscas. Acelere gradualmente, tanto para segurança quanto para economizar. Respeite os limites de velocidade. Um carro consome cerca de 20% a mais quando está a 100 km/h do que quando está a 80 km/h.
  • Freio: Não deixe para frear o veículo com força já em cima do sinal de trânsito. Além de economizar combustível, vai poupar a pastilha de freio.
  • Uso do freio motor: Faça uso do freio motor em declives acentuados. Lembra da famosa “banguela”? Além de ser uma atitude perigosa, a ação não representa economia nos carros atuais, pois quando paramos de acelerar em um declive, a injeção eletrônica identifica que não é preciso aceleração e corta o combustível.
  • Marchas: A troca de marcha faz muita diferença no consumo, por isso não estique as marchas sem necessidade. Procure fazer as trocas em rotação adequada: se o carro tem conta-giros, tente fazer com que o motor trabalhe em rotação próxima ou um pouco inferior à do regime de torque máximo. Evite que o ponteiro chegue perto da rotação de potência máxima. Um carro a 40 km/h não pode estar em 5ª marcha, ou chegar a 100 km/h em 2ª marcha.
  • Abastecimento: Só abasteça em postos confiáveis e conhecidos. Os carros rendem a mesma coisa com a gasolina comum e a aditivada – a diferença está apenas na limpeza que a segunda  faz no motor.
  • Ar-condicionado: Muito se fala que o ar-condicionado aumenta o consumo. No passado, realmente isso acontecia, mas os compressores modernos já não exigem tanto esforço do motor. As janelas fechadas melhoram a aerodinâmica e, consequentemente, o consumo cai.
  • Revisões: Faça revisões e manutenções preventivas e verifique, em especial, o estado das velas e o funcionamento da injeção eletrônica. O alinhamento das rodas é fundamental para a aerodinâmica do carro. Automóvel alinhado economiza combustível.
  • Pneus: Pneus murchos ou com a calibragem errada influenciam diretamente no consumo. A calibragem deve ser feita, no máximo, a cada 15 dias, seguindo as orientações das montadoras para pressão. Os pneus podem ser responsáveis por até 20% do consumo de combustível.
  • Rotina: Analise a necessidade de fazer tudo com o carro, alterne o uso com transporte público ou aplicativos, além, de tentar organizar esquemas de carona. Pode valer a pena.

(Informações do Correio da Bahia)