Foto: Paulo Dutra/G1 AM

O Brasil deve ser atingido por uma “tempestade perfeita” nos próximos dois meses. Isso porque parte do país deve enfrentar um aumento da incidência de três doenças: a Covid-19, causada pelo novo coronavírus, a gripe comum e a dengue.

A expressão “tempestade perfeita” foi usada na semana passada por Wanderson Oliveira, secretário nacional de Vigilância em Saúde, quando alertou, em entrevista coletiva, que “vamos ter o coronavírus, que é novo, vamos ter a influenza [gripe], que é rotina todo ano, e também vamos ter o pico da dengue… Estamos com três epidemias simultâneas”.

O aumento dessas três doenças pode impactar ainda mais o sistema de saúde brasileiro. A tendência é que subam os números de atendimentos e internações por quadros graves, pressionando os recursos do sistema de saúde pública.

Se, por um lado, as infecções por coronavírus estão aumentando — já são 245 mortes e mais de 6,8 mil casos confirmados até esta quinta (2) —, por outro, a incidência de dengue, transmitida pelo velho conhecido mosquito Aedes aegypti, também tem registrado um crescimento preocupante.

O último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde diz que o Brasil já registrou, até 21 de março deste ano, pouco mais de 441 mil casos prováveis de dengue — aqueles que são notificados à pasta pelos estados, mas ainda precisam de confirmação por meio de resultados de exames.

Ao menos 120 pessoas morreram da doença no período — é possível que esse número de mortos seja maior, pois há dezenas de casos suspeitos que ainda necessitam de confirmação.

Isso significa uma média, no Brasil, de 209 casos prováveis de dengue por 100 mil habitantes — um crescimento de 59% em relação ao mesmo período do ano passado (a comparação entre boletins de diferentes anos, entretanto, deve ser feita com cautela, já que há muitas alterações e atualizações de números depois que eles são publicados pela primeira vez).

Segundo o Ministério da Saúde, historicamente o pico de registros de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya, ocorre nos meses de abril e maio.

Ou seja, se o cenário já parece ruim, ele tende a piorar nos próximos 60 dias, coincidindo com a provável alta de casos de Covid-19 e de influenza, que também costuma crescer e causar mortes conforme a média da temperatura diminui em vários estados.

A própria influenza costuma causar centenas de vítimas no país. No ano passado, o Brasil registrou 1.122 mortes pelos três tipos de influenza, segundo o Ministério da Saúde.

Acúmulo de doenças

Para Adriano Massuda, médico sanitarista e professor de saúde coletiva da Fundação Getúlio Vargas, o acúmulo de epidemias concomitantes é “uma situação grave, que pode produzir uma sobrecarga no sistema de saúde.”

“É um cenário que vai ficar ainda mais complexo. Apesar de alguns sintomas serem até parecidos, como dores no corpo e febre, precisa haver a linha de cuidados para pacientes respiratórios, como influenza e Covid-19, e outro para a dengue, pois os tratamentos são diferentes”, afirmou à BBC News Brasil, por telefone.

“É possível até que exista uma confusão para descobrir quem está com dengue, com gripe ou Covid-19. Isso pode atrapalhar ainda mais o sistema de saúde”, diz.

Massuda ressalta, no entanto, que medidas como o isolamento social — tomadas para diminuir a proliferação do coronavírus — podem ajudar a diminuir a incidência de gripe comum, que é transmitida basicamente da mesma forma: pelo contato com pessoas já infectadas.

Já André Périssé, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, acredita que as internações por Covid-19 serão em maior número, pois a taxa de doentes graves diagnosticados com dengue é bem menor.

“A letalidade da dengue é parecida com a influenza sazonal (de 0,01% até 0,08% dos casos). Já a Covid-19, apesar da letalidade não ser alta (de 1% a 3,5%), demanda um tratamento mais complexo, muitas vezes com internação”, diz Périssé.

“Mas não há dúvidas que acúmulo dessas doenças vai pressionar o sistema de saúde. E isso sem falarmos de outros problemas, pois o hipertenso não vai deixar ser hipertenso por causa da pandemia, o mesmo ocorre com o diabético. Por isso, nesse momento, a boa gestão da saúde e dos recursos disponíveis vai ser importantíssima”, afirma. BBC/Bem Estar/G1