Após pouco mais de oito meses, donos de pousadas na Bahia começam a se organizar para a retomada das atividades de turismo e a preparação para o feriadão de Nossa Senhora da Aparecida, padroeira do Brasil, e também Dia das Crianças, celebrado em 12 de outubro. Com a necessidade do isolamento social por causa do coronavírus, foram publicados decretos no começo de abril que proibiam o transporte em várias cidades do estado.

As medidas de isolamento, que visam reduzir o grau de contágio da Covid-19 entre a população brasileira e evitar sobrecarregar o sistema de saúde nacional, afetaram o turismo, que é um serviço não essencial.

Entretanto, passado o longo tempo de prejuízos por causa dos portões fechados, as prefeituras das cidades baianas começaram a anunciar flexibilizações e os donos de pousadas tiveram que estudar a fundo os protocolos específicos e investir em ações de prevenção ao vírus.

Turistas e moradores locais começaram a preparar as mochilas e procuraram destinos como Jaguaripe, no recôncavo da Bahia, Caraívas, no sul do estado, Morro de São Paulo, que fica no baixo sul e Barra do Jacuípe, litoral norte, conhecidos pelas belezas naturais.

Praia dos Garcez – Jaguaripe

Paraíso Perdido fica na cidade de Jaguaripe — Foto: Arquivo Pessoal

Localizada no município de Jaguaripe, cercada de muita área verde, com um maravilhoso encontro do rio com o mar e quilômetros de praias semi-virgens. A Praia dos Garcez é o local ideal para quem busca se desconectar com privacidade.

Após sete meses fechada, a Pousada Paraíso Perdido, uma das melhores da região, escolheu o dia 10 de outubro para retomar as atividades. Com 24 quartos, o local vai funcionar com 60% da ocupação (que já está preenchida), como manda o protocolo.

“Isso aqui é um lugar para meditar, para se desconectar. Legal que você pode desligar um pouco o celular e viver o que a gente não vive mais, botar um pé no chão e matar uma muriçoca diferente”, brincou o dono da Paraíso Perdido, Léo dos Garcez.

Em entrevista, Léo do Garcez conta que, por causa da pandemia, precisou demitir alguns funcionários. A retomada no dia 10 é a esperança de dias mais tranquilos e a amenização de prejuízos na pousada, que foi inaugurada em 2009.

“Muito prejuízo porque parou tudo. A gente conseguiu manter 10 de 26 funcionários. Primeiro a gente bancou o prejuízo com o dinheiro particular nosso, e depois com o apoio do governo. Ficamos até hoje fechado e só vamos abrir no dia 10 de outubro”, contou.

Praia dos Garcez, fica na cidade de Jaguaripe — Foto: Arquivo Pessoal

O local também foi palco do festival de música Universo Paralello, em dezembro de 2009, acomodando cerca de 17 mil pessoas, algo ainda não visto na região pelos moradores. Na Paraíso Perdido é possível tomar banho em águas cristalinas dos rios que cortam a região, explorar trilhas, conhecer o rio de cor escura, como o Rio Coca-cola, fazer Stand-up, caminhadas e outros atrativos.

“O principal é a natureza. Temos o encontro do rio com o mar. A gente tem muita na nascente de rio aqui e temos uma cachoeira que se chama Pancada Alta. As pessoas que vêm para cá e procuram mais a natureza”, disse o dono da pousada.

Clima tropical, com temperaturas elevadas e médias anuais que geralmente ultrapassam os 26°C, a Praia dos Garcez é um dos destinos turísticos pouco explorado pelos baianos. Léo Garcez conta que a pousada sempre é procurada por músicos, que escolhem o local para estimular a inspiração e compor.

“A gente faz tudo com muito carinho, trata o cliente como família e o diferencial da gente é justamente esse, cuidar das pessoas como a gente gostaria de ser cuidado. A gente tem um axé muito grande com o pessoal da música, que gosta de vim para compor em um lugar que não tem barulho, não tem tietagem”.

Paraíso Perdido é um local de tranquilidade e pouco conhecido — Foto: Arquivo Pessoal

O dono da pousada revelou que a ideia deles é melhorar ainda mais a relação com os clientes. “Normalmente quando você vai para uma pousada, você nunca conhece o dono, a recepcionista entrega a chave e você vai para o seu quarto. Não tem aquele apoio de você mostrar um rio sem cobrar nada por isso, direcionar ele de uma forma diferente”. “A gente também faz um trabalho de base para levar as pessoas para conhecerem os lugares daqui”, disse.

Caraíva – Porto Seguro

Tarde de sol em Caraíva — Foto: Arquivo Pessoal

Onde o rio encontra o mar, carros não entram, energia elétrica apenas o suficiente e o controle do lixo é constante. Caraíva é um dos distritos de Porto Seguro mais procurados por turistas na região do sul da Bahia, junto com Trancoso e Arraial D’Ajuda.

Existem várias formas de chegar ao distrito. A dica principal quando tiver fazendo a travessia no Rio Caraíva é tirar os tênis e trocar por sandálias confortáveis, já que as ruas são todas de areia e andar calçado é mais difícil.

Frank, que morava em São Paulo e chegou à Caraíva há quatro anos, montou duas pousadas: Pousada Cores do Mar e Pousada da Barra. Os estabelecimentos funcionam com 50% da ocupação, o que é previsto no protocolo de reabertura da cidade.

“O turista que pesquisa Caraíva vem procurando o contato com a natureza e ter a possibilidade de estar em um local meio exclusivo, porque não chega a ser uma ilha, mas a acessibilidade é um pouco difícil. Toda aquela informação urbanística que ele tem na cabeça fica do outro lado do rio”, disse o dono da pousada.

Pousada Cores do Mar, em Caraíva — Foto: Arquivo Pessoal

O turismo é a principal atividade comercial de Porto Seguro, e ficou suspenso por cinco meses por causa da Covid-19. A prefeitura da cidade autorizou, por meio de decreto, a reabertura das atividades no dia 1° de setembro.

Contudo, os moradores de Caraíva pediram que essa retomada fosse adiada, mais uma vez, porque a população não está segura com a reabertura. O pedido foi aceito e o vilarejo foi reaberto no dia 1° de setembro, de olho no último feriado do dia 7.

Segundo Frank, a liberação da prefeitura foi responsável por um alívio para os donos das pousadas que ficam no distrito. A maioria registrou prejuízos e teve dificuldades para manter os funcionários.

“A gente amargou um prejuízo de quatro meses, folhas de pagamento, no caso dos arrendatários, os arrendamentos, foi realmente um período bem complicado. Teve, inclusive, pessoas que encerraram suas operações”, revelou.

“Abrimos no dia 1º, começou uma retomada lenta, porém no feriado, ela [pousada] já ocupou a capacidade dela, dentro do protocolo, de 50 %. Foi uma demanda muito grande, o pessoal realmente querendo muito ir a Caraíva”, disse.

Segundo o secretário de turismo de Porto Seguro, Paulo César, Caraíva tem 61 pousadas, com 448 apartamentos e 1.327 leitos. Os estabelecimentos estão autorizados a funcionar com 50% de ocupação.

“Eu estou analisando como uma volta dentro da normalidade, do que a gente fez no município todo, Trancoso, Arraial D’Ajuda e agora Caraíva. Nós estamos controlando para que não haja uma ocupação excessiva, então nós estabelecemos para todo o município um teto de 50% da ocupação, seja de hotéis, pousadas, restaurantes, bares, para poder não criar aglomerações”, disse o secretário.

Tranquilidade na praia de Caraíva — Foto: Arquivo Pessoal

Além das preocupações para cumprir os protocolos, Frank revelou que um novo perfil de turista chegou na cidade. É a pessoa que, por causa da pandemia, trabalha em home office, mas quer aproveitar o tempo livre junto com a natureza.

“A internet não é das melhores, mas é um negócio que estamos trabalhando. Atende bem, ninguém passa perrengue”, concluiu.

Morro de São Paulo – Cairu

Morro de São Paulo é um distrito de Cairu — Foto: Arquivo Pessoal

Em Morro de São Paulo, povoado mais famoso do município de Cairu, no baixo sul da Bahia, os turistas procuram o descanso ao lado das belezas naturais. A região fica localizada na Ilha de Tinharé, no arquipélago que leva o mesmo nome, a 60km ao sul de Salvador.

Uma vila charmosa, com feirinha de artesanato, vários bares e restaurantes, com o melhor da gastronomia local e internacional e que precisou ficar pouco mais de cinco meses sem a principal atividade econômica, o turismo.

Com a necessidade do isolamento social por causa do novo coronavírus, foram publicados decretos no começo de abril, que proibiam a hospedagem de turistas e transporte marítimo na cidade. A volta foi liberada no dia 3 de setembro.

Pousada Via das Pedras, fica em Morro de São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal

Antônio Carlos administra quatro pousadas na região: Vila das Pedras, Vila Amado, Vila dos Grafites e Vila dos Corais. Ele definiu o período de suspensão das atividades como um “pânico”. “Rapaz, foi um pânico, né, sem entrar R$ 1, todas as reservas que a gente tinha, em grande maioria, até pela incerteza e tudo, pediram devolução”, disse o administrador.

Apesar de ter precisado dispensar 40% do quadro de funcionários, que era formada por quase 200 pessoas, ele comemora a lotação da ocupação de 50% (limite permitido pela prefeitura de Cairu) para o próximo feriadão.

“A ocupação está bem, a procura está grande eu já estou lotado aqui na pousada em 50%. Amigos e clientes ligam pedindo lugar. Eu digo que não tenho. Se tivesse 100%, se pudesse vender 100%, eu garanto que no feriado eu venderia tudo tranquilamente”, disse Antônio Carlos.

A secretária de turismo de Cairu, Diana Marques, também acredita em pousadas sem quartos disponíveis no fim de semana. “A expectativa é de 100% de ocupação dentro do protocolo que foram estabelecidos pelo município, que é de 50% de ocupação hoteleira”.

Tempo aberto em Morro de São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal

Com isso, o retorno do tradicional passeio volta às ilhas, o aluguel de casas e o voz e violão nos restaurantes foram autorizados. “É um dos passeios mais famosos do município, que estava suspenso e foi retomado nessa última semana. Os turistas que estiverem aqui nesse final de semana poderá usufruir do famoso passeio, que sai de morro de São Paulo, por volta das 9h30, e volta às 16h, tendo passado por Boipeba e outros lugares da região”, disse Diana Marques.

O protocolo da prefeitura de Cairu, que hoje permite 50% da ocupação, prevê um aumento para 70% na festa de Réveillon, caso os números de casos de Covid-19 continuem baixando. Antônio Carlos afirmou que começou a venda de pacotes e que vai acrescentar os outros 20% em uma lista de espera. “Eu tenho receio de vender 70% e depois tem que devolver. Então, em princípio, eu estou vendendo a 50%, mas vou esperar para ver como vai se comportar”.

Praia do Forte – Mata de São João

Turismo de baleias em Praia do Forte — Foto: Prefeitura de Mata de São João

Um lugar com inúmeras opções de lazer e roteiros de praia, passeios, história, cultura e ecoturismo. Acostumada com a presença de turistas em grande parte do ano, Praia do Forte, que fica na região metropolitana de Salvador, precisou se readaptar para sobreviver durante esses primeiros meses de pandemia.

A maioria das pousadas da localidade, que é conhecida pelos passeios (escunas, lanchas, buggy tour e jeep tour) e parques ambientais (Instituto Baleia Jubarte, Projeto Tamar e Fundação Garcia D’Ávila), ficou cinco meses fechada. A liberação do funcionamento foi dada às vésperas do feriado de 7 de setembro.

Luciana Baldassin é dona da Pousada Rosa dos Ventos, localizada a apenas 50 metros da Vila dos Pescadores e a 150 metros da praia. Ela contou que a suspensão foi um período difícil, mas as expectativas são boas para o próximo feriadão. “Muito difícil, porque nós temos que honrar nossos compromissos e existem cobranças. Funcionando ou não, a gente tem que honrar principalmente a folha de pagamento dos funcionários”, lembrou.

Vista da pousada Rosa dos Ventos — Foto: Arquivo Pessoal

A dona da pousada precisou manter alguns funcionários para o cancelamento de reservas e atendimento à distância. “Ainda tivemos que nos preocupar com a segurança da empresa e com as vendas futuras, porque a gente não poderia deixar de atender o telefone e nem de responder os e-mails”. Por causa da pandemia do novo coronavírus, foi protocolado uma série de ações de prevenção à saúde. Os cafés da manhã, oferecidos pelas pousadas e hotéis, são ofertados de maneira à la carte, ou seja, como estipulado no cardápio.

Segundo Baldassin, a maioria dos turistas que atualmente visitam Praia do Forte moram em cidades nordestinas, como Salvador e Aracaju. “Esse momento onde houve a proibição de ir e vir deixou as pessoas muito estressadas e agora que elas podem sair um pouco, elas estão buscando esses locais, praias, lugares que tenham esse contato aberto, principalmente pela segurança”, concluiu a dona da pousada. (Informações do G1)