Números divulgados nesta última terça-feira (28) pelo IBGE apontam que o desemprego recuou no Brasil, mas a renda do trabalhador é a pior em nove anos. No calor do movimento de fim de ano, o pessoal mal se lembra das cadeiras vazias no auge da pandemia. Nos últimos tempos, para dar conta de tantas clientes, um salão na Zona Oeste do Rio abriu duas novas vagas de trabalho. Isabel foi contratada em agosto, depois de passar oito meses sem emprego.

“Eu chorei. Juro, eu chorei de verdade. Quando ela me falou que estava contratada, meu olho encheu de lágrima”, conta. O desemprego vem caindo no Brasil. No trimestre que terminou em outubro, a taxa ficou em 12,1%, mas quase 13 milhões de pessoas ainda buscam trabalho. O comércio puxou as contratações. As lojas abriram 1,1 milhão vagas. Mas o trabalho informal continua absorvendo a maior parte da mão de obra. Mais da metade das vagas abertas foram sem carteira assinada.

“Quando a gente leva em consideração o fato de que a taxa de desemprego, apesar de estar caindo, ainda está em níveis muito elevados. Isso deixa claro que é uma recuperação, mas é uma recuperação ainda insuficiente para absorver, em empregos de qualidade, todo mundo que está voltando ao mercado de trabalho”, explica Bruno Ottoni, pesquisador do IDados.

O nível de emprego costuma ser um espelho da economia. Afinal, quando mais gente trabalhando, mais crescimento. Só que dessa vez esse espelho não reflete bem a realidade porque, apesar do aquecimento no mercado de trabalho, a renda dos trabalhadores caiu. Uma queda de 4,6% em relação ao trimestre anterior. Queda maior ainda na comparação com o mesmo período de 2020: 11,1%.

O rendimento médio de todos os trabalhadores do país foi R$ 2.449, o menor valor em nove anos. Os números do IBGE combinam com as contas da Karina no fim do mês. “O comentário principal aqui no salão é exatamente esse. É que, hoje em dia, o dinheiro que a gente comprava há uns seis meses, cinco meses atrás, a gente não compra mais agora”, diz Karina Lauro, dona de salão.

Mais empregos e menos dinheiro no bolso de quem trabalha. Especialistas dizem que essa aparente contradição tem duas causas principais: empregos de pior qualidade e a inflação.

“A inflação tem roubado muito da renda das pessoas. A gente tem visto isso se traduzindo na queda do rendimento médio real das pessoas, mas principalmente na massa salarial. Menos dinheiro na mesa, menos atividade econômica. A renda das pessoas em queda indica e aponta uma atividade econômica mais frágil”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora.

O pessoal do salão compensa a queda na renda trabalhando mais. Em vez de fechar às 19h, agora a última cliente sai com o cabelo penteado à meia-noite. “Eu até me sinto privilegiada, porque não é todo mundo que tem essa oportunidade de conseguir abrir mais a carga horária e ter renda melhor. Ou trabalha mais ou a conta não fecha”, afirma Karina. G1