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O desespero dos baianos ao saber da crise do dendê no estado atesta a importância do fruto para a Bahia. Para amenizar a situação e evitar novos períodos de escassez, a Rede Indicação Geográfica para o Azeite da Costa do Dendê, coordenada pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (Igeo/Ufba) e o Instituto Federal Baiano (Ifbaiano) de Valença, elencou uma série de ações emergenciais integradas de desenvolvimento da cadeia produtiva do dendê na Costa do Dendê. O documento, elaborado a partir de uma série de reportagens e conteúdos especiais publicados pelo CORREIO, foi enviado ao vice-governador do estado, João Leão, no último sábado (5).

O relatório traz soluções que englobam diversas áreas e entes públicos. Ao todo são nove eixos prioritários, cada um com ações específicas. São eles: educação e formação profissional; saúde; meio ambiente; turismo; cultura; setor produtivo do dendê; inovação em produtos a partir do dendê; comercialização; eventos e marketing do território/IG. Uma reunião entre a rede e o governo do estado foi marcada para a próxima quinta-feira (10).

“O Governo do Estado, por meio das secretarias de Desenvolvimento Econômico; Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura; e Desenvolvimento Rural, está unindo forças para desenvolver este importante segmento. Recebemos o estudo que a Rede Indicação Geográfica para o Azeite da Costa do Dendê produziu e a ideia é debater as questões técnicas para organizar e impulsionar o setor, seja por meio de um arranjo produtivo local, seja por meio de agroindústrias. Participarão deste encontro também o secretário da Agricultura, Lucas Costa, e do Desenvolvimento Rural, Josias Gomes”, explicou o vice-governador João Leão, gestor da pasta de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia.

Integrante da rede, o professor de geografia econômica e planejamento territorial do Igeo/Ufba, Alcides Caldas, afirma que o plano deve ser entregue às pastas competentes, que irão analisar as propostas de remediação da crise. “Montamos este plano devido à crise do dendê. A ideia é envolver o máximo de agentes para contribuir para o desenvolvimento desta cultura secular do dendê”, indicou.

A cadeia produtiva do dendê sofre com a falta de investimentos, o que dificulta a realização do manejo adequado dos dendezeiros e a manutenção da atividade nas regiões – parte dos produtores optam por deixar o dendê de lado para iniciarem um novo cultivo que gera mais lucros, além disso parte dos jovens também não desejam continuar com a atividade familiar pela falta de retorno econômico.

Modernização
Os produtores esperam que ações focadas no dendê da Bahia sejam capazes de mudar esse cenário. Dentre as indicações, está o incentivo a reforma das estruturas produtivas dos rodões e do azeite de pilão.

“Tem dendê que precisar ter seu sistema de produção modernizado e a tecnologia pode estar a serviço disso. Por exemplo, existe na cultura do dendê problemas em relação ao trabalho e podemos criar um mecanismo para melhorar a atuação do trabalhador”, indicou Caldas.

Outra aplicação da inovação citada no documento é a possibilidade de criação do Laboratório de Qualidade Físico-Química, Sensorial e Microbiológica do Azeite da Costa do Dendê – Bahia, o LAQUALI/DENDÊ, que deverá analisar a qualidade do produto e auxiliar o produtor.

“Enviamos um projeto para a Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para a instituição de um laboratório na Costa do Dendê, o que vai melhorar a pesquisa e pode indicar os problemas na produção do óleo na região. É possível criar normas para a qualidade do produto e ter um agrônomo para ajustar possíveis desvios de qualidade”, explicou o professor.

Na região do Baixo Sul, prevalece o plantio da variedade dura do dendê, que possui uma produtividade bem mais baixa que a Tenera, amplamente utilizada no Pará, responsável por grande parte da produção nacional do fruto. Enquanto o tipo usado na Bahia é capaz de produzir até 5 toneladas do fruto quando bem cuidado, as plantas usadas no estado do Norte conseguem produzir 25 toneladas. Por esse motivo, o coordenador do colegiado de desenvolvimento territorial do Baixo sul e engenheiro agrônomo, Adailton Francisco dos Santos, aponta que existe a necessidade de renovação do plantio e expansão para novas áreas com a utilização do tipo Tenera. A renovação também é incentivada pelo documento que contém as ações emergenciais para a cadeia produtiva.

“A colheita ainda é feita com a peia [um equipamento que permite que os produtores escalem as palmeiras de 20m], e essa área deve ser modernizada. Também é necessário inovar no processamento dos frutos já que temos um azeite com acidez elevada pelo tempo que é levado entre a colheita e o processamento. Não temos uma máquina que permita processar todo o cacho, portanto, temos que esperar os frutos amadurecerem e caírem naturalmente, o que demora dias e a acidez se eleva nesse período”, pontuou o coordenador sobre outros pontos que devem ser melhorados.

O desafio é trazer a inovação sem deixar a tradição de lado. Para Demétrio Souza D’Eça, presidente da cooperativa Coomtrata, que atende agricultores do Recôncavo da Bahia e do Baixo Sul, a preservação da cultura centenária do plantio do dendezeiro deve ser aliada à preocupação com a qualidade de vida e as condições de trabalho dos produtores.

“É uma tradição importantíssima, mas faltou avanço aliado às tecnologias. A maior parte das estruturas usadas pela cadeia produtiva do dendê é antiga pois não há recursos para renovar os equipamentos. Boa parte dos produtores também não usam EPI, não existe um cuidado de todos pela segurança de trabalho”, afirmou.

Turismo
O dendê também pode atrair turistas para a Bahia, aponta o relatório da rede, que incentiva a criação do projeto de Turismo Estradas do Dendê, entre Nazaré e Itacaré. Segundo Caldas, a atividade tem potencial para ser mais uma fonte de renda para os produtores do fruto.

O grupo ainda indica a implementação do Museu Sensorial da Costa do Dendê, Museu de História e Cultura do Dendê e Museu de embarcações artesanais “Mestre Valtinho”, além do apoio a instituições e manifestações culturais já existentes na área.

“O turismo é uma forma de agregar valor ao cultivo. O desenvolvimento do dendê também está vinculado a essa cultura que existe mais de 300 anos e que se expande até a vinculação a imagem simbólica das baianas de acarajé. Sem o azeite, não existe o acarajé”, afirmou o professor.

Em meio à crise, ações que buscam incentivar a produção do dendê são uma esperança para o presidente da cooperativa Coomtrata, que acredita que a falta de apoio é um dos motivos para a escassez vivida atualmente.

“Nunca existiu uma política com direcionamento para a cultura do dendê para alimentação. Em 2006, foi criado o programa Pai Dendê, uma ação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em conjunto com a Petrobras, para recuperar e promover a cultura com foco na produção de biodiesel. Entretanto, o projeto não foi adiante”, contou o presidente da cooperativa.

Crédito
Mesmo com as ações, a cadeia produtiva precisa de recurso para implementar as mudanças necessárias. Uma das necessidades citada pela rede é a liberação de uma linha de crédito para os produtores de dendê.

“É necessário dar sustentabilidade para que o agricultor possa continuar com a plantação de dendê. Sem os recursos, os trabalhadores não conseguem fazer os tratos culturais, manter a plantação. Também existe uma grande evasão rural pois muitos jovens não dão continuidade para a atividade por perceberem que ela não traz uma boa rentabilidade”, disse Demétrio Souza D’Eça.

A falta de manutenção reduz a produtividade, ressalta Santos, que explica que uma área bem tratada pode produzir até 5 toneladas do fruto, enquanto outra sem os tratos culturais produz 1,5 ton.

Para o coordenador do colegiado de desenvolvimento territorial do Baixo Sul, primeiro é necessário apoiar o produtor para que este possa zelar por sua plantação para, então, fazer expandir as áreas de plantações e substituir as palmeiras mais velhas. “É necessário estancar a crise para então evitar novas crises”, completou Santos.

Indicação Geográfica
O azeite da Costa do Dendê pode receber um “selo qualidade” que vai proteger a cadeia produtiva da região, que abrange 23 municípios. A Rede Indicação Geográfica para o Azeite da Costa do Dendê trabalha para transformar a região em uma área de Identificação Geográfica (IG), com a solicitação de registro de propriedade intelectual ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O apoio ao processo é indicado no relatório das ações emergenciais redigido pelo grupo.

A movimentação para o processo se iniciou em 2019 com algumas reuniões da rede com produtores locais. Com a criação da Identificação Geográfica, o dendê desta região da Bahia será identificável e único, se diferenciando do produzido no Pará. Para o professor Alcides Caldas, o título pode ser um atrativo para a região até mesmo para os jovens que não desejam mais atuar na produção do dendê.

“Esse é um conceito que seduz muita gente pois demonstra a qualidade do produto. Essa mensagem traz uma nova forma de enxergar o cultivo. Estamos em contato com os produtores, que é quem se beneficia pela IG, nós estamos fazendo a mediação. Começamos em 2019 a produzir um dossiê para mostrar como o dendê da região adquiriu autoridade”, afirmou o professor ressaltando que a identificação geográfica protege e valoriza o produto.

Dentre os problemas que podem ser amenizados pela criação do Identificação Geográfica está a concorrência com azeite do Pará, que tem um valor mais baixo que o da Costa do Dendê. “Com o IG, será separado o que é produzido pelo Baixo Sul, com os valores culturais da região, e o que é produzido no Pará. Esse processo também pode abrir novos mercados ao valorizar a produção característica da região”, disse Adailton Francisco dos Santos.

CampanhaDepois de meses de aperto em meio a pandemia, 100 baianas de acarajé tiveram um alívio importante. Como resultado da campanha #colecomasbaianasdeacaraje, lançada pelo jornal CORREIO, elas receberam, no dia 20 de agosto, cestas básicas com alimentos e itens de higiene que estavam faltando na mesa de quem tira o sustento do tabuleiro.

Nas cestas, foram inseridos itens de alimentação com arroz, feijão, farinha, sal, óleo, café, macarrão, biscoito, soja e materiais de higiene e limpeza como sabão em pó, água sanitária, pasta de dente, sabonete, detergente e papel higiênico. “As baianas estão passando por momentos terríveis sem poder fazer o que gera renda e mantém elas e suas famílias”, disse Rita Santos, presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Beiju e Similares.

Segundo a Abam, das mais de 2 mil baianas de acarajé de Salvador, cerca de 80% estão paradas. Para continuar doando o valor que você quiser basta depositar a quantia na conta abaixo:

ABAM – Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Beiju  e Similares.
Caixa Econômica Federal
Código Operação: 003
Ag: 4802
Conta corrente: 000056-1
CNPJ: 02561067000120 Correio da Bahia