“O policial já veio puxando a arma. Aí eu levantei e perguntei a ele o motivo da abordagem. Ele dando palavrões, eu botei a mão na cabeça, ele deu um tapa no rosto do meu amigo”, relembra o jovem, que junto com um colega de trabalho foi abordado pela polícia no último sábado (9), no Santo Antônio Além do Carmo.

Os jovens, de 18 e 19 anos, alegam violência por parte dos policiais militares no Centro Histórico de Salvador. Na ocasião, o ator e ex-BBB, Rodrigo França, e a equipe dele de trabalho, integrantes do espetáculo “Contos Negreiros do Brasil”, passavam pelo local e testemunharam o caso.

Rodrigo França que também é filósofo, cientista social e professor denunciou o caso nas redes sociais como uma ação truculenta e covarde. Todos da equipe do ator relataram a situação como um excesso policial e o caso foi parar em uma delegacia de Salvador. Um dos jovens envolvidos na ação, e que preferiu não se identificar, contou que ao ser parado tentou, sem sucesso, um diálogo com os PMs.

“Eu pensei até que eles iam quebrar minha coluna, eles me esticaram demais. Eu perguntei a ele qual é o motivo e perguntei se eu era suspeito de alguma coisa, ele disse que sim. Ele disse para mim que ele era autoridade. Eu falei para ele que ele não era autoridade, que ele era representante da lei e que eles estavam errados em terem feito aquilo com a gente”, relatou.

O outro rapaz abordado, que também não quis se identificar, relembrou o momento da abordagem e disse que todos os indícios mostravam que eles estavam trabalhando, mas os policiais não quiseram acreditar.

“Os policiais estavam nos observando. Parecendo que a gente ia fazer alguma coisa de errado. Eles viram que a gente estava de tinta, trabalhando. Eles passaram o fio no rádio que é para abordar nós. Aí veio abordar, mas abordou com muita violência, xingando, desprezando, falando coisas que não deveriam, que ele sabia que ali era o meu local de trabalho. Eu nem respondi. Eu vim falar depois que meu colega se exaltou”, disse o outro rapaz.

Segundo Rodrigo, ele e a equipe tentaram conversar com os policiais. De repente, um dos PMs alegou desacato a autoridade por parte do jovem e todos foram parar na delegacia. Um dos jovens abordados foi detido e levado para unidade policial na viatura da PM. Rodrigo e a equipe acionaram um advogado, que acompanhou toda a situação na delegacia e ainda permanece no caso.

“Foi feito um Boletim de Ocorrência de desacato a autoridade. Contudo, o relato das testemunhas demonstram que não houve desacato a autoridade e sim abuso de autoridade e isso gerou uma revolta popular em que pessoas compareceram à Central de Prisão e Flagrante para testemunhar o fato da truculência como esse jovens foram tratados”, disse o advogado Marcos Alan Brito.

Integrante do Coletivo de Entidades Negras, Marcos Rezende está mobilizado na defesa dos trabalhadores e diz que a Polícia Militar precisa de qualificação.

“Nós entendemos que a Polícia Militar precisa mudar o tratamento com essas pessoas, qualificar seus profissionais porque, em sua maioria, em que pese também o fato deles atuarem para o estado, eles muita vezes não conseguem perceber que são negros, periféricos, pobres e agem contra os próprios irmãos, contra os seus iguais. Então nós acreditamos que uma das formas de minorar esse tipo de violência é qualificando os profissionais, mas também melhorar a forma em que são tratados, garantindo mais direitos”, opinou Rezende.

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que militares avistaram dois indivíduos que estavam correndo e entraram em uma casa, em atitude suspeita, que não foi detalhada pela polícia.

Os policiais teriam determinado que os indivíduos parassem quando tiveram como resposta a negativa de um deles, inclusive de desacato aos policiais, com palavras de baixo calão e ameaças à vida dos mesmos.

Segundo a PM, populares sem conhecimento do que estava acontecendo, incitaram os indivíduos que estavam sendo abordados, aduzindo que a abordagem era ilegal e o único motivo era por ele ser negro. Dadas as circunstâncias, os envolvidos foram conduzido para a Central de Flagrantes, por terem cometido crime de desacato. G1