Mensagens descobertas pela Operação Faroeste mostram que a ex-chefe do Ministério Público do Estado (MP) Ediene Lousado tinha acesso a inquéritos sigilosos da Procuradoria-Geral da República (PGR) e usava as informações para blindar ou alertar alvos ligados ao esquema de corrupção no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ). Em laudo elaborado por peritos da Polícia Federal nos smartphones apreendidos durante a sexta e sétima fases da Faroeste, deflagradas em 14 de dezembro de 2020, constam imagens de diálogos mantidos pelo WhatsApp em que Ediene revela o compartilhamento de dados sobre investigações secretas, vazados para ela por um informante do Ministério Público Federal que atua na sede da PGR, em Brasília.

De acordo com o laudo da PF, cuja autenticidade foi confirmada pela Satélite, nas mensagens trocadas em setembro de 2017 com a também promotora de Justiça Sara Mandra Moraes Rusciolelli, Ediene admite acesso a informações privilegiadas da PGR e oferece ajuda para descobrir detalhes sobre ações em curso contra a irmã da colega, a desembargadora afastada Sandra Inês, e o filho dela, o advogado Vasco Rusciolelli, ambos investigados pela Faroeste. Segundo o relatório, os diálogos reforçam as suspeitas de que a ex-procuradora-geral de Justiça se valia da influência como chefe do MP para alertar “pessoas do seu círculo de amizades sobre procedimentos que estaria sob a competência daquele órgão (PGR).

Promotora favorecia políticos da base para se manter no cargo

Em outras conversas extraída dos aparelhos apreendidos, Ediene fala abertamente sobre favorecimento de caciques da base aliada ao Palácio de Ondina e autoridades do alto escalão do governo do estado, em ações de interesse do grupo político liderado pelo PT. O que configura crime de advocacia administrativa. Pelo teor das mensagens, as demandas, que incluíam ofensivas jurídicas contra integrantes da oposição e auxílio para proteger líderes do bloco governista, eram atendidas como forma de assegurar apoio para sua recondução ao cargo de procuradora-geral de Justiça. De fato, Ediene foi mantida pelo governador Rui Costa no comando do MP por mais dois anos.

Há mensagens em que Ediene afirma ser vítima de chantagem por desembargadores do TJ, embora não aponte nomes e elementos usados para ameaçá-la, expõe relações próximas entre membros influentes do Palácio de Ondina e suspeitos de desviar verbas na rumorosa compra dos respiradores, e descreve em detalhes manobras empregadas pessoalmente para minar operações do MP contra políticos da base governista, tocadas por promotores que ela considera adversários. Coluna Satélite Correio da Bahia