Foto: Alessandro Dantas

As dificuldades que o PT vem criando nos Estados para a formação de alianças que resultem num cenário de mais tranquilidade para Luís Inácio Lula da Silva na sucessão presidencial provam que o partido não consegue rever seus conceitos nem superar o complexo hegemônico que o norteou até agora, não importa o tamanho da crise porque passou e impôs ao país nem a dimensão dos desafios que tem pela frente. Há casos pipocando nos quatro cantos envolvendo a conhecida intransigência petista, mas a situação na Bahia pode ser pinçada como um exemplo eloquente de que, infelizmente, a legenda não percebeu que tudo mudou e hoje enfrenta um inimigo muito maior.

Agora, por exemplo, a mídia nacional atribui a um impasse criado pelo senador petista pela Bahia Jaques Wagner o travamento de um acordo pelo qual o União Brasil, dono de um fundo eleitoral bilionário, poderia ter fechado apoio a Lula para a Presidência no primeiro turno, assegurando ao ex-presidente uma vitória exatamente nos termos em que ele não apenas deseja, como precisa. Wagner teria se oposto a uma proposta para que o PT baiano retirasse a candidatura de Jerônimo Rodrigues ao governo, uma exigência, também segundo os jornalistas que cobrem a sucessão presidencial de Brasília, de ACM Neto, candidato favorito a governador da Bahia, do União Brasil.

Ao criar o caso, Wagner joga para seu público interno no PT, o mesmo a que se dirigiu depois de ter curiosamente se retirado da disputa, melado um acordo de bastidor pelo qual o governador Rui Costa (PT) renunciaria para disputar o Senado entregando o governo a João Leão, do PP, e imposto uma candidatura da sigla a todo o grupo. O pensamento está longe de contemplar os maiores interesses nacionais de defesa de uma democracia ameaçada, que Lula passou a representar devido à incapacidade de a sociedade entender a necessidade de ter construído uma alternativa para a disputa pela Presidência contra um governo cujo titular só pensa em golpe e reeleição.

Para fazer este cálculo, o senador petista, que deve estar representando um grande número de correligionários em oposição àqueles tantos outros que defendiam ardentemente o acordo com o União Brasil, precisaria fazer uma reflexão interna profunda que o levasse a emergir na cena partidária nacional liderando um magnífico senso de gratidão a Lula. Afinal, como sua candidatura ao governo, em 2006, não era natural, foi graças basicamente ao cacique petista que Wagner conseguiu se eleger governador, inaugurando um novo marco na história política do Estado, que, sempre sob as bênçãos de Lula, perpetuou o PT até hoje no comando da Bahia.

Aliás, ajudar na compreensão de que, diferentemente do que ocorreu no passado, antes do petrolão, de ter sido preso pela Lava Jato, e de ter colaborado indiretamente com a ascensão da extrema-direita ao poder, Lula, que elegeu tanta gente país afora, precisa agora ser ajudado por todos aqueles a quem socorreu com sua popularidade e extraordinária capacidade de transferir votos, deveria ser o papel primordial de Wagner. Assim como de todos os petistas para os quais a defesa do Estado Democrático de Direito é muito mais do que uma figura de retórica a edulcorar o objetivo de tomar de volta o Palácio do Planalto. Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna