Foto: Roberto Stuckert Filho

Sem mandato eletivo, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) observa de longe a conjuntura política do Brasil. Ela apoia, por exemplo, a decisão do PT de votar contra a reforma da Previdência no Congresso Nacional, acredita que a educação é o ponto de união entre diferentes setores da sociedade brasileira e vê o surgimento de novas lideranças da esquerda no país.

Sobre este último item, ela afirma que não voltará a se candidatar nas eleições de 2020 ou 2022. Sua última tentativa foi no pleito do ano passado, quando concorreu a uma vaga ao Senado por Minas Gerais. Com expectativa de ser eleita pelas pesquisas ao longo do processo, Dilma acabou ficando em quarto lugar e não ganhou uma cadeira no Congresso.

“Você leva anos para criar lideranças. Eu e o Lula e outros da minha geração estamos na fase de passar o bastão. Sabe a corrida de bastão? Eu não preciso me candidatar para estar correndo, Lula está correndo também, está na prisão, mas está correndo”, afirma a ex-presidenta em entrevista ao UOL. Como expoentes desse novo movimento ela cita Fernando Haddad e Guilherme Boulos, ambos candidatos à Presidência em 2018 pelo PT e pelo PSOL, respectivamente.

Ao falar em Lula, o portal a questionou se a defesa da libertação do petista não acaba consumindo mais tempo que outras pautas. Críticos ao partido, mesmo aqueles do segmento de esquerda, reclamam que o movimento “Lula Livre” ocupa espaço em manifestações sobre pontos-chave como a reforma da Previdência e o contingenciamento de verbas para a Educação.

Para Dilma, no entanto, a liberdade do ex-presidente “é uma pauta central” por “questões históricas e da conjuntura”. “É no Lula que se expressa o Estado de exceção, os vícios de uma política judiciária que persegue e que cria a “Justiça do inimigo”. A questão de a imprensa ser a quarta instância do Judiciário, que julga, condena e penaliza. E, outra, o motivo popular, social e nacional. É no Lula, representando os governos do PT, que se expressa a luta do Brasil por um outro desenvolvimento não atrelado ao capital internacional”, defende Dilma.

Diante desse contexto, ela acredita que a pauta que une o PT e a oposição nesse momento político é a Educação. Com o novo bloqueio de verbas dessa terça-feira (30), o setor já soma R$ 6,2 bilhões de verbas para despesas discricionárias congeladas pelo governo federal. Em maio, isso foi motivo de protesto nas maiores cidades do país (veja aqui).

Na outra ponta, são diversos os pontos divergentes entre ela e o governo de Jair Bolsonaro (PSL). Além do antipetismo latente, os grupos mantêm diferentes discursos em relação a desmatamento, reforma da Previdência, reforma tributária, educação e áreas sociais. Outro exemplo é análise sobre os crimes cometidos contra a população na ditadura militar. Recentemente, a Comissão de Anistia adiou a análise do pedido de indenização de Dilma por ter sido presa e torturada pelo regime. Agora, a decisão final será da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.

“Só acho muito estranho eles negarem que eu tenha sido torturada como fizeram com a jornalista Miriam Leitão porque o próprio presidente da República, como deputado federal, foi quem disse que o coronel Carlos Brilhante Ustra [ex-chefe do DOI-Codi, acusado de tortura] foi o meu ‘terror’. Suponho que foi o meu ‘terror’ porque me torturou”, lembra a petista.

Na votação do impeachment da ex-presidenta, na Câmara, Bolsonaro dedicou seu voto pela cassação do mandato ao coronel. O processo chegou ao fim em 31 de agosto de 2016 com a votação no Senado. Depois disso, o então presidente interino Michel Temer (MDB) assumiu o posto oficialmente.