O presidente Lula discursou no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Paulo, neste sábado 9/XI, um dia depois de deixar a prisão.

Diante de uma multidão, Lula proferiu um discurso histórico e falou sobre a Operação Lava Jato, o desastre de Bolsonaro na presidência e a luta popular na América Latina.

– lá em cima está o helicóptero da Rede Globo para falar merda outra vez sobre o Lula e sobre nós

– vocês sabem que muitos de vocês não queriam que eu fosse preso em 7 de abril do ano passado. Lembro que precisei persuadir vocês a compreenderem o papel que eu tinha que cumprir. E eu quero repetir hoje o que disse naquele dia: tinha clareza do que queria na vida e de que meus algozes estavam mentindo, então tomei a decisão de ir lá para a Polícia Federal. Poderia ter ido a uma embaixada ou a outro país, mas fui lá. Porque preciso provar que o Moro não era juiz, mas um canalha que estava me julgando. Provar que o Dallagnol não representa o MPF, mas montou uma quadrilha com a força-tarefa da Lava Jato, inclusive para roubar dinheiro da Petrobras e das empreiteiras

– se eu tivesse saído do Brasil, seria tratado como fugitivo. Por isso resolvi ir enfrentar as feras.

– esses dias foram tentar prender a Dilma. Eu recebi às 6h na minha cela dois caras da PF pra me entregar uma intimação. E eu falei: “eu já estou preso, porra”. Quando eles foram às 6h na casa da Dilma, a Rede Globo já estava lá desde as 5h30. É puro show!

– o único medo que eu tenho é de mentir para o povo trabalhador que tanto me fez ser representante dele na história

– durante 580 dias eu me preparei espiritualmente para não ter ódio, não ter sede de vingança, não odiar meus algozes. E por quê? Porque queria provar que, mesmo preso por eles, eu dormia com a minha consciência muito mais tranquila que a consciência deles.

– numa falha no discurso, Bolsonaro chegou a confessar que ele devia as eleições ao Moro. Na verdade, ele deve ao Moro, aos juízes que me julgaram e à campanha de fake news que fizeram contra o Haddad e contra a esquerda

– eu disse que eles iam prender um homem, mas as ideias que construímos coletivamente não poderiam ser presas. Elas iam continuar pairando pelo mundo inteiro

– cá estou eu, livre como um passarinho. Durmo com o sono tranquilo dos justos e honestos. Duvido que o Moro, o Dallagnol e o Bolsonaro durmam com a consciência tranquila. Guedes, destruidor de sonhos, não dorme com a consciência tranquila

– digo a todos eles: estou de volta!

– não quero ódio, nem vingança. Quero construir este país com a mesma alegria com que nós construímos quando o governamos. O meu sonho não é resolver meus problemas. Eu não tenho emprego, não tenho aposentadoria, minha vida está toda bloqueada. Só tenho certeza de que estou com mais coragem para recuperar o orgulho de ser brasileiro! Para que o trabalhador possa ter emprego com carteira assinada e levar o dinheiro para sustentar a família!

– só o que peço pra vocês é o seguinte: vejo todos os companheiros reclamarem de que está difícil levar o povo pra rua. Tem gente que fala que precisa derrubar o Bolsonaro. Esse cidadão foi eleito. Democraticamente, aceitamos o resultado da eleição. Agora, ele foi eleito para governar para o povo brasileiro, não para os milicianos do Rio de Janeiro. Ele não pode fazer investigação do que eles fizeram para matar a Marielle. Não é a gravação do filho dele que vale! Tem que haver uma perícia séria para que a gente saiba quem matou a nossa guerreira Marielle!

– ele tem que explicar onde está o Queiroz! Como ele construiu um patrimônio de 17 casas?

– se você pegar a vida dele, perceberá que, enquanto eu com 13 anos estava na fábrica de parafusos na Vila Carioca cortando ferro numa prensa, ele arrumou um jeito de não trabalhar. Foi fazer o serviço militar. Aí resolveu criar uma confusão quando já estava tenente. Ele se aposentou muito jovem e ainda teve uma promoção.

– esse cidadão que nunca trabalhou, que diz que não é político… ele nunca fez um discurso que prestasse. Só sabia ofender as mulheres, os negros, o povo LGBT, as pessoas mais frágeis da sociedade. Quero saber por que esse cidadão, que se aposentou muito jovem, quis tirar a aposentadoria do trabalhador

– esse projeto econômico do Bolsonaro vai empobrecer ainda mais o povo brasileiro

– não tem outro jeito: lembro que quando levantava às 5h pra ir na porta de fábrica nos anos 1980, muitas vezes pegava o microfone e o povo não parava. Aí eu ficava nervoso. Não tem ninguém que conserte esse país se vocês não quiserem consertar. Não adianta ficar com medo! Não adianta ficar preocupado com as ameaças que eles fazem na televisão – com miliciano, AI-5. Este país é de 210 milhões de habitantes! E a gente não pode permitir que os milicianos acabem com esse país que nós construímos!

– o que nós queremos é que essa gente saiba que esse país é nosso! Eu não posso, aos 74 anos, ver essa gente destruir o país que construímos

– contra a distribuição de armas do Bolsonaro, vamos distribuir livros, empregos, acesso à cultura! Esse é o país que queremos e sabemos construir!

– a taxa de juros está caindo. Mas a taxa que cai é a Selic. Eu quero saber se os juros do cartão de crédito de vocês caíram. E do cheque especial? E das Casas Bahia? Porque é esse juro que toca diretamente no bolso do trabalhador!

– eu estou disposto a voltar a andar por este país. Porque não é possível que a gente veja a cada dia os ricos ficarem mais ricos e os pobres ficarem mais pobres

– só iremos salvar este país se a gente tiver coragem de fazer um pouco mais. Vimos o que está acontecendo no Chile. É o modelo de país que o Guedes quer construir! É por isso que no Chile o povo está na rua! Porque o governo que é eleito não é eleito para destruir, mas para governar

– na Argentina, Alberto e Cristina deram uma surra no Macri e ganharam as eleições! Na Bolívia, o companheiro Evo Morales ganhou o quarto mandato, mas a direita, como aqui, não quer aceitar o resultado. Como fez o Aécio quando a Dilma ganhou. Temos que ser solidários ao povo da Bolívia, da Argentina, do Chile, da Venezuela. É normal que cada um aqui possa ter crítica a qualquer governo do mundo, mas quem decide os problemas do país é o povo. Que Trump resolva o problema dos EUA e não encha o saco dos latino-americanos! Ele não foi eleito para ser xerife do mundo! Eles festejaram a queda do Muro [de Berlim], mas estão construindo um muro contra os pobres!

– quero fazer um pronunciamento ao povo brasileiro dentro de uns 20 dias. Aos 74 anos, eu não tenho o direito de ter ódio no meu coração. Não sabia que iria me apaixonar aos 74 anos.

– a única coisa que me motiva é que nós já provamos que é possível governar para o povo mais necessitado

– o que queremos é que o STF julgue habeas corpus anulando todos os processos contra mim, porque já existem argumentos para provar que Moro é mentiroso, Dallagnol é mentiroso. Não por causa do Intercept, mas pelo que escreveram na minha defesa. Só tem uma explicação: foi para me tirar da disputa eleitoral.

– se a gente tiver juízo e trabalhar direitinho, em 2022 a esquerda vai derrotar a ultra-direita! Esse país não merece um governo que manda os filhos contarem mentiras todos os dias.

Conversa Afiada reproduz, de modo não literal, os principais pontos da fala de Lula: Foto: Crédito: João Pompeu