O olhar angustiado da dona de casa Josefa Maria da Conceição, de 61 anos, deixa transparecer a preocupação com os prejuízos que teve depois de ter a casa invadida pela água do rio do peixe, em Coronel João Sá, após o rompimento da barragem do Quati, na cidade vizinha de Pedro Alexandre (distante 45 km).

No sábado, dois dias depois da inundação, ela e muitos outros moradores ainda retiravam de casa objetos que já não mais serviam, por terem sido danificados pela água.

“Além de ficar preocupada com o prejuízo, tenho que pensar também em como conseguir novamente tudo que perdi. Quando a água chegou, meu filho estava sozinho e não podia fazer nada. A água entrou e perdemos tudo, praticamente”, disse Dona Josefa.

“Só tenho agora um colchão para dormir e também o guarda-roupa, que a gente conseguiu colocar em cima dos sofás. A geladeira ainda nem liguei para saber se está funcionando. Agora, é pegar nas mãos de Deus e tentar recomeçar, reconstruir tudo”, diz a mulher, que mora com o filho, de 37 anos, e dois netos, na praça da Santo Antônio, um dos locais mais afetados por conta da proximidade com o rio.

Casa de Dona Josefa foi uma das cerca de 30 interditadas pela Defesa Civil — Foto: Alan Tiago Alves/G1

Na parede da casa dela, ainda dá pra ver a marca da água, que chegou a cerca de um metro de altura. A casa de Dona Josefa foi uma das cerca de 30 interditadas pela Defesa Civil na cidade por conta do risco de desabamento de outros dois imóveis vizinhos.

“Perdi comida, perdi roupa, foi tudo. Eu tinha acabado de fazer compras. Eles mandaram eu sair de casa pelo risco e vou ter que sair. Não vou arriscar minha vida. Mas vamos agora unir forças para seguir em frente. O mais importante é a vida minha, do meu filho e dos meus netos”, destaca.

Dona Josefa está ficando na casa de uma sobrinha que, por morar em uma parte mais alta da cidade, não teve o imóvel atingido.

Clima na cidade de Coronel João Sá foi tranquilo neste sábado — Foto: Alan Tiago Alves/G1

O clima neste sábado em Coronel João Sá foi bem tranquilo, bem diferente da sexta feira (12), quando houve correria depois que o Corpo de Bombeiros evacuou a parte baixa da cidade, por conta do risco no nível do rio subir novamente. Durante a madrugada, o nível subiu, mas a água não chegou perto de nenhuma casa.

Conforme a Defesa Civil, o aumento do volume de água do rio ocorreu pois, desde a noite de sexta, estava sendo realizado um trabalho de rebaixamento do nível do sangradouro na barragem Boa Sorte, em Coronel João Sá, para evitar o rompimento dessa barragem. Com isso, a água lançada no rio do Peixe fez com que o nível se elevasse.

Na manhã deste sábado, o sol apareceu depois de uma semana seguida chovendo. À tarde, no entanto, a chuva voltou, mas com menor intensidade que nos dias anteriores.

Clima neste sábado em Coronel João Sá foi bem tranquilo — Foto: Alan Tiago Alves/G1

Com a cidade mais tranquila, José Joviniano da Silva, de 58 anos, também aproveitou o dia para fazer um levantamento dos prejuízos causados pela enchente. Ele reside nos fundos de uma oficina mecânica, da qual é proprietário, também na praça Santo Antônio.

Máquinas que estavam na oficina foram atingidas pela água e ele ainda não sabe se foram danificadas. Na casa, móveis também ficaram molhados.

José Joviniano, Coronel João Sá — Foto: Alan Tiago Alves/G1

“Quando eu vi, só veio a onda para cima de mim. Molhou isso aí tudo. O prejuízo foi grande. Nem sei como vou continuar trabalhando aqui na oficina se meus equipamentos quebraram. Aqui, a cidade já é ruim de serviço, agora piorou”, destaca.

Ele também conta que perdeu 20 galinhas e oito galos que criava no quintal de casa. Só sobraram dois galos.

“Deu muita dó ver os bichinhos morrendo e não poder fazer nada”, lamenta.

O vizinho, Manoel Reis de Oliveira, 56 anos, ainda estava com móveis erguidos neste sábado, com medo da água voltar de novo. Afirma só ter conseguido “salvar” a geladeira.

Manoel Reis, Coronel João Sá — Foto: Itana Alencar/G1

“Ficou tudo molhado. O colchão se eu apertar sai água, o sofá todo ensopado. Só das coisas que estavam no quarto tive prejuízo de R$ 5 mil. Também perdi uma máquina na oficina em que trabalho que custa mais de R$ 10 mil, porque não quer ligar mais. Aqui, não tenho condição de dormir. Tive que ir pra casa da minha sogra. Vim hoje aqui só para ver como está a situação. Uma situação bem complicada”, afirma.

De acordo com a prefeitura da cidade, 10 ruas do centro, as da parte baixa, foram atingidas pela água. Cerca de 30 casas foram interditadas por risco estrutural, informou a prefeitura.

Os desalojados, cerca de 150 famílias, foram para casa de parentes ou estão abrigados em escolas da cidade – quatro foram disponibilizadas para receber as pessoas. G1

Três salas do prédio onde funciona o Centro de Referência de Assistência Social foram separadas para abrigar doações — Foto: Alan Tiago Alves/G1

Fotos: Alan Tiago Alves/G1