Passado o “alvoroço” em torno da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), afirmou que o desfecho do julgamento não impactaria no pleito de 2018. Até os fios de cabelo dele sabem que não é o caso.

 

Sim, a simples dúvida sobre as condições de elegibilidade do ex-presidente, baseada na Lei da Ficha Limpa, já é suficiente para que a condenação crie reflexos nas eleições baianas do próximo mês de outubro. E ACM Neto é, talvez, o maior beneficiário da terra do Axé com o eventual impedimento de Lula.

 

Tal condição vai desde a formação de alianças políticas, a exemplo do PR e do PP, que podem mudar de lado a partir das negociações no plano federal, até a ausência de um importante cabo eleitoral para Rui Costa (PT), na tentativa de reeleição do governador. O prefeito de Salvador, que ainda não é candidato, pode assistir a uma debandada de aliados de Rui como efeito dominó da saída de Lula das urnas nas eleições.

 

Isso sem levar em consideração a possível – mas improvável – prisão do ex-presidente antes de outubro. Por enquanto, o PP começa a flertar com Rodrigo Maia (DEM) como potencial candidato à presidência da República e o PR, como não é novidade, é adesista àquele projeto que melhor permitir o fisiologismo típico dos partidos de centro no Brasil.

 

Caso Rui perca qualquer uma das duas siglas, o governador continua forte politicamente, porém mais desgastado pelo esforço para evitar a saída dessas legendas da base aliada. Como esse período é repleto de “ses”, a possibilidade de Rodrigo Maia conseguir angariar o apoio do PP no plano federal seria um importante catalizador em torno de ACM Neto, pois criaria um palanque – ainda que frágil – para o prefeito subir na Bahia.

 

Seria um cenário bom para o gestor soteropolitano. Por isso o prefeito foi comedido ao comentar a condenação de Lula. Não precisava trazer para si uma “celebração” dos bons ventos que o impedimento de Lula podem trazer para a virtual candidatura dele ao governo.

 

Já Rui, que tratou o julgamento de quarta-feira (24) como um “golpe contra a democracia”, ganhou razões a mais para se preocupar com a campanha eleitoral de 2018, especialmente se as urnas não tiverem mais Lula nelas. Este texto é parte do comentário desta sexta-feira (26) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM e Clube FM.