A mãe de Marielle Franco, Marinete Silva, diz que após a prisão dos suspeitos de matarem a vereadora nesta terça-feira (12), aguarda que os mandantes do crime sejam identificados.

“A dois dias de completar um ano da morte da minha filha é um alívio saber que a polícia prendeu os suspeitos. Hoje, tenho certeza de que estamos no caminho certo. Já era tempo de termos uma resposta, mas ainda é preciso saber quem mandou matar. A resposta para esse crime está incompleta”, disse, em entrevista ao G1.

Em entrevista à rádio CBN, a irmã de Marielle, Anielle Franco, disse que espera que o país pare de passar “vergonha”: “Tomara que, a partir de hoje, a gente consiga respirar e o Brasil pare de passar essa vergonha sem responder durante um ano um crime contra uma mulher que foi democraticamente eleita”.

A viúva de Marielle, a arquiteta Mônica Benício também cobrou que o mandante seja identificado. “Ainda falta a resposta mais urgente e necessária de todas: quem mandou matar Marielle. Espero não ter que aguardar mais um ano para saber quem foi o mandante disso tudo. Essa resposta e a condenação final de todos os envolvidos o Estado deve a todas e todos que sofrem com a perda de Marielle e à própria democracia”, afirmou em entrevista ao jornal O Globo.

No Twitter, o deputado federal Marcelo Freixo (PSol), que trabalhou com a vereadora e também era amigo dela, comentou sobre a prisão dos suspeitos. “O assassinato de uma vereadora é um crime político. Por isso é fundamental sabermos qual grupo político é capaz de, em pleno século XXI, mandar elimar uma autoridade pública que tenha cruzado seu caminho. Precisamos descobrir quem são os mandantes da execução de Marielle Franco”, escreveu.

A assessora de Marielle Fernanda Chaves, que estava no carro junto com a vereadora no dia em que ela foi morta, afirmou que a prisão do PM reformado Ronie Lessa e do ex-PM Elcio Queiroz, acusados do crime, é um “passo importante para a investigação”, mas lembrou que o mais importante é chegar nos mandantes da execução.

“Não é fácil acordar e me deparar com as figuras acusadas de metralhar o carro em que eu estava, responsáveis por acabar com as vidas de Marielle e Anderson”, afirmou, emocionada. “Mas as notícias dão conta da apreensão de material e equipamento, o que pode ser essencial para chegar nos mandantes. Essa é a mais importante das respostas, quem mandou matar Marielle. A gente segue aguardando. O mundo inteiro quer saber quem mandou e quais foram as motivações.”

A Anistia Internacional divulgou uma nota sobre as prisões dos policiais envolvidos no assassinato da vereadora, ocorrido no dia 14 de março do ano passado. “Essas pessoas devem ser levadas à Justiça para que, em um julgamento que respeite o devido processo, a eventual responsabilidade criminal seja determinada”, diz a nota.

“Agora, mais do que nunca, a Anistia Internacional reitera a necessidade de, como já foi feito em outros países, um grupo externo e independente de especialistas para acompanhar as investigações e o processo. A organização reitera que ainda há muitas perguntas não respondidas e que as investigações devem continuar até que os autores e os mandantes do assassinato sejam levados à justiça.”

Em entrevista à Rádio Eldorado, o ex-deputado federal Chico Alencar, membro da executiva nacional do PSOL, disse nesta terça-feira que o assassinato da vereadora Marielle Franco foi sem dúvida um crime político e dirigido. “(O assassinato) tinha uma clara destinação contra alguém dedicada e de contestação ao racismo, às milícias, aos grupos paramilitares, ao controle territorial ilegítimo, a LGTfobia”, afirmou.

“Nós estamos a dois dias de completar um ano dessa execução, da vereadora Marielle e de Anderson Gomes. Essa notícia (da prisão de dois suspeitos), embora num contexto de uma tremenda tragédia, ela é positiva. Vamos ver se chegamos aos mandantes desse abominável crime. Agora, o que tudo indica, foram eles mesmos que cometeram o crime, foram os executores. Não há executor sem mandante, sem uma cadeia de organização criminosa”, avaliou Alencar.

O vereador Tarcísio Motta (PSOL/RJ), colega de bancada de Marielle Franco, disse que as prisões realizadas na manhã desta terça são um passo importante na resolução do crime, mas que ainda falta esclarecer quem foi o mandante.

“Me parece óbvio que um crime dessa envergadura não foi cometido por razões pessoais desses PMs”, afirmou o vereador. “É fundamental chegarmos aos mandantes desse crime político.”

Deputada federal pelo Rio de Janeiro, Talíria Petrone (PSOL) também usou o Twitter para pedir esclarecimentos sobre quem mandou matar a vereadora.

Prisões
A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro prenderam dois policiais militares suspeitos de terem participado dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes. As prisões aconteceram na manhã desta terça-feira (12), no Rio de Janeiro. Os crimes completam 1 ano na próxima quinta-feira (14).

De acordo com informações da TV Globo, o sargento aposentado Ronnie Lessa, 48 anos, é apontado como o homem que atirou contra a vereadora. Os disparos também atigiram o motorista Anderson Gomes.

O ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, 46, teria dirigido o carro que levava Ronnie. Ainda segundo a TV Globo, Ronnie estaria no banco de trás do Cobalt e teria feito os disparos.

A investigação da polícia aponta que Ronnie fazia pesquisas sobre a rotina de Marielle Franco desde outubro de 2017. Ele também pesquisava sobre o deputado Marcelo Freixo (PSol).

Ronnie também teria pesquisado sobre o interventor militar que estava atuando no Rio de Janeiro, o general Braga Neto. O sargento Lessa foi preso em casa. Ele mora no mesmo condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro tem uma casa, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.

O MP informou que o crime foi planejado de forma meticulosa durante os três meses que antecederam os assassinatos. (Estadão Conteúdo)