Foto: Max Haack / Secom

Pré-candidato a governador da Bahia, ACM Neto (União Brasil) não acredita que haja espaço para uma terceira via na eleição estadual. Para ele, o pleito será uma disputa entre ele e o candidato da situação, Jerônimo Rodrigues (PT). “É uma eleição totalmente plebiscitária. Eu tenho uma pesquisa interna, que eu fechei essa semana, que mostra claramente. Hoje, a gente, graças a Deus, em uma posição muito a frente, muito vantajosa. Imagino que o pré-candidato do PT ainda tem algum espaço de crescimento, natural. Tem a máquina, né, tem a história do PT na Bahia, mas não vejo o espaço para qualquer alternativa”, disse ACM Neto, em entrevista à Tribuna.

O ex-prefeito de Salvador afirmou ainda que o candidato bolsonarista João Roma (PL) ao governo da Bahia deve ser votado por um nicho apenas. Neto negou que atue para retirar a candidatura de João Roma. “A candidatura de João Roma pertence a um nicho, na minha visão, bastante limitado do espectro político. Mas ela é legítima e deve ser respeitada. E, da minha parte, jamais houve nem haverá qualquer desejo de retirar a candidatura dele, até porque eu não tenho nenhum entendimento nem com o PL nem com as forças que ele representa”, declarou.

Ainda na entrevista, ACM Neto fala sobre a definição do seu candidato a vice-governador, da participação em debates eleitorais, e faz uma análise do cenário nacional. O ex-prefeito não descartou a possibilidade de apoiar Lula (PT) em um eventual segundo turno entre o ex-presidente e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL). “Eu não descarto nada agora. Não descarto nenhuma hipótese”, disse ele.

Tribuna – O senhor acha que a eleição na Bahia será plebiscitária?

ACM Neto – Ah, eu acho que já está. Claro que é, né? Nunca duvidei disso. É uma eleição totalmente plebiscitária. Eu tenho uma pesquisa interna, que eu fechei essa semana, que mostra claramente. Hoje, a gente, graças a Deus, em uma posição muito a frente, muito vantajosa. Imagino que o pré-candidato do PT ainda tem algum espaço de crescimento, natural. Tem a máquina, né, tem a história do PT na Bahia, mas não vejo o espaço para qualquer alternativa. Então, está claro, e até pela polarização dos debates, das declarações, eu não tenho dúvida que é uma eleição de dois lados.

Tribuna – O deputado federal Elmar Nascimento, do União Brasil, declarou que era melhor o ex-ministro João Roma retirar a candidatura ao governo da Bahia. Disse ele que até conversou com o governo federal. O senhor acha que Roma tira votos seus?

ACM Neto – Eu não concordo com a declaração do deputado Elmar, com todo carinho e amizade que temos. E com o respeito que eu tenho a ele. Ele é líder do meu partido e tem o direito de dizer o que ele pensa. Mas, eu em nenhum momento articulei, trabalhei para retirar a candidatura do deputado João Roma. O deputado, tendo o título eleitoral aqui na Bahia, e tendo o partido que tem, obviamente tem o direito de ser candidato a governador do Estado. E eu nunca guiei o meu caminho pelo que os meus adversários fazem ou deixam de fazer, e sim pela minha estratégia e pela minha visão. Então, a candidatura de João Roma pertence a um nicho, na minha visão, bastante limitado do espectro político. Mas ela é legítima e deve ser respeitada. E, da minha parte, jamais houve nem haverá qualquer desejo de retirar a candidatura dele, até porque eu não tenho nenhum entendimento nem com o PL nem com as forças que ele representa.

Tribuna – O governador Rui Costa disse que o senhor pediu ao PT a retirada da candidatura de Jerônimo Rodrigues ao governo da Bahia. Em troca, o União Brasil desistiria da candidatura de Luciano Bivar à Presidência, segundo a imprensa nacional. Rui disse que o senhor está “desesperado” com medo de perder. Como viu essa fala do governador?

ACM Neto – Quero que o governador diga quem pediu a quem. Esse tipo de especulação é bem próprio de quem quer criar factoides para dar holofote a quem não tem.

Tribuna – Como o senhor viu os últimos episódios da Câmara de Salvador? O presidente da Casa, Geraldo Júnior (MDB), foi acusado pelo prefeito Bruno Reis, de inserir um artigo no projeto de lei que tratava do reajuste dos servidores. Segundo Bruno Reis, esse “jabuti” custaria R$ 300 milhões aos cofres públicos.

ACM Neto – Um absurdo. Acho que Bruno já respondeu à altura. A Câmara de Vereadores Salvador é uma casa respeitada. Tem vereadores respeitadíssimos, e não é a vontade de uma pessoa que vai se sobrepor ou superar a posição do colegiado, a posição majoritária. A cidade tem que ficar muito atenta para não aceitar nenhum tipo de manobra, nenhum tipo de jabuti que possa aparecer e são vários. Não é o primeiro, e pode não ser o último, jabutis que podem aparecer em projetos, temas que não foram discutidos, não foram debatidos, não acordados e não foram validados pela maioria dos vereadores. Agora, o prefeito Bruno já se posicionou e eu fico com a posição do prefeito.

Tribuna – Há dificuldade do pré-candidato ao Senado, Cacá Leão, em subir nas pesquisas? Em algumas sondagens de opinião, ele aparece atrás da pré-candidata bolsonarista Raissa Soares.

ACM Neto – Não é preocupação dele agora. As pessoas não estão ligadas ainda na eleição de Senado. Se você for ver o líder das pesquisas no Senado (Otto Alencar), não passa em geral de trinta pontos. Normalmente, a pesquisa que ele tem mais, ele tem trinta pontos. Número de indecisos para o Senado é altíssimo. Esse número é muito pequeno para presidente. É pequeno para governador, e é altíssimo para senador. Então, as pessoas não estão ligadas ainda na eleição do Senado. A mensagem que a gente vem levando é de posicionamento político de Cacá. Ou seja, a gente se elegendo para o governo, eu vou precisar ter um aliado e um parceiro lá em Brasília ajudando o nosso governo. E eu não tenho dúvida que Cacá vai crescer na hora certa, muito perto da eleição. A gente conversa sempre. A expectativa nossa é de virada de Cacá talvez ali na reta final, da última semana.

Tribuna – Quando sai a definição do candidato a vice-governador?

ACM Neto – Olha, nesses próximos dias, como todos já sabem, e não é novidade da forma de eu conduzir as coisas. Normalmente essa definição de vice acontece bem perto da convenção. Nossa convenção é dia 5 de agosto, o último dia previsto na legislação para a confirmação das candidaturas. Então, é muito provável que essa definição aconteça bem perto do prazo, senão no próprio dia da convenção.

Tribuna – O anúncio pode ser no dia da convenção? Alguns aliados falam que o senhor não queria dividir atenção pública, com a convenção e o anúncio do vice no mesmo dia.

ACM Neto – Isso não me preocupa, porque na verdade, se for no dia da convenção, vai ser mais um fato na convenção. Vai ser mais uma informação e uma notícia produzida pela convenção. Isso não me preocupa. Agora, também não está descartado ser antes, mas, se eu precisar em função das acomodações nas políticas usar todo o tempo, eu usarei.

Tribuna – Há risco de rompimento no grupo político por causa da escolha do candidato a vice?

ACM Neto – Eu espero que não. Não sei, não sou presidente dos outros partidos, não posso falar por ninguém, exceto pelo União Brasil. Alguns partidos, eu sei que não estão nessa briga, e que vão conosco incondicionalmente. Mas eu vou procurar conduzir da melhor forma para tentar evitar qualquer perda nessa escolha da vice.

Tribuna – No início de agosto, começam os debates eleitorais. O senhor pretende participar de todos?

ACM Neto – Depende. Na verdade, eu pedi à minha assessoria que fizesse um levantamento de todos os debates que estão previstos. O ideal até porque a campanha é curta… são 45 dias. Eu estou com agenda de louco. A minha ideia é nos meses de agosto e setembro percorrer pelo menos 150 municípios da Bahia. Então, o ideal é que a gente pudesse ter, por exemplo, talvez, dois pools. Dois grandes debates em pool com as emissoras todas, com os blogs, as rádios. Uma coisa, inclusive, que nunca aconteceu na Bahia. Não vai dar para fazer debate todo dia. Impossível. Então, a priori a minha disposição é participar, mas não sei se de todos. Isso vai ter que ser conciliado com a minha agenda. Se fossem duas datas, onde todos pudessem se juntar, aí era bem mais fácil porque a gente deixava previamente organizado, e nenhum dos pré-candidatos marcariam nada nesses dois dias.

Tribuna – Houve uma morte de um militante petista no Paraná por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Diversos políticos se manifestaram, mas o senhor não. Como o senhor viu esse episódio? E por que o senhor não se manifestou?

ACM Neto – É porque simplesmente a imprensa não me questionou, não me perguntou. Somente por isso. Às vezes, as pessoas criam coisas onde não existe. Se tem alguém que sempre se manifesta contra os extremos, contra as agressões, contra a violência, sou eu. Até porque já fui também vítima de violência. Está certo? Então, todo mundo sabe o meu espírito absolutamente democrático, meu repúdio a esse tipo de coisa, lamento profundamente o que ocorreu. Agora, também não sou de ficar tirando proveito político, querendo aparecer a qualquer custo. Quem me conhece já sabe isso.

Tribuna – O senhor também não se posicionou sobre o episódio em que o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com embaixadores, e criticou o sistema político e eleitoral brasileiro. Eu te questionei sobre esse episódio.

ACM Neto – Desculpa, eu não vi a sua pergunta. Realmente, você deve ter me perguntado por WhatsApp. Nem sempre eu consigo ver o WhatsApp. Muitas vezes, respondo, mas dessa vez eu não vi.

Tribuna – Mas como o senhor viu esse episódio? Há risco, de fato, à democracia brasileira.

ACM Neto – Eu não levo isso a sério. Acho que é uma cortina de fumaça. Não levo esse tipo de coisa a sério. Eu acho que não tem risco nenhum de ruptura institucional, de desrespeito à decisão eleitoral. Primeiro que as Forças Armadas jamais darão respaldo a isso, o Congresso jamais dará respaldo a isso, o Judiciário, a imprensa, nós cidadãos. Então, a gente já viu esse tipo de coisa várias vezes nos últimos anos e deu em quê? Em nada.

Tribuna – É verdade que o senhor pretende em um eventual segundo turno apoiar o Lula, se houver a disputa entre o ex-presidente e o atual presidente Jair Bolsonaro?

ACM Neto – Não tenho o porquê de pensar nisso agora. Eu tenho que deixar as coisas acontecerem no tempo certo. Vamos ver o que vai acontecer na Bahia até o final do primeiro turno, qual vai ser o resultado aqui e qual vai ser o resultado nacional. Na hora certa, né? Se for necessário, eu vou me posicionar. Tribuna da Bahia